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ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS ELEMENTOS DA NARRATIVA NO CONTO

Por:   •  4/3/2018  •  2.309 Palavras (10 Páginas)  •  993 Visualizações

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Elementos da narrativa no conto " Nunca é tarde, sempre é tarde "

Esse conto é uma narrativa breve, escrito em prosa, marcado por frases curtas, com bastante pontuação, com enredo na maioria das vezes simples. A narrativa possui passagens antitéticas como “nem bonita, nem feia” e é um texto curto, o qual não apresenta a estrutura típica de narração: que seria apresentação; complicação ou desenvolvimento e clímax.

Aguiar e Silva afirma que "um curto episódio, um caso humano interessante, uma recordação etc., constituem o conteúdo do conto." (1979, p. 346). Nesse sentido, não podemos deixar de mencionar aqui o que Luzia de Maria registra em seu livro, “O que é conto”:

Um conto parece ser, a partir do fragmento, da realidade a partir de um episódio fugaz, a partir de um dado extraordinário mas muitas vezes despercebido do real, a partir de um fato qualquer e, por que não? a partir de fato nenhum, a construção de um sentido que produza no leitor algo como uma explosão, levando as comportas mentais a expandirem-se, projetando a sensibilidade e a inteligência e a dimensões que ultrapassem infinitamente o espaço e o tempo da leitura. E este efeito pode resultar da natureza insólita do que foi contado, tanto pode resultar da feição surpreendente do episódio, como pode resultar do modo como se contou, do aspecto absolutamente inédito que a genialidade do autor pode ter denunciado do “já visto”. (MARIA, 2004, p. 54,55).

Por isso, temos que considerar, como observam os autores mencionados, que as categorias da narrativa que, de forma mais acentuada, são atingidas pela reduzida extensão do conto, são a ação, as personagens e o tempo (REIS; LOPES, 1998, p. 79), tendendo eles para uma concentração bastante intensa, fato que amplifica a sua significação, já que a extensão para a caracterização desses elementos é muito limitada.

O conto Nunca é tarde, sempre Tarde tem uma história simples, porém, magistralmente narrada, empregando-se uma linguagem comum, que conta os fatos da vida corrida de uma garota, e sua ansiedade para não se atrasar para o trabalho, o cotidiano que se repete dia após dia. As diferentes vezes que o despertador toca são os dia que passam na vida da personagem principal, sem ela perceber, por estar vivendo uma vida muito apressada e uma rotina cansativa, da qual, como mostra o texto, ela descansa nos finais de semana, em que no sábado, segundo a personagem, é o dia em que ela pode ficar bonita, ou seja, se arrumar e passar maquiagem, atos para os quais ela não tem tempo durante a sua rotina cotidiana. A vida agitada desta garota é o enredo deste conto.

Em síntese, este conto mostra o cotidiano da vida moderna, o qual se repete dia após dia, no qual a pressa impede a existência de um ponto inicial em cada manhã e de um ponto final em cada noite. Além disso, há a repetição de observações como “não teve tempo de guardar o material de maquiagem espalhado sobre a penteadeira”, (LADEIRA; FIORANI, 2005, p. 75) o que mostra também a angústia da menina com a desorganização dos seus objetos causada pela pressa.

Considerando-se a instância narrativa, o conto "Nunca é tarde, sempre é tarde", é narrado em terceira pessoa, sendo um narrador observador, ou seja, não participa da narrativa, está fora dos fatos narrados, portanto seu ponto de vista tende a ser mais imparcial. Podemos notar esse tipo de narrativa a seguir:

“[...]Olhou-se no espelho. Nem bonita, nem feia. Secretária. Sou uma secretária, pensou, procurando conscientizar-se. Não devo ser, no trabalho, nem bonita, nem feia. Devo me pintar, vestir-me bem, mas sem exagero. Beleza mesmo é pra fim de semana. [...]Su, enlouquecida pela pressa, nada ouviu. Poucas vezes ouvia o que a mãe lhe dizia. Louca de pressa, ia sair, avançou a mão para a maçaneta da porta e assustou-se. A campainha tocou naquele exato momento. (LADEIRA; FIORANI, 2005, p. 75).

Neste caso, temos bem clara a onisciência do narrador observador, ele sabe tudo sobre a história, pois não narra apenas o que se passa com a personagem, mas também o que ela sente.

Em relação às personagens apresentadas na narrativa, podemos mencionar a presença da Su, como a protagonista e a mãe como personagem secundaria, não é tão importante na história, mas está ali para ajudar sua filha Su, que seria para desperta-la de seus sonhos.

A história, pela pontuação constante e frases curtas, torna-se mais ágil, o que faz o leitor perceber melhor a pressa da personagem. Su, é uma secretária, perdida na pressa do dia-a-dia, devido aos diversos afazeres destinados a ela em seu trabalho. Muitas pessoas hoje, acabam presos nessa mesma rotina em que Su, se encontra. Vivem com pressa, tempo cronometrado, que acabam fazendo as mesmas coisas todos os dias automaticamente, que nem percebem o que se passa em sua volta. A outra personagem é a sua mãe, uma dona de casa, a qual demonstra preocupação em relação ao bem estar da filha, sempre lhe mandando comer.

Já o tempo da narrativa estrutura-se no tempo psicológico, é o nome que se dá ao tempo que transcorre numa ordem determinada pelo desejo ou pela imaginação do narrador ou dos personagens, isto é, altera a ordem natural dos acontecimentos. Está, portanto, ligado ao enredo não-linear no qual os acontecimentos estão fora da ordem natural, (GANCHO,2002, p. 21) ou seja, os acontecimentos de serem tão repetitivos no cotidiano, se reproduzem nos sonhos da personagem, somente em sua imaginação como se fossem realidade. O tempo é curto, provavelmente pelo início das manhãs durante o dia-a-dia da personagem.

[...]Concluiu que não havia tempo nem para o café. [...]Louca de pressa, ia sair, avançou a mão para a maçaneta da porta e assustou-se. A campainha tocou naquele exato momento. Quem haveria de ser àquela hora? [...]Su acordou finalmente com o tilintar vibrante do despertador Westclox e se deu conta de que sequer havia-se levantado. Raios. Tudo por fazer. Mesmo que acordasse em tempo, tinha sempre que correr, correr. [...]Levantou-se de um ímpeto. Correu ao banheiro, voltou do banheiro, vestiu-se com a roupa estrategicamente deixada sobre a cadeira na noite anterior. (LADEIRA; FIORANI, 2005, p.75)

Percebe-se então essa não-linearidade de acontecimentos, e tudo isso ocorre apenas na imaginação da personagem.

Nessa manipulação do tempo, revelam-se também os espaços pelos quais a protagonista transitou nesse curto período de acontecimentos. A partir das palavras de Antônio Dimas, em seu livro "Espaço e Romance" compreendemos que

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