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Nação e nacionalismo: Uma abordagem sobre a construção da “identidade negra” brasileira.

Por:   •  25/10/2018  •  3.681 Palavras (15 Páginas)  •  406 Visualizações

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Tomando como base a concepção dos autores, de que a nação era uma construção moderna, própria da era industrial, a sua construção devia, portanto, ser analisada no quadro do contexto político, do desenvolvimento tecnológico e econômico e das necessidades do aparelho administrativo onde emergia. O nacionalismo antecedia as nações, e não o inverso. Muitas vezes só o estabelecimento do Estado criava culturalmente a nação. Ele não necessitava apoiar-se numa língua, religião ou percurso histórico comum. Benedict Anderson em Comunidade Imaginadas [9], também apresenta a narrativa da nação em associação direta com a modernidade. Para o autor, o advento do Estado-nação foi possibilitado por variáveis, como o capitalismo tipográfico (livros e jornais) e alfabetização em massa. Visava assim, responder às necessidades das elites crioulas, que perpassa em homogeneizar culturalmente as suas populações até então fragmentadas. Para o autor, a nação pode ser compreendida como uma comunidade limitada, soberana e, acima de tudo, imaginada. Isso, porque sempre haverá fronteiras finitas, pois seus atores ainda que não se conheçam, compartilham signos e símbolos comuns, que os identificam como pertencentes a um mesmo espaço “imaginário.”

Esses esquemas teóricos delineados até o momento apontam que entender o nacionalismo como produto histórico de condições modernas é necessário para perceber a ação de atores sociais e suas agências. Isto é, tanto a manipulação ideológica por parte das elites políticas, tanto como o papel das instituições, como o sistema educativo visto por Gellner. Ou até mesmo, como visto por Hobsbawm, os ganhos em relação aos direitos civis dos indivíduos.[10]

Considerar estas perspectivas, e assim estabelecer a nação como produto do momento histórico da modernidade não implica, e aqui nos aproximamos da teoria de Anthony Smith[11], considerar que certos critérios historicamente tradicionais, como a noção de raça, foram elementos determinantes na construção da identidade nacional de um país. Percebe-se na elaboração do autor o conceito designado como etno-simbolista[12], referente à ideia de que todas as nações têm núcleos étnicos dominantes, sendo, portanto, simplista concebê-las enquanto produtos politicamente e economicamente fabricados.

Lloyd Kramer[13] aponta que os analistas do nacionalismo etnico se opõem as reivindicações nacionalistas que se dizem representantes de um ancestral racial, religioso e de comunidades linguisticas. Reiteram que a nação não era o fruto natural do amadurecimento de um conjunto de variantes culturais num determinado território (língua, religião, raça) mas da seleção e manipulação política dessas mesmos variantes. Porém, considera que algumas abordagens dão enfase demais a ruptura entre as formas modernas e pré-modernas de identidade coletiva.

Desta forma, Smith apresenta suas considerações no seguinte trecho:

Enquanto fatores “objetivos” como o tamanho da população, os recursos econômicos, sistemas de comunicação e uma centralização burocrática jogam obviamente um importante papel na criação do ambiente das nações (ou, mais comumente, estados, os quais os ajudam a formar nações), eles nos dizem pouco sobre as qualidades distintivas e o caráter da comunidade nacional que emerge. Por isso devemos nos voltar para fatores mais “subjetivos”: não as mais efêmeras dimensões coletivas do desejo e das atitudes, mas aos atributos culturais mais permanentes da memória, valores, mitos e simbolismo. [...] Só uma abordagem mais “simbólica”, baseada na comparação histórica dos elementos constitutivos duráveis das comunidades étnicas e das nações nos permitirá construir um quadro de relações históricas e sociológicas entre essas comunidades e as nações. [14]

Entendemos assim, a importância do estabelecimento de uma cultura nacional, baseada na relação entre elites e massas. Em que a agência só tem êxito quando é pautado em elementos culturais tradicionais daquele grupo, ou seja, refuta a ideia que a escolha dos elementos que tidos como nacionais é aleatório.

Dessa forma, a etnia torna-se fator importante para os atores sociais através da noção de raça, conceito que abarca noções de “ancestralidade comum, solidariedade e fraternidade entre iguais, e principalmente identidade opositiva”[15]A noção de raça, em alguns contextos de tradição, como, por exemplo, o contexto brasileiro, torna-se um elemento estruturante, uma vez que acomoda como unidade a confluência de três raças “(africanos, europeus e ameríndios)”[16] e possibilita a um grupo específico estabelecer esta unidade e conservar crenças e instituições para o domínio do meio social. Ao passo que é propagado como tradição, torna-se importante perceber sobre quais elementos constitui o imaginário nacional brasileiro, e sob quais bases se fundamentou a questão da “identidade negra”[17] nesse imaginário.

O discurso sobre a identidade nacional brasileira foi produzido por importante parcela da elite política e intelectual brasileira em meados do século XIX, no momento de pós-independência, período de rompimento com a antiga colônia e constituição de um novo corpo político e autônomo[18]. A criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1840, é um momento especialmente significativo nesse processo de constituição do imaginário da nação, como nos aponta Lilia Moritz Schwarcz:

Criado logo após a independência política do país, o estabelecimento carioca cumpriria o papel que lhe fora reservado, assim como os demais institutos históricos: construir uma história da nação, recriar um passado, solidificar mitos de fundação, ordenar fatos buscando homogeneidades em personagens e eventos até então dispersos.[19]

Por meio da constituição desses intelectuais a história brasileira deveria ser a história do encontro, do processo de formação de uma população mestiça e do aperfeiçoamento dessa gente por meio da liderança civilizadora do branco.

Conforme, observou o historiador Ilmar Mattos[20], no Rio de Janeiro imperial era utilizado com frequência o termo “nação” para identificar os escravos negros e ameríndios. A utilização do termo “nação” para indicar os contingentes escravizados, permitia aos brasileiros, isto é, a “boa sociedade”, identificar de forma distintiva a "sua nação". A nação brasileira com os atributos que a distinguiam, dentre os quais se destaca o pertencimento ao conjunto das nações civilizadas.

Para se colocar dentro dos debates teóricos europeus de oposição

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