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A RELAÇÃO EDUCADOR-EDUCANDO: INFLUÊNCIAS NA PERMANÊNCIA DOS ESTUDANTES NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Por:   •  5/12/2018  •  3.095 Palavras (13 Páginas)  •  285 Visualizações

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religião, entre outros.

Mas, infelizmente, em sua grande maioria, a realidade dos sujeitos que cursam esta modalidade de ensino é cercada por diversas espécies de preconceitos.

Muitas vezes, são indivíduos estigmatizados pela sociedade e que por si só não conseguem se identificar com a construção social de “escola”, ou seja, com a construção de uma identidade institucional de estudante. E que, por esse motivo, não conseguem se encaixar nesta cultura escolar que o modelo da educação formal apresenta.

As dificuldades de aprendizagem são julgadas como “falta de esforço” ou mesmo “incapacidade intelectual” e o tempo destinado aos estudos concorre com outras atividades imediatas, como o trabalho, a família, etc.

A incompatibilidade de horários, a frustação com os resultados da aprendizagem, somadas ao cansaço físico e ao desgaste psicológico e emocional são alguns dos fatores que fazem com que os jovens e adultos abandonem a escola, fenômeno descrito pela legislação como “evasão escolar”.

Segundo os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) , a taxa de evasão escolar entre jovens de 18 a 24 anos chega a quase 40%. Sendo que, entre os fatores responsáveis por esta evasão está a baixa qualidade do ensino e as altas taxas de reprovação.

Na EJA, os desafios enfrentados para a permanência dos estudantes na escola têm relação direta com a “não obrigatoriedade”, ou seja, os sujeitos que frequentam esta modalidade de ensino estão ali por sua livre e espontânea vontade, porque além de entenderem a importância da educação, estão ali porque desejam e/ou precisam.

E é justamente por este motivo que, ao se sentirem desmotivados e considerarem que a formação que estão recebendo não se dá de forma significativa em suas vidas, eles desistem dos estudos e deixam a escola.

Para Cesar Callegari, sociólogo e membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), a alegação de desinteresse por parte dos estudantes na EJA se dá pela falta de preparo dos professores que aplicam conteúdos descontextualizados da realidade dos educandos, por meio de metodologias inadequadas.

Entendemos que o professor, face ao seu contato direto e diário com o aluno, tem o poder da intervenção para evitar a evasão escolar ou mesmo a infrequência do aluno, assim como também pode ser o principal responsável pela não permanência deste aluno no ambiente escolar.

Pretendemos, portanto, estudar a relação educador-educando no universo da Educação de Jovens e Adultos a fim de verificar de que forma esta relação influencia na permanência dos estudantes nesta modalidade de educação.

Justificativa

O interesse em estudar sobre o papel que a relação educador-educando exerce na permanência dos educandos no ensino de Jovens e Adultos surgiu por motivos pessoais e acadêmicos.

Desde a minha infância acompanho o sofrimento da minha mãe em estudar e permanecer na escola. O que ocorria era, basicamente, uma contradição, pois minha mãe procurava a escola porque não aguentava mais passar vergonha por não saber ler e escrever e saia da escola pelo mesmo motivo.

Minha mãe sofria ao procurar um emprego porque não sabia preencher a ficha para se candidatar à vaga e sofria em casa por não saber fazer uma lista de compras, anotar um telefone, anotar um recado, anotar a data do dia, escrever um endereço, uma carta, etc.

Toda vez que era necessário à utilização da escrita e da leitura no dia a dia, ela era envergonhada por pessoas que dominavam essas práticas e se sentia inferiorizada por não saber ler e escrever.

Para não passar mais por essas humilhações, ela procurou escolas públicas para estudar, mas na época não as encontrou. Do que recorreu então a uma escola particular, mas essa escola só ministrava aulas à adultos a partir da 5ª série do Ensino Fundamental. Assim, como a escola não queria perder dinheiro, aplicou uma prova para a minha mãe, da qual ela nunca viu a correção, e pela nota desta prova ela foi promovida a 5ª série.

Nas aulas, minha mãe se sentia excluída, perdida, envergonhada e humilhada, da mesma forma que sofria todos os dias no trabalho, em casa, no hospital, no banco, etc. Tudo isso acontecia, porque ela não conseguia entender as aulas, e ninguém fazia nada para que ela entendesse, pelo contrário, zombavam dela e a excluíam das atividades.

Os professores falavam que não poderiam voltar o conteúdo por causa de um aluno, pois se fizessem isso, prejudicariam todos os demais.

Em casa, o meu pai, que pagava a escola, exigia resultados da aprendizagem, mas como não via nenhum, falava que o problema sempre foi ela que era “muito burra para aprender alguma coisa” (sic), mesmo estudando em uma “boa” escola.

Cansada destas humilhações, vi minha mãe desistir de estudar e sair da escola.

Algum tempo se passou e as humilhações não pararam. As dificuldades aumentaram, pois o mercado de trabalho exigia cada vez mais escolaridade dos seus funcionários, o desemprego a assolou, seu casamento se desfez e a todas essas desventuras minha mãe atribuía a falta de estudo.

Então, separada do marido, desempregada e responsável por duas filhas (eu e minha irmã), ela decidiu voltar a estudar, pois queria que sua vida mudasse e acreditava que só o estudo poderia fazer isso.

Voltou a estudar, desta vez, numa escola pública, onde passou a frequentar as aulas do supletivo. Mas, a despeito da sua “não escolaridade”, ela entrou já na 7ª série do Ensino Fundamental e em um ano concluiu a 7ª e a 8ª série. No entanto, a situação era a mesma que sofreu na escola particular: ela era excluída e humilhada por todos.

Cresci ouvindo atenta ao que ela me contava sobre tudo o que sofria. Dizia que todos os professores escreviam muito, eles enchiam a lousa umas três vezes, mas por ela não ser plenamente alfabetizada, mal conseguia copiar a primeira parte.

Nas aulas de matemática, o professor montava umas contas enormes que misturava as quatro operações, mas como ela conseguiria resolver se ela não sabia fazer nem as operações separadas?! E, além disso, tinham os enunciados dos problemas matemáticos que ela não sabia ler...

Ela me contava que alguns alunos lhe passavam as respostas, mas que ela ficava muito triste com isso, pois não queria as respostas, queria aprender a fazer. Certa vez, uma “amiga” de sua classe lhe ofereceu ajuda e disse para toda a sala e para os professores que iria ensiná-la. Mas, quando minha mãe chegou a casa dela, essa “amiga” deu o seu caderno para que a

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