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Malba Tahan: A Ficção Como Metodologia de Ensino

Por:   •  18/1/2018  •  5.641 Palavras (23 Páginas)  •  363 Visualizações

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Consequentemente tem ela, e por definição, a imposição de conteúdos, que serão comparados, quanto ao aproveitamento, a alguma base avaliativa predeterminada; assim, nenhum valor é dado, nesta avaliação, à efetiva evolução do sujeito avaliado, mas, sim e unicamente, à ultrapassagem da nota de corte previamente determinada, que é universalmente imposta ao grupo analisado.

Até por isto, a estrutura de discussão e formatação do currículo como ferramenta norteadora do processo de ensino e aprendizado, parece instituir a fragmentação do conhecimento, aprisionando cada matéria, conforme já acima mencionado, em limites pré-determinados, e tornando-as incomunicáveis com as outras, mesmo que correlatas e filhas do mesmo campo de conhecimento.

Isto traz, ao discente, certa visão completamente esfacelada do item analisado, que será visto apenas pelo ângulo da matéria a cada momento apresentada, o que lhe impossibilita maior compreensão de mundo, de sociedade e da problemática estudada.

Porém, não é fácil a construção de qualquer currículo informal na escola formal, até pelas dificuldades daí advindas ao processo de controle, acompanhamento e efetivação: até por extraído das páginas da realidade do aluno, há que se atentar que nem todos os grupos de estudantes são homogêneos, o que implicará, neste modelo, na escolha política da abordagem dada a cada assunto, promovendo inclusões, exclusões, preferências e recusas que, ao final, podem causar mais mal do que bem ao grupo aprendiz.

Mas, parece preciso dissolver as barreiras entre as disciplinas, buscando-se visão mais multidisciplinar do saber, mas “que respeite a verdade e a relatividade de cada disciplina, tendo em vista um conhecer melhor” segundo aponta Fazenda, citado por Fernando Cardona em seu Transdisciplinaridade, Interdisciplinaridade e Multidisciplinaridade[1].

Para além, o currículo subdivide o conteúdo em matérias estanques, de tal forma que, para o aprendiz, não é possível, exceto em raros casos excepcionais, unir os ensinamentos de qualquer matéria àqueles de qualquer outra, mesmo quando é o mesmo o assunto tratado.

Em outras e mais diretas palavras: cada matéria é prisioneira incomunicável de seus próprios limites, que não são seus, mas, antes, são externamente determinados.

Porém, nos dias atuais, os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais vêm abordando esta dificuldade, que procura tratar de forma sadia; para tanto, aponta algumas soluções que, infelizmente e via de regra, mal ultrapassam o pedaço de papel em que estão escritas.

Isto porque a grande dificuldade parece encontrar-se na articulação entre as diferentes ciências, já que cada qual possui linguagem própria e conceitos particulares, que precisam ser traduzidos entre as linguagens.

Então, resta a insegurança: que caminho tomar? Que rumo adotar? Que método assumir? Quais os remédios?

A transversalidade, a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade, seguramente, estão entre eles, posto que são modos de trabalhar o conhecimento integradamente, já não mais particionado e desvinculado como, em geral, acontece nos dias atuais.

Este o tema deste capítulo inicial.

1.1 Transversalidade

Segundo ensina Amélia Hamze em O princípio da interdisciplinaridade e transversalidade [2], a “transversalidade diz respeito à possibilidade” de se instituir, na prática educativa, “uma analogia entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade)”, o que, por sinal, está na base dos ensinamentos de Piaget e Paulo Freire.

Assim sendo, e considerando a transversalidade, a escola deve possuir visão ampliada, desfragmentando o conhecimento e se apossando da cultura de forma interdisciplinar, posto que, voltando a Freire, somente assim o aprendiz aprenderá a “ler o mundo”, desenvolvendo visão ampla e crítica sobre a sociedade que o cerca.

Portanto, a transversalidade deve orientar-se pelos processos de vivência comunitária e social, que é onde alunos e educadores materializam seu dia-a-dia.

Ensina ainda Amélia Hamze: os “objetivos e conteúdos dos temas transversais devem estar inseridos em diferentes cenários de cada uma das disciplinas”, posto que ela só tem significado “dentro de uma compreensão interdisciplinar do conhecimento, sendo uma proposta didática que possibilita o tratamento de conteúdos de forma integrada em todas as áreas do conhecimento”.

É verdade que a transversalidade já fazia parte dos ideais pedagógicos do início do século; mas mal ultrapassou os limites da teoria; atualmente, ressurge ela como princípio inovador nos sistemas de ensino de vários países, dentre os quais, o Brasil.

A lei 10639/03, sucedida pela 10645/08, por exemplo, é enfática em recomendar a transversalidade como forma de aplicação do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nos níveis médio e fundamental, considerando-a a forma adequada para a disseminação destas matérias, até então ausentes do currículo escolar.

1.2 Interdisciplinaridade

Já a interdisciplinaridade, é procedimento que recomenda a abordagem do mesmo tema em matérias que, embora diversas, são pertinentes; já Piaget, segundo aponta Hamze, sustentava que “a interdisciplinaridade seria uma forma de se chegar à transdisciplinaridade, etapa que não ficaria na interação e reciprocidade entre as ciências, mas alcançaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre as disciplinas”.

É também neste sentido que Bochniak , segundo aponta Fernando Cardona em seu artigo já citado, afirma que a “interdisciplinaridade é a forma correta de se superar a fragmentação do saber instituída no currículo formal”.

Isto porque ela, segundo a mesma fonte, faz com que ocorram interações recíprocas entre as disciplinas e, ao gerar a troca de dados, resultados, informações e métodos, supera a justaposição das disciplinas, o que transforma o aprendizado em "processo de coparticipação, reciprocidade, mutualidade, diálogo”, caracterizando o envolvimento de todos os envolvidos no processo educativo.

Ressalte-se que os temas ditos transversais, dentre os quais o ensino das africanidades, já acima abordado, são campos férteis para a interdisciplinaridade pois, ao usar a criatividade de maneira a preservar os conteúdos programáticos, é possível vincular

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