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A Literatura e Sociedade

Por:   •  30/10/2018  •  1.952 Palavras (8 Páginas)  •  307 Visualizações

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Nesse sentido, o sociólogo faz uma pergunta: “qual a influência exercida pelo social sobre a obra de arte?”, complementando com: “qual a influência exercida pela obra de arte sobre o meio?”. Então, Antônio Candido afirma que duas respostas tradicionais devem ser afastadas numa investigação como esta: “A primeira consiste em estudar em que medida a arte é expressão da sociedade; a segunda, em que medida é social, isto é, interessada nos problemas sociais” (ibidem, p.18). Para o sociólogo moderno, ambas as tendências tradicionais tiveram a virtude de mostrar que a arte é social.

Para investigar as influências concretas exercidas pelos fatores socioculturais, Antônio Candido diz que os fatores mais decisivos se ligam à estrutura social, aos valores e ideologias e às técnicas de comunicação. E esses fatores marcam os quatro momentos da produção, pois: “a) o artista, sob o impulso de uma necessidade interior, orienta-o segundo os padrões da sua época, b) escolhe certos temas, c) usa certas formas e d) a síntese resultante age sobre o meio” (ibidem, p.20). Entretanto, o sociólogo lembra que é importante ter intuição, fazer diferente, ultrapassar sua época. Em seguida, Antônio Candido declara que “todo processo de comunicação pressupõe um comunicante, no caso o artista; um comunicado, ou seja, a obra; um comunicando, que é o público a que se dirige; graças a isso define-se o quarto elemento do processo, isto é, o seu efeito” (ibidem, p.20).

A orientação a que as obras obedecem pode ser distinta, criando dois tipos de arte: a arte de agregação e a arte de segregação. De acordo com Antônio Candido, a arte de agregação ou integração “se inspira principalmente na experiência coletiva e visa a meios comunicativos acessíveis. Procura, neste sentido, incorporar-se a um sistema simbólico vigente, utilizando o que já está estabelecido como forma de expressão de determinada sociedade” (ibidem, p.21). Vê-se que a arte de agregação é de espírito coletivo, ela pode ser comparada à norma vigente.

Em contrapartida, a arte de segregação ou diferenciação “se preocupa em renovar o sistema simbólico, criar novos recursos expressivos e, para isto, dirige-se a um número ao menos incialmente reduzido de receptores, que se destacam, enquanto tais, da sociedade” (ibidem, p.21), isto é, a arte de segregação rompe, é quando o estilo do autor, seu “modo de formar” segundo Umberto Eco, inova a experiência coletiva. Logo em seguida, o sociólogo diz que, na verdade, essas maneiras de fazer arte são aspectos constantes de toda a arte e, portanto, precisam andar juntas nas obras para fazer uma “arte equilibrada”. A relação é dialógica entre sociedade-arte e arte-sociedade.

- A posição do artista

Antônio Candido indaga qual é a função do artista, qual a sua posição e quais os limites da sua autonomia criadora. Afirma que forças sociais condicionantes guiam o artista em grau menor ou maior, determinando a ocasião da obra ser produzida, julgando a necessidade dela ser produzida e se ela vai ou não se tornar um bem coletivo. Logo, lembra que a obra é fruto da iniciativa individual do criador, mais a condição social.

Pensando nas relações entre o artista e o grupo, o sociólogo diz que a função social da arte é reconhecida desde as sociedades pré-históricas - caráter grupal. Entretanto, o artista primitivo não era reconhecido somente como artista, ele exercia outros papeis e também fazia arte. Já nas sociedades modernas, o artista exerce uma profissão. De acordo com Antônio Candido “A autonomia da arte permite atribuir qualidade de artista mesmo a quem a pratique ao lado de outras atividades” (ibidem, p.25).

- A configuração da obra

As formas primitivas de literatura eram configuradas a partir da vida social, pois a arte fazia parte da vida. A poesia, por exemplo, fazia referência às atividades e objetos fortemente impregnados de valor para o grupo, ou seja, o gênio era coletivo. Antônio Candido diz que “(...) determinada atividade se transforma em ocasião e matéria de poesia, pelo fato de representar para o grupo algo singularmente prezado, o que garante o seu impacto emocional” (ibidem, p.28). Antonio Candido critica essa “arte coletiva” porque uma vez o criador é desprezado, ele perde a sua identidade.

Já na configuração das obras modernas, os fatos sociais são condicionantes apenas, além de serem filtrados pelo artista. O sociólogo também atenta para o fato de que, na configuração de uma obra, os valores e ideologias contribuem principalmente para o conteúdo, enquanto as modalidades de comunicação influem mais na forma. Ele declara: “Tanto os valores, as técnicas de comunicação de que a sociedade dispõe influem na obra, sobretudo na forma, e, através dela, nas suas possibilidades de atuação no meio. Estas técnicas podem ser imateriais – como o estribilho das canções, destinadas a ferir a atenção e a gravar-se na memória; ou podem associar-se a objetos materiais, como o livro, um instrumento musical, uma tela” (ibidem, p.29).

- O público

O último ponto considerado é o receptor de arte. Para Antônio Candido, no que se refere às sociedades primitivas, ainda à margem da escrita e das modernas técnicas de comunicação, não é nítida a separação entre o artista e os receptores, não se podendo falar muitas vezes num público propriamente dito. O sociólogo exemplifica com manifestações como a cana-verde na vida caipira paulista, onde praticamente todos os participantes se tornam poetas, tocando versos e apodos. Nesse caso, os receptores se encontram, via de regra, em contato direto com o criador.

Á medida, porém, que as sociedades se diferenciam e crescem em volume demográfico, artista e público se distinguem nitidamente. O público é fragmentado, não tem contato com o criador, é um conjunto informe, isto é, sem estrutura, de onde podem ou não desprender-se agrupamentos configurados. Quando se tem um grupo de público, ele sofre influência dos valores, que se manifestam sob várias designações – gosto, moda – e exprimem as expectativas sociais que tendem a cristalizar-se em rotina. Em outras palavras, não

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