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Analise do Conto Pai contra Mãe

Por:   •  15/11/2018  •  3.130 Palavras (13 Páginas)  •  275 Visualizações

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Esses três comentários ,com nítido teor irônico-porque fala de algo serio e grotesco num tom de fingida naturalidade-intercalados com descrição dos objetos e com a frequência das fugas, são bastantes significativos não só pelo obvio conteúdo critico, porque irônico, pois permitem do leitor inferir uma posição do narrador em relação do assunto aparente do conto, mas também porque esses comentários já adiantavam explicações acerca da ocupação da personagem principal do conto

O quinto paragrafo apresenta o oficio de pegar escravos fugidos “oficio do tempo´´ era também “instrumento de força com que se mantém a lei e propriedade”. Essa sucinta e clara descrição revela significativamente os porquês das afirmações anterior. Trata-se aqui de uma instituição não só social, mas também comercial, por isso a necessidade de leis que assegurem a propriedade. A força, já expressa pelos aparelhos descritos atrás, faz-se então necessária. Dai a um oficio que a aplique é um passo só

“A ordem social e humana” requeria esse tipo de oficio que “não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantém a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita nas ações reivindicadoras”. Esta “nobreza implícita” contém a mesma carga irônica das outras duas afirmações e a ela se liga na composição do quadro escravagista brasileiro da segunda metade do século XIX

Cabe ressaltar que esse discurso irônico, pode muito bem ser lido como um discurso conservador que busca assegurar o direito a propriedade. Direito para o qual o autor sempre chamou a atenção, principalmente porque via nele a mola propulsora e organizadora da sociedade. Ao se pensar em ironia, deve-se ao fato, do autor utilizar-se dessa mesma ironia, afirmando sua defesa pela liberdade humana e sua condenação ao processo escravagista, tanto a defesa quanto a condenação são feitas não veemente, mas através do discurso da dissimulação própria do autor. (Para análise de um possível discurso “conservador” em Machado de Assis cf. FAORO, 1976; e BOSI, 1982.)

Retomando o quinto paragrafo, após explicitar a função social da atividade de pegar escravos e ressaltar sua implícita nobreza, o narrador passa a caracterizar o “profissional” que detinha esse oficio. A primeira afirmação relativa a este, se não contradiz a sua nobreza, aponta para o desmonte dessa. .“..Ninguém se metia em tal oficio por desfastio ou estudo..”. Não é, portanto por entretenimento, nem por conhecimento acumulado que se toma tal atividade como profissão. Ao contrário

“..A pobreza, a necessidade de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem a desordem..”

Como se vê, fica nítido o rebaixamento da “nobreza implícita” do ofício. Só se metia a pegar escravos fugidos o homem marginalizado pela sociedade. Claro está que o caráter de “nobreza” do oficio só era percebido pelos proprietários dos escravos. Numa sociedade escravagista, como a brasileira do século XIX, o caçador de escravos era um ser socialmente necessário para a manutenção da ordem – leia-se propriedade mas ao mesmo tempo, tal atividade era desempenhada por homens não “ajustados” socialmente ou muito pobre ou inapto ou servil.

São com essas características de homem desajustado socialmente e miserável que aparece na narrativa o personagem do conto. Candido Neves.

“..Candido Neves – em família Candinho, a pessoa a quem se liga a historia de uma fuga, cedeu a pobreza, quando adquiriu o oficio de pegar escravos fugidos...”

Com esse período, o narrador muda o rumo do texto. A partir daí ele ira nos contar a historia de Candinho. Como disse atrás, o oficio de pegar escravos era praticado por homens que se encontravam a margem da sociedade. Nosso personagem é esse tipo de homem. Note-se que ele não era um vadio, um vagabundo, mas sim carecia de estabilidade. D e tudo um pouco ele tentou fazer na vida: tipografia, caixeiro, fiel de cartório, carteiro e etc. Alguns ofícios não teve paciência para aprender, outros como o de caixeiro, não o agradavam porque a obrigação, de atender e servir a todos feri-o na corda do orgulho, outros ainda, não dariam rendimento suficientes para sua sobrevivência, caso da tipografia.

Na vida de Candinho apareceu Clara, moça órfã que morava com tia Monica. Ambas cosiam para sobreviver. Clara “queria casar naturalmente. Era como lhe dizia a tia, um pescar de caniço ,ao ver se o peixe passava longe...” Quando se deu o encontro Candido só acumulava dividas com um primo, entalhador de oficio. Na relação de Candido e Clara não há mais que a união de miséria. Ele cheio de dividas, sem emprego certo e vivendo de favor com o primo, não tinha o que oferecer, ela por sua vez, órfã, pobre e dependente de uma tia que nada possuía, nada poderia dar.

Após o casamento a vida não era boa, mas era feliz. A patuscada unia os três. “Os mesmos nomes eram objetos de trocados, Clara, Neves, Candido, não davam que comer, mas davam que rir, e o riso digeria-se sem esforço”.

Faltava o filho que os dois queriam, um só. E ele veio, “era fruto abençoado que viria trazer ao casal a suspirada ventura”. Tia Monica, no entanto desespera-se, um filho significa mais uma boca a alimentar e a vida a cada dia mais difícil. Candido a esta altura já desempenhava o oficio de pegar escravos fugidos. “Tinha gloria nisto, falava da esperança com capital (...) Pegar escravos fugidos trouxe-lhe um encanto novo”. E além de encanto a profissão “só exigia força, olho vivo, paciência, coragem e um pedaço de corda” Mas os ganhos eram incertos, e a partir de um momento outros desempregados passaram a desempenhar o mesmo oficio, o dinheiro passou a rarear e a situação foi ficando cada dia mais difícil. “A natureza ia andando, o feto crescia”. Perto da época do bebe nascer, sem dinheiro para o aluguel os três são despejados e vão morar de favor em quartos que a previdente tia Monica havia arranjado com uma senhora amiga. Como comenta o narrador a “situação era aguda”. É justamente numa situação aguda que o narrador promove nova vida na historia que conta.

Como se viu, além do gosto pelas patuscadas é a pobreza, o principal elo entre as personagens Candido, Clara e tia Monica. Pobreza que não impedia o rizo, pois esse se digeria sem esforço, mas impedia a vinda de um filho. A suspirada ventura do casal que queria “um, um só” embora viesse agravar a necessidade.

O autor apresenta

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