Globalização e interdisciplinaridade: o Currículo Integrado (Jurjo Torres Santomé)
Por: Juliana2017 • 22/4/2018 • 2.051 Palavras (9 Páginas) • 440 Visualizações
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seus métodos quando a imprensa se desenvolveu. O surgimento dos livros-texto ocorreu de modo simultâneo à difusão dos catecismos: e educação era vista como modo de evangelização e de cristianização e, de forma alguma, como modo de emancipar o homem.
Segundo o texto, outro movimento proeminente na história da utilização dos livros-texto foi o enciclopedista, que objetivava compilar em um só livro tudo o que era necessário para fazer uma pessoa deixar de ser analfabeta. Estes sofreram duras críticas, ao serem considerados medíocres insossos e atrasados, apresentando uma imensa pobreza de conteúdo. Somente com a Revolução Francesa, um marco na história dos livros-texto, que se passou a aceitar apenas os escritos de pessoas sábias, com elevado conhecimento em uma ciência. Aqui nós temos o embrião do livro utilizado até hoje nas salas de aula, cuja finalidade é essencialmente educativa.
Santomé elenca, considerando o elemento histórico, dois fatores que diferenciam os livros-texto dos livros comuns: o direcionamento aos alunos e alunas e a finalidade de ser utilizado em escolas. Contudo, acrescenta um terceiro elemento que permeia as práticas adotadas atualmente: o direcionamento aos professores, que possuem poder de decidir qual livro será utilizado ou não. Contudo, um livro-texto não chega ao professor sem antes ter o aval do Ministério da Educação, que verifica se o material atende aos requisitos para formar uma “pessoa educada”, ou seja, a definição institucional de “cultura”. Essa não é uma realidade apenas do Brasil: assim que esse recurso surgiu nas instituições escolares, os governos passaram a realizar um controle dos mesmos. Ele se torna um reprodutor de ideologia do governo, disseminando e legitimando determinada visão de sociedade, história e cultura. Um exemplo disso é a Alemanha nazista em que os livros-texto pregavam o antissemitismo, ajudando a fortalecer o regime de Hitler.
Assim, os livros-texto reproduzem o “capital cultural” dos grupos dominantes nesta sociedade de classes. Isso é agravado pelo fato de muitos docentes considerarem os livros-texto como verdades absolutas, restringindo seu trabalho pedagógico apenas a utilização destes. Outro detalhe é que, como quase tudo neste mundo capitalista, os livros-texto são considerados mercadorias e a demanda de mercado influencia fortemente como serão editados os livros-texto: muitas vezes apenas altera-se o layout, a capa, o título e o livro é dado como um material novíssimo. Outras estratégias são a criação de espaços para que o aluno escreva no próprio livro-texto, inviabilizando sua utilização no ano seguinte, ou a elaboração de guias trimestrais, materiais de apoio que também angariem mais vendas.
Desta forma, assim como o ato educativo, que não é neutro, o livro-texto possui caráter político, como já dito, reafirmando determinada ideologia. Assim, existem diversos tipos de livros-texto, muitos com caráter sexista, racista, militar, religioso – cada qual enfatizando um determinado grupo social. Santomé acredita que tal bagagem ideológica não é absorvida de maneira pacífica pelos alunos, já que estes podem rejeitar, criticar ou ignorar o que o manual traz, com base na experiência que já possuem.
Santomé também constata que os livros-textos não promovem experiências interdisciplinares e globalizadoras, não estabelecem relação com o modo de vida dos alunos, limitam as iniciativas estudantis, desrespeitam os conhecimentos prévios dos alunos, suas expectativas, ritmos de aprendizagem. Isso porque separam as disciplinas de modo que pareçam sem inter-relações. Esse é o ponto chave deste capítulo, que nos pôs a refletir sobre o cotidiano da prática educativa: quantas vezes nós educadores tomamos os escritos dos livros-texto como verdades universais? Penso que muitas vezes não se resume a falta de vontade do professor, mas à segurança que este material proporciona para sua prática. Vemos que a maior parte dos projetos desenvolvidos são embasados em livros-texto, assim como as pesquisas que são solicitadas aos alunos: verdadeiros limitantes de fontes de informação e de embasamento à criticidade dos estudantes.
No sexto e último capítulo que consideramos para a realização deste trabalho, Santomé discorre sobre a organização de projetos na escola. Inicialmente, cita o método de projetos, criado em 1918 por Willian H. Kilpatrick.O objetivo do projeto a partir deste autor é melhorar a qualidade de vida e de aprendizagem das pessoas. Em seus estudos, ele traduz a filosofia de J. Dewey sobre a escola ativa. Para elaborá-lo, precisa primeiramente decidir o propósito do projeto, realizar um plano de atividade, executar o planejado e, por fim, julgar os resultados.
Santomé elenca que só se pode fazer um projeto quando há interesse dos alunos no assunto desenvolvido. Estes podem propor sugestões de temas, porém, o professor precisa ser crítico, pois nem sempre o que os alunos querem estudar é rico em conteúdo apesar de prazeroso. Os projetos, segundo Santomé baseado em Pring, precisam ser embasados na interação: entre diferentes disciplinas, tema, tópicos ou ideias, com a vida prática e temas relevantes aos estudantes.
Construir projetos didáticos requer uma série de conhecimentos que nem sempre os professores possuem. Por isso, o autor considera mais realista que se comece a planejar a partir de unidades didáticas integradas. Essa modalidade do planejar abrange um certo número de disciplinas durante um curto espaço de tempo. Para elaborar uma unidade didática integrada, é necessário inicialmente fazer um diagnóstico sobre o interesse dos alunos: o que gostariam de aprender sobre determinado conteúdo e etc. Em sequência, é fundamental estabelecer metas de aprendizagem para os alunos, ou seja, delimitar objetivos a serem conquistados até o final da execução da mesma. Depois, faz-se necessário realizar um diagnóstico sobre os conhecimentos prévios já apropriados pelos alunos.
A execução de uma unidade didática integrada de sucesso precisa ser interessante tanto para professor como para estudantes, como frisado anteriormente. Por isso, a seleção do tópico de pesquisa merece muita atenção. O autor sugere que seja criado o que chama de “matriz de conteúdos”, como forma de reconhecer as dificuldades que se apresentam ao se trabalhar em uma unidade didática diferentes tópicos, ou temas. Nesse aspecto, o professor precisa ser bastante cuidadoso, para não forçar relações entre conteúdos e sem se amarrar a todos os subtópicos relacionados ao assunto. Santomé sugere a criação de redes ou teias conceituais a fim de organizar um plano de ação para a unidade.
Outro momento importante do planejamento é a elaboração de recursos e estratégias
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