A DIFICULDADE DOS ALUNOS NA AQUISIÇÃO DO LETRAMENTO APÓS A IDADE IDEAL
Por: eduardamaia17 • 3/7/2018 • 4.314 Palavras (18 Páginas) • 382 Visualizações
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Por isso, este artigo é resultado de observação da realidade de escolas públicas do ensino fundamental II (6º ao 9º ano) e estudou-se as causas e as consequências dessa triste realidade, visando sensibilizar e orientar professores na busca de uma verdadeira educação para todos.
Muitos professores do ensino fundamental II têm se deparado com vários alunos que chegam aos sextos anos, e alguns até mesmo ao nono, sem as habilidades básicas de leitura e escrita. É conhecido dos professores a diversidade na sala de aula desde 1990, porém, o que tem intrigado professores são alunos não alfabetizados, que não conseguem escrever uma frase, palavras com sílabas mais complexas e até mesmo o próprio nome. O que fazer com esses alunos em sala de aula? Reprová-los? Colocá-los no reforço? Não comparecem. Como ajudá-los? Como ajudar os professores a desenvolver estes alunos?
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2. Filhos do Vento
Após pesquisar vários teóricos sobre educação com observações genéricas, desatualizadas e distantes da realidade em que vivo, resolvi escrever sobre o meu contexto, com o olhar que tenho, e para embasar minha tese usarei alguns estudiosos com os quais me identifiquei.
O objetivo deste texto é sensibilizar professores e mostrar caminhos para ajudar alunos que chegam ao ensino fundamental II, sexto ano, com dificuldades de letramento e consequentemente de acompanhar os estudos deste segmento escolar.
A escola para todos foi um avanço e muitos alunos que antes não teriam nenhuma chance, hoje têm o direito a uma vaga na escola. Para uns, isso é suficiente, mas para outros, isso só não basta. São crianças e adolescentes que não se ajustam aos padrões de comportamento da sociedade. São alunos com grandes dificuldades na aprendizagem, geralmente, oriundos de situações econômicas miseráveis, de abandonos e/ou que vivem em meio a conflitos, brigas, agressões verbais e físicas. São pessoas desestruturadas emocionalmente, algumas com problemas neurológicos, com atrasos mentais, com problemas psicológicos, alguns já usuários, outros com vícios em roubo. Alguns são filhos de pais e/ou mães que se drogam e bebem, com pais presos, criados por tios, avós, tutores ou vivem por si. Muitos, a mãe ou a avó, arrimos da família, trabalham o dia todo e os filhos ficam sozinhos durante todo o dia. Para esses alunos, a escola é vista como inimiga, quebram destroem, não assistem às aulas, se escondem dentro do banheiro ou outro lugar na escola, pulam o muro, fogem. Faltam, pois perdem a hora, chegam atrasados. Não fazem nada em sala de aula, o caderno que ganham está sempre sujo, arrancam as folhas, fazem bolinhas para jogar nos outros ou jogar futebol. Não se ajudam, são egocêntricos, agridem uns aos outros, não sabem falar palavras de carinho e agradecimento. Não conseguem ficar sentados por muito tempo, não se concentram, não se interessam por atividades escolares.
Os responsáveis por estes alunos são constantemente chamados na escola, mas, pouquíssimos comparecem devido à situação já mencionada. Os responsáveis por estes, geralmente são responsáveis por vários filhos, netos e agregados. Precisam trabalhar muito para sustentar a família, outros não comparecem por falta de compromisso com o filho. São alunos que deveriam ter um acompanhamento de especialistas, mas não têm diagnósticos, não tem acompanhamento de sua saúde, pois a família não tem condições de fazê-lo.
A escola vê esses alunos como “problemas” que devem ser eliminados, com advertências verbais e escritas, chamando os pais, levando para o conselho tutelar e por fim, fazendo a transferência para outra escola. Transferência esta, para camuflar a palavra “expulsão”. A escola nada faz para ajudar esses alunos.
Na sala de aula com mais de trinta alunos, a maioria dos professores passam suas aulas domando comportamentos, resolvendo conflitos entre alunos, tentando fazê-los ficar quietos e sentados. E sofrem quando tentam explicar “o conteúdo” de sua matéria, pois alguns alunos não querem prestar atenção, querem fazer outra coisa, querem conversar, querem “zoar” com o professor, querem ir ao banheiro, beber água. Não querem copiar o texto da lousa, não querem fazer dez vezes aquele exercício, ou responder aquele questionário sobre o texto que deveria ter copiado.
Os mais obedientes tentam fazer, mas esses “filhos do vento” não deixam, tumultuam, e o professor os manda para fora da sala, ou para a diretoria, e a diretoria, por sua vez, segue o ciclo da exclusão.
Alguns professores mais rígidos até controlam melhor a sala, os alunos ficam em silêncio, mas esses são os primeiros a colocar os “filhos do vento” para fora da sala. Alguns nem deixam eles entrarem, outros, o próprio aluno não quer entrar. E ficam nas margens da escola, cultivando ódios ocultos pela casa que deveria lhes ensinar, lhes abraçar, lhes receber.
“Como poderiam os oprimidos dar início à violência, se eles são o resultado de uma violência?” (Paulo Freire, p. 23)
Ninguém se questiona: por que eles estão reagindo assim? O que eles querem da escola? O que eles vieram fazer aqui? O que fazer com esses alunos? Qual o papel da escola na vida deles?
Muitas vezes parecem estar querendo chamar a atenção, e estão! Estão pedindo socorro, do jeito que aprenderam com a vida.
“Não haveria oprimidos, se não houvesse uma relação de violência que os conforma como violentados, numa situação objetiva de opressão.” (Paulo Freire,1970, p.23)
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3. Dificuldade na aprendizagem – entraves
Os “filhos do vento” não apresentam só dificuldade de ajuste aos padrões de comportamento, mas também têm muitas dificuldades na aprendizagem, apresentando, assim uma enorme defasagem em relação à série que estudam. Alguns alunos chegam ao sexto ano do ensino fundamental não alfabetizados, a maioria são alfabéticos não ortográficos. Possuem um vocabulário restrito, de significados peculiares à sua comunidade. Quando se vêem diante de desafios cognitivos, nem tentam. Não acreditam em suas capacidades. Autoestima totalmente baixa. Consideram-se “burros”, sabem que não sabem e isso lhes basta para desistir e fugir. Tornam-se repetentes, faltosos, indisciplinados, preguiçosos e muitos abandonam os estudos, sem concluir o ensino fundamental.
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