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A TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO

Por:   •  9/12/2018  •  2.358 Palavras (10 Páginas)  •  243 Visualizações

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A democratização do acesso à educação pública para todos não leva em conta as diferenças nas condições materiais da vida, as diferentes experiências adquiridas fora da escola, garante quantidade, mas não a qualidade. E o que acontece é que esse processo educacional acaba ligado à ideologia dos dons e do mérito, que seleciona e gera a exclusão dos economicamente menos favorecidos, por isso se dizer que:

[...] a escola – pelos seus mecanismos de seleção e de exclusão – reflete e reforça a hierarquização da sociedade: de um lado, em suas universidades e institutos tecnológicos, ela forma especialistas superqualificados [...] de cuja competência vai depender o destino dos outros e o ‘progresso’ de todos; de outro lado a escola produzirá também o seu ‘refugo’. Isto é, pessoas que, tendo fracassado em seus estudos e tendo sido convencidas de que o fracasso se deve a sua própria inferioridade, não terão outra alternativa senão ocupar os empregos menos interessantes e também, ‘naturalmente’, pior remunerados. (HARPER et al, 1984, p. 95).

Desse modo, podemos dizer que, ao selecionar excluir, a educação brasileira é elitista, e como não pode ser compreendida fora do contexto sócio-político e econômico do país, a afirmação de que que ela funciona como reflexo dos interesses da classe social que está no poder não é descabida.

O Brasil começa a se distanciar do modelo de economia agrária e ingressa na era da Industrialização a partir da I Guerra Mundial (1914-1918). As modificações do sistema econômico, de uma economia agrária, voltada para a exportação do café, para uma economia industrializada, afetou o campo e fez com que a população rural migrasse para as cidades. Além disso, gerou a formação de uma nova classe: a burguesia industrial.

Já na década de 30, o cenário político brasileiro, segundo LINS FILHO e LYRA (1990), “representava interesses diversos [...] reunia setores e interesses contrários [...] não possuía um projeto organizado de governo, nem homogeneidade ideológica.” E o Estado se caracterizava por uma crescente centralização do poder, no qual iam se instalando “ideias alicerçadas no fascismo que se desenrolava na Itália e no Nazismo alemão.”

Ainda em 1930 é criado o Ministério de Educação e Saúde, no qual toma posse Francisco Campos, pois é preciso “se fazer a preparação da mão-de-obra necessária ao novo surto de industrialização.” (LINS FILHO e LYRA, 1990). A escola passa a ser imprescindível para o novo contexto e a educação brasileira se volta para os cursos profissionalizantes. E a escola, então, passa a atender aos interesses dos novos grupos dirigentes, pois, segundo Campos (1931 APUD LINS FILHO e LYRA, 1990):

A crescente complexidade da vida moderna, a divisão do trabalho cada vez mais acentuada nos organismos sociais, dia a dia, exigem dos profissionais um tirocínio mais amplo e seguro, uma especialização de mais em mais preponderante e cada vez mais reclamam dos que se iniciam nas carreiras técnicas conhecimentos adequados.

Por isso o novo enfoque educacional, a partir de então, deveria ser dado aos cursos profissionalizantes. A educação deveria ser “adequada” às novas atividades econômicas, comercial e industrial, do mundo e do país. E embora apresentada como um instrumento de libertação, ‘semear e educar o Brasil constitui o primeiro dever de uma revolução que se fez para libertar os brasileiros’, (CAMPOS 1940 APUD LINS FILHO e LYRA, 1990), a educação serviu muito mais como instrumento de controle e adequação das massas.

Para controlar ainda mais o sistema educacional, cria-se com a Constituição de 1934, o Conselho Nacional e os Conselhos Estaduais de Educação, e o ensino religioso passou também a constar, como disciplina opcional, dos currículos escolares. Durante o Governo Provisório (1930 -1934) e o Governo Constitucional (1934 – 1937), a escola ocupou um papel relevante na preparação dos “indivíduos que teriam de ocupar uma função na divisão social e técnica do trabalho e [...] se mostrou um excelente meio de doutrinação dos cidadãos para que atuassem com obediência à ideologia dominante.” (LINS FILHO e LYRA, 1990)

Durante o Estado Novo (1937 – 1945) que segundo (LINS FILHO e LYRA, 1990), “constituía-se de um conjunto de ideias, tais como: nacionalismo, integração nacional, centralização, hierarquia, etc.”, o qual “bem caracterizam um estado ditatorial” a política educacional foi capitaneada por Gustavo Capanema, e a educação seria aquela que iria resolver todos os problemas do país e uniformizar o pensamento do povo brasileiro, assim dizia Capanema (1974 APUD LINS FILHO e LYRA, 1990):

[...] o ensino secundário se destina à preparação das individualidades condutoras, isto é, dos homens que deverão assumir as responsabilidades maiores dentro da sociedade e da nação, dos homens portadores das concepções e atitudes espirituais que é preciso infundir nas massas, que é preciso tornar habituais entre o povo.

O texto acima evidencia o caráter elitista da educação à época, preparar aqueles que seriam líderes e, de outro lado os que os seguiam, as massas. E isso se daria pela educação enviesada pelo militarismo, pelo nacionalismo exacerbado, pelo ensino de moral e cívica, pela rigidez hierárquica.

Em 1942 são criados o SENAI e o SENAC, o que mostra o quanto o governo se preocupava em agradar os interesses do setor industrial da burguesia, pois estas instituições formariam a mão-de-obra necessária a este setor, e nos mostra o quanto a educação estava (e ainda está) atrelada aos interesses não do trabalhador, mas aos interesses da classe dirigente.

Mas não é só isso, estes aspectos demonstram que, desde o início, a organização do sistema educacional brasileira tem uma configuração dualista, ou seja, há uma escola para a classe trabalhadora, voltada para a profissionalização, e outra escola para a elite, direcionada para o academicismo e formação daqueles que “comandarão” o país.

O professor Libâneo (2012) explica esse dualismo na atualidade da escola brasileira nos seguintes termos:

[...] num extremo estaria a escola assentada no conhecimento, na aprendizagem, e nas tecnologias, voltada aos filhos dos ricos, e, em outro, a escola do acolhimento social, da integração social, voltada aos pobres e dedicada, primordialmente, a missões sociais de assistência e apoio às crianças.

O acesso à educação seria para todos, mas os pobres receberiam o mínimo para as necessidades imediatas, ligadas à vida cotidiana, ligadas à

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