Português do Brasil: a variação que vemos e a variação que esquecemos de ver
Por: Evandro.2016 • 21/10/2017 • 3.905 Palavras (16 Páginas) • 746 Visualizações
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Analisando as variações diatópicas da língua portuguesa, a primeira comparação que inevitavelmente fazemos é entre as diferentes variedades do português falado na Europa, na África, na América Latina e na Ásia. Isso ocorre devido motivos políticos e históricos de tentarmos estabelecer comparações entre a antiga metrópole, Portugal, e as suas antigas colônias, como o Brasil; é inegável a herança portuguesa em outros países e no Brasil, não apenas no contexto linguístico. As questões levantadas com esses estudos são se Portugal e as antigas colônias falam a mesma língua, o realce as diferenças em nome dos nacionalismos oriundos do processo de descolonização, a necessidade de valorizar as raízes portuguesas para diferenciar-se de países vizinhos.
As diferenças entre o português do Brasil e o português europeu são muitas. Essas singularidades existentes hoje no português brasileiro em comparação ao europeu, e que servem para diferenciá-las, podem ser explicadas pelo processo histórico de formação do país, e da língua aqui falada, tendo influência não apenas do europeu, mas dos índios e africanos, diferentemente do português europeu.
As diferenças se encontram nas pronuncias distintas para mesmas palavras de uma forma geral, talvez sendo essa a mais clara e que sirva para distinguir facilmente um falante brasileiro de um falante europeu; a sintaxe quanto ao uso dos pronomes clíticos, sendo que no Brasil quase não é usado e quando usado pode ocorrer em primeira posição, coisa que um falante do português europeu não faria; as numerosas diferenças vocabulares em várias classes morfossintáticas; no português brasileiro há o uso de empréstimo de origem norte-americana para descrever coisas, enquanto que no português europeu eles usam palavras criadas no interior da própria língua; dentre outras diferenças.
Dentre tantas diferenças no vocábulo, na sintaxe, na fonética e na morfossintática, alguns estudiosos questionam se o português do Brasil e o português europeu são duas línguas diferentes. Apesar das muitas peculiaridades em cada uma, hoje um brasileiro consegue se comunicar com um português e vice-versa, ambos fazem se entender. A língua cumpre o seu papel mais importante, que é o de comunicação e interação entre sujeitos sociais, independente das diferenças existentes entre os pares.
A segunda comparação que fazemos analisando o eixo diatópico é em relação às variações regionais no português do Brasil. Em comparação as línguas faladas na Europa, o português brasileiro fala uma língua bastante uniforme em toda a sua extensão territorial, a variação não afeta aspectos importantes dos sistemas fonológico e sintático da língua. Porém isso não significa dizer que o português brasileiro é homogêneo e que não há uma variação regional. O Brasil é relativamente uniforme se tratando do aspecto diatópico, mas também não significa que socioculturalmente ele também seja uniforme.
É importante lembrar antes de buscar entender as variações regionais que o Brasil foi e é um país de migrantes e imigrantes, dando uma maior dinamicidade à variação diatópica quando em comparação com outros países; é difícil por vezes a separação do que seria regional para sociocultural, uma vez que as peculiaridades típicas regionais se verificam mais facilmente nas falas informais, enquanto que um contexto mais formal exige dos falantes a seguir uma norma que ultrapassa o regional; e há também as diferenças do falar urbano para o falar rural, comumente chamado de “caipira”.
Muitos dos fenômenos observados na variação diatópica do português brasileiro dizem respeito ao léxico, uma mesma realidade pode ser expressa por palavras diferentes a depender da região, assim como em uma mesma região, ou estado, um léxico tem sentidos diferentes a depender da localidade em que ele seja usado. Essa rica diferença lexical regional brasileira acabou se mostrando um rico terreno de estudo e produção, tendo hoje publicados pequenos “dicionários” dos falares regionais, como o “Dicionário de Baianês”, dentre outros. Essa variação no léxico pode ser explicada em muito pelas particularidades históricas de cada estado brasileiro. O exemplo do estado da Bahia, em que houve a influência dos africanos trazidos como escravos foi mais forte do que em outros locais, e hoje se observa no falar do baiano alguns vocábulos de origem africana mais do que em outras regiões do país.
Há ainda os fatos de ordem fonológica e morfossintática, vários traços de pronuncia marcam o caráter regional das variedades do português brasileiro, dessa forma podemos facilmente identificar um carioca e um paulista, ou um baiano e um gaúcho, observando apenas as formas como falam e pronunciam palavras iguais de formas distintas. Há também os fatos de caráter morfossintático, como o uso ou omissão dos artigos definidos antes de nomes próprios e dos nomes de parentesco; o uso de tu e você como pronomes de segunda pessoa, sendo um fato claro e de amplo conhecimento; a tendência a omitir o pronome reflexivo com verbos pronominais; dentre outros.
Ainda tem muito que ser estudado quando se trata da variação diatópica no território brasileiro, principalmente no campo da sintaxe, do léxico e da fraseologia. A localização exata dos vários fenômenos que caracterizam variedades regionais do português brasileiro depende de um grande esforço de pesquisa coletiva. Nesse sentido falamos dos atlas linguísticos do português do Brasil, com o objetivo de delimitar, descrever e caracterizar as variedades regionais da língua portuguesa brasileira. O projeto de um atlas nacional linguístico é antigo e a ideia foi cogitada pela primeira vez em 1922, quando o filólogo Antenor Nascentes lançou o livro “O linguajar carioca”.
O projeto de um atlas linguístico brasileiro é antigo, e sempre foi considerado prioritário pelos linguistas brasileiros, porém havia dificuldades logísticas, uma vez que o Brasil é um país de proporções continentais, mobilizar uma equipe considerável de pesquisadores que pudessem percorrer as mais variadas cidades e regiões do país seria um grande trabalho a ser realizado. Devido a essas barreiras, na segunda metade do século o que prevaleceu foram os atlas regionais. Elaborados por equipes diferentes, num período de mais de quarenta anos, esses atlas não buscam responder de maneira os mesmos questionamentos. Apesar de não ter havido uma coordenação na realização desses atlas, eles servem para visualizar a distribuição regional de muitos fenômenos linguísticos e trazem informações importantes e confiáveis.
A ideia de um atlas linguístico de abrangência
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