Essays.club - TCC, Modelos de monografias, Trabalhos de universidades, Ensaios, Bibliografias
Pesquisar

Relatório do Livro Didático Adotado para o 6°Ano de Escolaridade Pela Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu

Por:   •  16/2/2018  •  5.805 Palavras (24 Páginas)  •  483 Visualizações

Página 1 de 24

...

O Cinema como ‘agente histórico’

Acompanhando as dimensões norteadoras atrás citadas, será possível adentrar em seguida a complexa relação entre História e Cinema a partir de alguns ângulos que convém precisar.

Em primeiro lugar, consideraremos a ideia de que acima de tudo o Cinema pode ser visto ele mesmo como agente histórico. O Cinema mostra-se um ‘agente histórico’ importante no sentido de que interfere direta ou indiretamente na História. Ou, mais propriamente, poderíamos acrescentar que o Cinema tem se mostrado um instrumento particularmente importante ou um veículo significativo para a ação dos vários agentes históricos, para a interferência destes agentes na própria História.

Essa relação entre Poder e Cinema é múltipla e igualmente complexa. Desde cedo, as diversas agências associadas aos poderes instituídos compreenderam a importância do Cinema como veículo de comunicação, de difusão e imposição de ideias e ideologias. (página .63)

O Cinema – e a sua realização última que é o Filme – é sempre construção polifônica, para utilizar uma metáfora emprestada à Música. Nele cantam inevitavelmente todas as vozes sociais, não apenas as que invadem a cena através de seus discursos como também as que nela penetram através da imagem. (página.64)

Apenas para dar um exemplo de estudo de caso que permite trazer à tona estas relações, o Cinema apresentou-se no Brasil do Estado Novo com todas estas facetas. Foi utilizado como instrumento de doutrinação política através dos documentários produzidos pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda do Governo Vargas), como veículo para a alienação através de alguns filmes e chanchadas de ficção, mas também como instrumento de resistência e contraponde a partir diversos outros filmes de ficção. (página.65)

Naturalmente que, além dos usos políticos voluntários e involuntários, conscientes e inconscientes, os filmes também se apresentam como registro das representações e visões de mundo presentes nas sociedades que os produziram. Tal como se disse, através de uma obra fílmica expressam-se de maneira complexa várias vozes sociais e diversificadas perspectivas culturais. (página.66)

O Cinema como ‘fonte histórica’

Se o Cinema é ‘agente da História’ no sentido de que interfere direta ou indiretamente na História, ele também é interferido todo o tempo pela História, que o determina nos seus múltiplos aspectos. Vale dizer, o cinema é ‘produto da História’ – e, como todo produto, um excelente meio para a observação do ‘lugar que o produz’, isto é, a Sociedade que o contextualiza, que define a sua própria linguagem possível, que estabelece os seus fazeres, que institui as suas temáticas. (página.67)

O lugar que produz o Cinema é também o lugar que o recebe, de modo que a fonte fílmica pode dar a compreender uma Sociedade simultaneamente a partir do sistema que o produz e do seu universo de recepção.

Com relação a estes e outros aspectos, a fonte cinematográfica, particularmente a fonte fílmica, torna-se evidentemente uma documentação imprescindível para a História Cultural – uma vez que ela revela imaginários, visões de mundo, padrões de comportamento, mentalidades, sistemas de hábitos, hierarquias sociais cristalizadas em formações discursivas, e tantos outros aspectos vinculados à de uma determinada sociedade historicamente localizada. (página. 68)

É muito importante para o historiador avançar na compreensão dos poderes que atravessam o Cinema, alguns interferindo diretamente na feitura de filmes. Apenas para nos atermos ao âmbito dos poderes que circulam na esfera da Indústria Cultural, iremos encontrar todo um conjunto de poderes e micro poderes que enredam a feitura de um filme, e isto variando de acordo com os diversos contextos e com as diversas fases da História do Cinema. (página .69)

Quando se escreve um roteiro de filme para televisão, deve-se antecipar as reações de um telespectador que não está mais preso por duas horas dentro de um recinto fechado de sessão cinematográfica para a qual já comprometeu o valor de um ingresso. Esse novo espectador que assiste na televisão a um filme – seja um filme que já percorreu o circuito das salas de cinema ou um filme tipicamente televisivo – possui literalmente nas mãos um novo poder: o zapping – esta possibilidade de apertar um botão no controle remoto e mudar o canal. Os roteiros, desta forma, não podem ser concebidos livremente, pois desde o instante da sua gestação já sofrem a presença desta formidável multidão de micro poderes. (página .70)

Assim, o mais fantasioso filme de ficção científica não expressa senão as possibilidades de uma realidade histórica, seja como retratação dissimulada, como inversão, como tendência discursiva que o estrutura, como visão de mundo que o informa e que o enforma (que lhe dá forma), e assim por diante. (página .71)

Apenas para registrar um exemplo, a Los Angeles do século XXI que nos é apresentada em Blade Runner (1982) – um filme que intermescla os gêneros da ficção científica e do filme policial – é uma Los Angeles certamente fictícia, imaginada pelo romancista de cujo texto foi extraído o enredo e pelo roteirista da película. (página.72)

De igual maneira, na temática de um mundo dominado e controlado por uma megacorporação, aparecem nos labirintos discursivos de Blade Runner os receios diante de um futuro onde a Empresa Capitalista passa a assumir o papel de Estado e a ter plenos poderes sobre a vida e a morte de todos os indivíduos – o que, em última instância, traz à tona o temor diante da possibilidade da perda de liberdade individual. (página.73)

As relações com Deus e a Morte por fim, aparecem na parábola que dá forma geral ao filme através de um enredo onde os replicantes procuram obstinadamente os seus criadores na esperança de prolongarem a própria vida, e que traz como um dos desfechos a cena da Criatura que termina por assassinar o seu Criador, evocando as intrincadas relações psicológicas que permeiam desde sempre as relações entre o homem e Deus através das realidades religiosas por ele mesmo engendradas na história real. (página.74)

É ainda oportuno lembrar que os filmes também podem ser trabalhados em série, e não apenas a partir de análises individualizadas de seus discursos e de seu enredo. Pode-se estudar a evolução de interesses temáticos a partir de um levantamento geral de obras fílmicas em um determinado período. (página.75)

Além

...

Baixar como  txt (39.3 Kb)   pdf (91.8 Kb)   docx (30.7 Kb)  
Continuar por mais 23 páginas »
Disponível apenas no Essays.club