Relações de trabalho e reestruturação produtiva no capitalismo ocidental: As crises e os (novos) dispositivos de controle. Revista Grifos, v. 20, n. 30/31, p. 38 – 49, 2011.
Por: Juliana2017 • 18/10/2018 • 1.868 Palavras (8 Páginas) • 395 Visualizações
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O novo capitalismo se caracteriza pela capacidade imediata e a flexibilização. Segundo Sennett (2001, p. 102) “não se mexer é tomado como sinal de fracasso, parecendo a estabilidade quase uma morte em vida”. Mudar o tempo todo possibilita que o indivíduo esqueça da realidade a qual pertence, no antigo capitalismo a consciência de pertencimento a uma classe era visível, já no capitalismo atual não se sabe a que grupo social se pertence resultando na alienação completa do indivíduo. “Pode-se acrescentar que o termo “flexibilidade” é utilizado para causar o efeito de amenizar os estragos do capitalismo, mas “na verdade, a nova ordem impõe novos controles” em vez de simplesmente abolir as regras do passado. ” (SENNETT, 2002, p. 10). Não jogar este novo jogo capitalista é condenar-se ao fracasso. Assim, a construção de uma história de vida que una as pessoas através de laços duradouros fica impossibilitada, já que não há padrão e nem responsabilidade e as pessoas estão sujeitas ao sentimento de fracasso. Para Sennett (2002), a aparente melhoria das condições de trabalho não passam de uma ilusão, na verdade o caráter humano foi profundamente corrompido.
Zigmunt Bauman corrobora com esse diálogo através do conceito de modernidade líquida. Para Bauman (2007, p. 7), “A vida líquida, assim como a sociedade, não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo.” Explica-se, pois, os líquidos, diferentes dos sólidos, não conservam facilmente uma forma durante muito tempo e estão constantemente dispostos a modificá-la. A fluidez ou a liquidez são metáforas para compreender a faze atual da história da modernidade. Houve um tempo em que conceitos eram sólidos, ideias, ideologias, relações, blocos de pensamentos moldando a realidade e a interação entre as pessoas. O século XX com suas conquistas tecnológicas, embates políticos e guerras viu o apogeu e o declínio desse mundo sólido. “A vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante, é uma sucessão de reinícios. Nessa vida, livrar-se das coisas tem prioridade sobre adquiri-las. ” (BAUMAN, 2007, p. 8). A pós-modernidade trouxe com ela a fluidez do líquido e a constante mutação, ignorando divisões e barreiras, assumindo formas, ocupando espaços, diluindo certezas, crenças e práticas. O que importa é o fluxo do tempo mais do que o espaço que se pode ocupar.
Em seu livro “Modernidade Líquida”, Bauman afirma que o trabalho de longo prazo é sólido, precisa de acompanhamento e, com a mudança social esse trabalho é abolido, surge assim, o trabalho mais fluído que necessita de uma nova forma com significado estético e que possibilite ao homem fazer e desfazer e permanecer em constante movimento pensando sempre no futuro. Assim, o trabalhador não recebe mérito por um trabalho que enobreça e sim um trabalho que coleciona experiências, e é esse trabalhador que o novo capitalismo procura já que funcionários são substituídos, assim como os objetos.
A continuidade não é mais marca de aperfeiçoamento. A natureza outrora cumulativa e de longo prazo do progresso está cedendo lugar a demanda dirigidas a cada episódio em separado: o mérito de cada episódio deve ser revelado e consumido inteiramente antes mesmo que ele termine e que o próximo comece. Numa vida guiada pelo preceito de flexibilidade, as estratégias e planos de vida só podem ser de curto prazo. (BAUMAN, 2001, p. 158).
A transitoriedade, seja na vida, no trabalho ou nos laços é o preço que pagam as pessoas que buscam seus objetivos individuais, desta forma, a busca pela emancipação faz com que as pessoas quebrem seus laços por meio da autoafirmação e da diferenciação com relação ao outro, já que o importante é aquilo que segue um padrão de diferenciar-se do outro, tomar seu próprio lugar e quando saturar, adquirir uma nova forma.
Posto isso, percebe-se que a nova subjetividade operária exigida pelo Toyotismo e o novo capitalismo pós segunda guerra acarreta consequências não somente no ambiente e nas relações de trabalho, mas em toda a vida do trabalhador no novo capitalismo, de modo que essas consequências passam a integrar características pessoais e individuais das pessoas que nascem e se formam nesse novo contexto capitalista e, começam a se introduzir nos ambientes de trabalho. Assim, não somente a subjetividade operária sofre modificações, mas também toda a subjetividade particular dos indivíduos.
Jandir Pauli segue relatando que a intenção do artigo é problematizar os elementos que exigem a reestruturação do capitalismo justificando que as crises têm origem no esgotamento da capacidade de acumulação de capital, o sociólogo aponta que o elemento que forja essa reestruturação não é causa nem consequência das crises, mas sim uma oportunidade de renovação do sistema. Assim, o foco central da reestruturação é sempre a coerção dos trabalhadores e do trabalho para otimizar a acumulação de capital. Para ilustrar essa coerção através da reestruturação o autor cita a descentralização de empresas dos EUA e Europa para países periféricos. Pauli se apoia em Robert Kurz (1999) para afirmar que é o Estado o responsável por transformar o trabalhador em máquina de trabalho abstrato, pois encerra o vínculo entre o produto e o produtor e cria condições de desciplinarização das massas de trabalhadores. E conclui afirmando que há questões que ainda devem ser analisadas para a compreensão da atual dinâmica do trabalho, como a descentralização, a pluriatividade, a ampliação dos espaços das mulheres, o impacto das tecnologias da informação (TI’s) e a sociedade em rede.
REFERÊNCIAS
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.
BAUMAN, Zygmunt. Vida Liquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 2007.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor
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