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Análise do período de dominação islâmica na Espanha: o Califado de Córdoba (929 – 1031)

Por:   •  13/11/2018  •  3.979 Palavras (16 Páginas)  •  262 Visualizações

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Não temos a intenção de, nesta pesquisa, reproduzir os processos de dominação ideológica do Ocidente sobre o Oriente, ao criar uma imagem deste como entidade separada daquele, da forma como Edward Said (1978) alerta que têm sido feitas tantas pesquisas sobre o tema do chamado "mundo oriental".[2] Ao contrário, buscaremos aqui uma aproximação entre os dois conceitos ao mostrarmos a influência do pensamento desenvolvido na civilização islâmica para toda a sociedade européia.

A Península Ibérica, ao longo dos milênios, foi habitada por diversos povos. STRADLING e VINCENT (1984), analisando todo o período Antigo da ocupação do território, mostram que os primeiros vestígios de habitação humana na península referem-se aos povos pré-históricos conhecidos como Iberos. No final dos séculos VII e VI a.c, povos celtas do centro da Europa migraram para aquele território, criando uma cultura mista conhecida como celtibera. Houve também, durante a Antiguidade, a presença de fenícios e gregos, interessados nas riquezas minerais da região. Data desse período a construção de algumas cidades, como Cádis. Aproveitando-se da presença de povoamentos fenícios, os habitantes de Cartago, no norte da África, construíram grandes moradias nas proximidades do território fenício, fundando na margem oeste da península, por exemplo, a cidade de Carthago Nova, hoje conhecida como Cartagena. Com a vitória de Roma sobre Cartago na segunda guerra púnica, inicia-se o processo de romanização do território ibérico.

A ocupação e exploração mais intensas daquele território até então foi, sem dúvida, a romana, quando foi ali criada a província da Hispania, dividida entre Hispania Citerior (que se estendia da costa leste dos Pirineus até Linares, no sul) e Hispania Ulterior (compreendendo a maior parte da Moderna Andaluzia). A região foi reorganizada por Augusto, que dividiu a Hispania Ulterior em Baética (a maior parte da Andaluzia) e Lusitânia (o equivalente ao que hoje é Portugal). A Hispania Citerior em sua maior parte foi renomeada para Hispania Tarraconense. A partir de então, o território ibérico viveu cerca de duzentos anos de relativa paz, sendo a atividade econômica majoritariamente exercida ali a extração de prata e outros metais preciosos e a produção de azeite.

A partir do século III, as províncias da Hispania passam a sofrer constantes invasões de povos do Leste europeu pressionados pelos Hunos, que invadiam suas terras. Em meados deste século, antes mesmo da conversão do Império, se iniciavam as primeiras comunidades cristãs localizadas em Mérida, Leão e Astúria. No século V, o território, já muito diferente do auge do Império Romano, estava cristianizado, com as instituições e prédios romanos em ruínas. Nesse contexto, a Península é dominada pelas forças do bretão Constantino III, em 407. Nos anos seguintes, ocorrem invasões de diversas tribos germânicas e o território é dividido entre vândalos, suevos e alanos. A partir de metade do século VI, os visigodos, após conflitos com os francos na França e com os Ostrogodos na Itália, estabelecem um reino permanente na península, com capital em Toledo.

Não muito tempo após estes acontecimentos, um fato singular ocorreria no Oriente Próximo, que teria conseqüências para a Espanha e para todo o mundo: o surgimento do Islã. As pregações de Maomé nas cidades de Meca e, posteriormente, Medina, possibilitaram a criação de um novo modelo de sociedade, baseada na submissão a um só Deus, que nas palavras de LEWIS (1982) “se traduziu na substituição da linhagem pela fé como vínculo social”.

Formação e expansão do Islã

O território hoje conhecido como Oriente Médio era formado, no início do século VII, por diferentes grupos. No norte da península, os reinos dos gassânidas e lakhmidas, próximos aos impérios Bizantino e Sassânida, respectivamente, sofriam influência destes e das religiões que neles eram dominantes, o cristianismo ortodoxo e o zoroastrismo. Ao sudoeste, o reino do Iêmen, formado por terras férteis, e que também sofria influências cristãs e judaicas vindas da Síria e da Etiópia, localizada no outro extremo do mar vermelho.

No restante do território da Arábia, a predominância é de estepes e desertos. Nessas regiões viviam alguns grupos que possuíam funções bem definidas: beduínos nômades criadores de animais como camelos e cabras, agricultores que trabalhavam nos oásis, comerciantes atuando em aldeias e artesãos. Os grupos dominantes eram os beduínos, que se juntavam em grupos armados com os comerciantes. O espírito de comunidade desse grupo é definido por HOURANI (1991):

O ethos característico deles — coragem, hospitalidade, lealdade à família e orgulho dos ancestrais — também predominava. Não eram controlados por um poder de coerção estável, mas liderados por chefes que pertenciam a famílias em torno das quais se reuniam grupos de seguidores mais ou menos constantes, manifestando sua coesão e lealdade no idioma da ancestralidade comum: tais grupos são em geral chamados de tribos.

Entre essas tribos está aquela na qual localizamos o nascimento de Maomé, em torno de 570 d.c, a tribo dos coraixitas, que atuava principalmente na aldeia de Meca. Maomé, que acredita Lewis ter recebido influência de ideias do judaísmo e do cristianismo por via indireta, através de mercadores que passavam pelas diversas rotas comerciais da região, teria, de acordo com a tradição muçulmana[3], recebido as primeiras revelações, através de um anjo, sobre o que seria o conteúdo do Corão, quando tinha aproximadamente quarenta anos. A partir de então inicia a pregação da revelação sobrenatural - e mais importante, uma revelação em árabe - acerca da existência de apenas um Deus, que instruía seus fiéis sobre questões de ordem moral e sobre o mundo que os aguardaria após a vida terrena.

Essa crença, aceita inicialmente apenas pelos mais próximos parentes e colegas, passa a ser gradualmente conhecida e absorvida por membros mais jovens das tribos coraixitas, por membros de outras tribos e mesmo escravos, cativados pela ideia da crença em um Deus que unificaria a todos os crentes. Essas ideias, à medida que crescem, também passam a perturbar a oligarquia dominante de Meca, que controlava a Caaba[4] e não estava interessada em uma nova religião que atrapalharia seus negócios e sua religião.

Assim, em 622, Maomé é forçado a se retirar de Meca, na chamada hégira (que marcará o início do calendário muçulmano) e encontra apoio em Yathrib - que mais tarde se chamaria Medina -. Lá, atuando como mediador de conflitos entre as diferentes

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