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Fidel Castro e Salvador Allende

Por:   •  16/3/2018  •  3.535 Palavras (15 Páginas)  •  244 Visualizações

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O CARÁTER DA REVOLUÇÃO EM CUBA

Cuba após o evento da Bacia dos Porcos de 1961 foi declarada oficialmente como um Estado socialista, porém cabe a discussão quando ao caráter da revolução em si. Mesmo sabendo que nomes como o “Comandante” Che Guevara era assumidamente marxistas, o Movimento 26 de Julho em si não tinha esse caráter totalmente definido. Dentro de uma perspectiva diversa sobre o assunto, mas ainda referente à existência de uma “essência” do processo revolucionário, é enfatizado não o caráter socialista como o elemento gerador da revolução, mas sim os fatores relativos à existência de um projeto nacionalista. Segundo Muniz Bandeira:

“A Revolução Cubana foi autóctone, teve um caráter nacional e democrático, e, muito embora alguns de seus líderes, como o próprio Fidel Castro, acolhessem, em pequena medida, ideias marxistas, não era inevitável que ela se desenvolvesse a ponto de identificar-se com a doutrina comunista e sua forma de governo (BANDEIRA, p.5).”

É importante salientar que antes de 1961 o próprio Fidel Castro era mais simpático a um caminho alternativo ao socialismo e capitalismo. Numa entrevista de Fidel Castro à rádio que ligava Sierra Maestra a Caracas, um jornalista Jules Dubois, fez de tudo para arrancar alguma declaração do líder cubano sobre comunismo. Fidel respondeu sem hesitar: “eu não sou e nunca fui comunista, se o fosse teria coragem de dizê-lo. A única pessoa que tem interesse em taxar nosso movimento de comunista é o ditador Batista, pois necessita de armas americanas”. Seguindo essa ótica, a proposta socialista teria sido resultado do confronto cada vez maior entre os novos grupos que haviam assumido o poder em Cuba com o governo norte-americano. Reformar, em Cuba, significava necessariamente afetar os interesses de proprietários estadunidenses – fossem de terras, de bancos, empresas prestadoras de serviço ou outras atividades. E, essa atitude algo “impetuosa” de Fidel, o governo norte-americano estava disposto a enfrentar com medidas de retaliação que esperava que fizessem o governo revolucionário cubano voltar atrás e acabar por enquadrar-se de acordo com os níveis de reivindicação tolerados por eles.

REPERCUSSÕES NA AMÉRICA LATINA

A Revolução Cubana, sem dúvida, mudou as estruturas em seu território, porém ela foi muito além. Se pensarmos num mundo em plena guerra fria e em todos os problemas de subdesenvolvimento da América Latina. Cuba facilmente seria a grande inspiração para outras revoluções. E não foi diferente. Segundo Túlio H. Donghi, o processo revolucionário cubano delimita o fim do que esse autor denomina pax monroviana. Essa pax, por sua vez, teria sido caracterizada pelo período no qual a hegemonia norte-americana não teria sido confrontada diretamente. Para o autor:

"Sua consequência mais óbvia foi o surgimento de movimentos que tentaram seguir o exemplo cubano; outra consequência, menos direta, foi o fortalecimento em nível continental de uma frente contrarrevolucionária controlada pelos setores mais hostis a qualquer mudança – revolucionária ou não – da ordem vigente" (DONGHI, 1975, p.270).

A propagação do projeto revolucionário na América Latina encontrou inúmeros adeptos. E o denominado “modelo castrista”, baseado na luta armada, no anti-imperialismo e no caráter socialista da revolução, foi seguido pela sua quase totalidade. Primeiramente, apontando que os mesmos guiaram-se por uma “relectura de la revolución cubana desde uma perspectiva socialista que se aparta considerablemente del proceso histórico” (SANTUCHO, 2005, p.26-27). Esses eram, segundo o autor, os aspectos gerais que compunham as bases do pensamento foquista. Porém, é muito difícil acreditar que o “modelo cubano” pudesse ser exportado. Tentando desencadear outras “revoluções cubanas” na América Latina, a partir da recriação da experiência guerrilheira de Sierra Maestra, milhares de jovens deram as suas vidas, num projeto que estava fadado ao fracasso, o próprio Che Guevara foi vítima desse equívoco quando foi executado na Bolívia em 1967. Mas apesar do fracasso da maioria das experiências guerrilheiras dos anos 60, não se pode dizer que a “esperança” tenha morrido com Che Guevara, muito pelo contrário, vários países, especialmente na América Central e no Caribe se utilizaram do exemplo cubano, um exemplo é a Revolução Sandinista na Nicarágua. Tais acontecimentos só reforçam a ideia da necessidade de uma maior aproximação entre os povos latino-americanos, no caso de Cuba, que se rompa definitivamente o manto de silêncio e desinformação que recobre a história recente de seu povo. Segundo Abelardo Blanco e Carlos A. Dória:

“Cuba não exportou nenhum “modelo” de revolução, também é verdade que paga até hoje, o alto preço de ter sido o primeiro país socialista nas Américas e por isso enfrenta, há décadas, um pesado bloqueio econômico, cultural e político, por parte dos interesses norte-americanos e dos governos que a eles perfilam”

SALVADOR ALLENDE E PROGRAMA POLÍTICO DA UNIDADE POPULAR

Salvador Allende iniciou sua trajetória política na década de 30, onde era dirigente do movimento estudantil em Santiago. Autoconsiderado marxista, apoiou a República Socialista em 1932, militava nas alianças e blocos de esquerda no país e através das alianças e partidos socialistas alcançou cargos como o de Ministro da Saúde e posteriormente de senador da república, reeleito 4 vezes. Em 1953 já era considerado pelas massas como o líder dos “pobres e despossuídos”, apoiando as causas das classes trabalhadoras e pobres.

Em 1970 houve uma coalizão de partidos que formaram o que foi chamado de Unidad Popular, e que levou Salvador Allende à presidência da república chilena.

O projeto político da Unidade Popular consistia em um projeto alternativo da modernidade, calcada na democracia, no nacionalismo e na ideia moderna de progresso econômico e social. A Unidade Popular mantinha uma posição de respeito ao projeto da modernidade absorveu parcialmente as suas ideias (PINEDO, 2000, p. 138). Via o socialismo como parte natural do progresso moderno e pregava a transição do sistema capitalista – que tinha como protagonista a burguesia – para o socialismo, onde os protagonistas eram o povo e os trabalhadores.

No âmbito econômico, o projeto da UP visava prioritariamente a defesa dos interesses das classes trabalhadoras frente a burguesia; a continuidade do processo de industrialização iniciado pelo presidente anterior Eduardo Frei; a estatização

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