A Metáfora da vida: uma leitura a partir do poema Acrobata da dor de Cruz e Souza
Por: Sara • 5/12/2018 • 1.160 Palavras (5 Páginas) • 648 Visualizações
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Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta...
(CRUZ e SOUZA, 2007, p. 78)
É importante abordar aqui o significado da palavra “estertor”, que quer dizer respiração rouca típica dos moribundos, revelando assim que este mesmo artista que “salta”, que “agita os guizos” de suas gargalhadas, é perfurado por um som rouco característico dos moribundos. Esta é a mais evidente sugestão de tristeza proveniente desse “palhaço”. E também ressalta a metáfora presente no poema, pois embora esteja agindo em seu espetáculo alegremente, na intimidade do seu ser, este artista está interiormente dominado pela dor.
Na terceira estrofe o eu-lírico continua fazendo referência às atitudes artísticas do palhaço. No verso 9 o sujeito indeterminado do verbo “pedem-te” diz respeito à uma “plateia” que não percebe o dilema pelo qual este artista está passando. A essa plateia podemos dizer que corresponde corresponda à vida, que exige do indivíduo as maiores acrobacias na sua luta diária e também aos espectadores que cercam o indivíduo no seu dia a dia, pois esse está sempre a fazer “acrobacias” ou tentando representar uma alegria sugestiva e o público nem sempre sabe pelo que realmente passa esse artista. Essa análise pode ser vista no trecho a seguir:
Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...
(CRUZ e SOUZA, 2007, p. 78)
Na última estrofe então, finalmente é revelado quem é o “acrobata” de quem o título fala, revelando assim mais uma metáfora presente no poema, que vai além de sua ideia principal, como podemos ver a seguir:
E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.
(CRUZ e SOUZA, 2007, p. 78)
Apesar de ser sugerida no título do poema e revelada somente em seu último verso, é possível perceber que durante todo o texto é sugerido ao leitor quem é de fato esse acrobata, como a utilização dos termos “gargalhada sanguinolenta” (verso 5), “teu sangue estuoso e quente” (verso 13). A metáfora "Acrobata da Dor" desse poema pode ser interpretada como tal, pois é através do coração que o ser humano sente sua dor, suas tristezas e alegrias, precisando constantemente fazer “acrobacias” para superar os problemas e as tristezas, sem transparecer as angústias em sua vida cotidiana; ser um “artista de palco”, tal como um palhaço – assim sugerido no poema – mantendo sempre o sorriso no rosto.
REFERÊNCIAS
SOUZA, Cruz e. Broquéis Faróiz. Jaraguá do Sul: Editora Avenida, 2007. 219 p.
LAKOFF, G. & JOHNSON, M. Metáforas da vida cotidiana. Coordenação de tradução: Mara Sophia Zanotto. São Paulo: Mercado das Letras, 2002.
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