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Os Argonautas do Pacífico Ocidental do grande antropólogo polonês Bronislaw Malinowski

Por:   •  7/12/2018  •  2.897 Palavras (12 Páginas)  •  382 Visualizações

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Na perspectiva Azande, toda morte é um assassinato. Pois eles acreditam que quando um zande morre, ele o faz porque alguém fez alguma bruxaria contra este. Com isso em mente, há uma magia muito comum a todo zande, a “magia de vingança”. Esta é utilizada por eles, para se vingar do assassino. Ela, a magia de vingança, na concepção zande, age como uma espécie de “juiz”, que caça o indivíduo responsável pela morte. Após o ato fúnebre, a família do falecido procura um mágico (este pode ou não ser um adivinho), e este realiza a cerimônia, recitando o encantamento, isto é, dizendo a droga o que ela tem de fazer. Depois de realizada a cerimônia (salvo as particularidades que julgamos não-necessárias abordarmos aqui), após geralmente cerca de seis meses, sempre que acontecer uma morte próxima a residência do falecido, eles passam a procurar o oráculo de veneno, a fim de descobrir se aquele que morreu, o foi, devido à magia que eles realizaram. Todas estas particularidades juntas, criam a atmosfera mental zande.

Há questões na sociedade zande que não são geralmente levadas, num primeiro momento, a luz do oráculo de veneno. Questões mais simples do cotidiano ou aquelas que necessitam de uma delimitação podem ser levadas aos oráculos de menor credibilidade ou a um adivinho. Estes últimos são reconhecidos por serem capazes de realizar previsões, curas (e estas realmente acontecem. No entanto, não graças aos seus poderes sobrenaturais, mas sim porque os mesmos também utilizam ervas e plantas medicinais nestas cerimonias), e também pela sua principal função, combater magicamente a bruxaria. Os Adivinhos, assim como a carreira política (mas não com o mesmo prestígio), são caminhos profissionais que um zande pode escolher seguir. De tempos em tempos, os mesmos realizam cerimônias públicas. Onde ao redor destes, as pessoas do lugarejo se reúnem (sejam homens, mulheres, crianças) para fazer perguntas a respeito de suas vidas pessoais, negócios e etc.. As pessoas também perguntam se há alguém fazendo bruxaria com o intuito de atrapalhar algum aspecto de suas vidas. Nestes rituais, os Adivinhos, fazendo uso de certos tipos de drogas específicas, entram num estado de frenesi, e a partir daí começam a realizar as previsões. Estas não têm o mesmo peso, a mesma credibilidade como aquelas previsões realizadas pelo Oráculo de veneno. Na sociedade zande, os adivinhos (no momento, mais propriamente dito, em que estão realizando esta função) apresentam uma posição social diferenciada, de certo ponto de vista, até mesmo superior entre os plebeus.

Há outros tipos de Oráculos que são utilizados pelos Azande. Estes são descritos em detalhes no cap. X. O oráculo de atrito e o das térmitas são geralmente os que mais se usam, por serem mais baratos. Segundo o autor, o das térmitas é o oráculo de veneno dos pobres. No entanto, ninguém ousa acusar outro individuo de bruxaria, calçado numa previsão de um oráculo que não seja o de veneno. Quando alguém é acusado de bruxaria por este oráculo (o de veneno), recebe uma asa da galinha em sua residência. O mesmo, segundo a tradição, deve soprar água para “esfriar” a bruxaria que foi feita. De modo geral, segundo Evans-Pritchard, os acusados recebem bem a acusação (ou fingem que recebem). Embora possa haver certa ambiguidade nas respostas, visto que por vezes os oráculos se contradizem quando questionados mais de uma vez a respeito do mesmo assunto, Evans-Pritchard sustenta que estes costumes não são impraticáveis; ​​e que eles têm um lugar na estrutura da sociedade.

No final de sua obra, mais precisamente no apêndice IV, Evans-Pritchard, fala sobre o trabalho de campo. Nos informa que muito se procura saber sobre qual é a forma certa de se realizar este tipo de trabalho. No entanto, essa pergunta não tem uma resposta exata. Para este, não há uma forma exata de se fazer um trabalho de campo, algo que muitos que iniciam procuram. De acordo com isso, ele apresenta dicas vitais para se iniciar esse trabalho. Para Evans-Pritchard é essencial que o antropólogo parta para sua viagem carregando consigo uma bagagem de conhecimento teórico-antropológico; que tenha lido outras obras de outros antropólogos sobre determinado povo que vai utilizar como seu objeto. Sua preocupação está focalizada em proporcionar ao etnógrafo uma base para o início de seu estudo em trabalho de campo. Dentre essa leitura complementar, ele nos mostra, que não necessita ser necessariamente uma leitura antropológica. Qualquer conhecimento vale, já que o mesmo influencia nas direções nas quais a pesquisa será tomada.

“Além disso, pode-se dizer que, desde que nosso objeto de estudo se tornou os seres humanos, tal estudo envolve toda a nossa personalidade - cabeça e coração; e que, assim, tudo aquilo que moldou essa personalidade está envolvido. Não só a formação acadêmica. Sexo, idade, classe social, nacionalidade, família, escola, igreja, amizades e assim por diante. Sublinho com isso que o que se traz de um estudo de campo depende muito daquilo que se levou para ele.” (Evans-Pritchard, 1976, p.244)

Ao longo do trabalho de Evans Pritchard, se percebe a utilização do método malinowskiano, um tanto quanto modificado, mas a idéia está presente. O mesmo ao iniciar uma descrição, apresenta o cenário em que se encontrava a cena observada. Ele se esforça em relatar as particularidades do momento da observação. Com base nisso, a crítica que será realizada aqui se baseará na forma universal com que Evans Pritchard apresenta os Azande e nas particularidades do próprio antropólogo que influenciaram no resultado final deste trabalho.

O autor escreve essa obra sob a influência de Branislaw Malinowski, antropólogo polonês que defendeu essa idéia de honestidade cientifica. Dizer claramente sob que condições o trabalho foi realizado. A imparcialidade dos dados, a neutralidade. Essa idéia de que o antropólogo não deveria se envolver para garantir o caráter científico, está presente na obra de Evans. Pode-se notar isso claramente numa passagem presente no livro em questão, mais precisamente no cap. V, onde Evans coloca em questão a utilidade de fazer parte de uma cerimônia especifica, alegando que o antropólogo, a seu ver, pouco lucraria se colocando como ator em certas cerimônias. Segue a passagem para analise:

“Os métodos usuais de pesquisa são aqui ineficazes, assim como o sistema comum de controle e teste de informação obtida. A única forma de realizar observações diretas era tornando-me eu mesmo um Adivinho; embora entre os Azande isso não fosse impossível, tenho minhas dúvidas sobre se seria vantajoso”. (Evans-Pritchard, 1976, p.91)

Podemos notar o seguinte:

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