A teoria dos Geossistemas: a busca pela compreensão da totalidade na Geografia
Por: Ednelso245 • 27/2/2018 • 1.453 Palavras (6 Páginas) • 561 Visualizações
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Um outro aspecto importante é o princípio da dinâmica,
“[...] pela qual é possível classificar os geossistemas de acordo com seu estado ou estados sucessivos, assim como é possível assumir ou propor hipóteses sobre sua dinâmica futura, característica fundamental para a aplicação ou para o planejamento”. (RODRIGUES, op cit, p. 73)
Bertrand (op cit), é que vai propor uma melhor sistematização, na tentativa de resolver problemas quanto à taxionomia, de tipologia e de cartografia das paisagens. Em seu esquema taxionômico ele inclui e posiciona as unidades inferiores, dentre as quais figuram o geossistema, o geofácies e o geótopo, conforme o quadro representado na figura 1.
[pic 1]
Figura 1 - Sistema de Classificação temporo-espacial da paisagem proposto por Bertrand (2004)
Nessa classificação a escala define-se no tempo e no espaço, delimitadas em unidades superiores e inferiores. Unidade superior refere-se às zonas, aos domínios ou às regiões naturais; as unidades inferiores, dentro da unidade das regiões naturais, destacam-se recortes menores, os geossistemas, os geofácies e os geótopos, anteriormente citados. Bertrand reafirma a importância da identificação dos geossistemas, por se situarem na 4ª, 5ª ou 6ª grandezas temporo-espaciais de Tricar & Cailleux (1956), escalas esta mais compatível com a humana, em que a dinâmica desses geossistemas, modificada ou não, poderia expressar a dinâmica e a complexidade social, portanto geográfica.
Sendo assim, Bertrand define geossistemas como
“(...) uma unidade dimensional compreendida entre alguns quilômetros quadrados e algumas centenas de quilômetros quadrados [onde] a maior parte dos fenômenos de interferência entre os elementos da paisagem e que evoluem as combinações dialéticas mais interessantes para o geógrafo (...) [além de constituir] uma boa base para os estudos de organização dos espaço porque ele é compatível com a escala humana.” (BERTRAND, ibdem, p. 146).
Para tanto, é preciso atentar para três grupo de fatores estruturantes: o potencial ecológico, a exploração biológica e a ação antrópica (figura 2). O primeiro grupo refere-se aos dados ecológicos estáveis resultado da combinação de fatores climáticos (precipitação, temperatura...), hidrológicos (lenóis freáticos, pH das águas, ...) e geomorfológicos (natureza das rochas, declidade do relevo, dinâmicas das vertentes...). O grupo seguinte, tipo de exploração biológica está intimamente relacionado com o potencial ecológico, que confere diferenciada exploração, chegando ao estado de clímax quando há um balanceamento entre o potencial ecológico e a exploração biológica naquele geossistema, sendo dados instéveis num determindo recorte de tempo e espaço.
[pic 2]
Figura 2 - Esboço de uma definição teórica geossistêmica. (BERTRAND, 2004, p. 147)
Por fim, a ação antrópica vai intensificar as transformações/dinâmicas, conferindo uma dose de heterogeneidade aos diversos geossistemas.
Possibilidades e limitações
Enfim, a partir desse breve resgate histórico-conceitual da teoria geossitêmica, pode-se constatar que tal teoria é bastante interessante para os estudos geográficos e ambientais. Entretanto, uma ressignificação ou mesmo reformulação de conceitos e métodos deve ser efetuada, conferindo-lhe maior respaldo para as questões que afligem as ciências do ambiente (Geociências, Engenharias, dentre outras), em especial a Geografia.
Além disso, é preciso resgatar outras teorias que possuem pressupostos epistemológicos e metodológicos correlatos com a teoria dos geossistemas, a exemplo das propostas de Jean Tricart (1977) de abordagem morfodinâmica e ecogeográfica do espaço geográfico/paisagem, como bem destaca Rodrigues (2001):
“Essas abordagens, muitas vezes sem serem totalmente compreendidas, vêm subsidiando uma série de avaliações ambientais no Brasil, na medida em que também possibilitam a identificação de unidades territoriais com dinâmicas semelhantes, passíveis de classificações diversas em processos de planejamento (...) e de utilização em instrumentos de gestão ambiental. Todas essas abordagens representam possibilidades de cumprir alguns diversos objetivos da Geografia Física, sendo que, alguns deles coincidem com as da própria Geografia”. (RODRIGUES, 2001, p. 75).
Ou seja, é a tentativa de “unificação” ou inter-relação entre os fazeres da Geografia Humana e da Geografia Física, na perspectiva ambiental, que se propõe. Uma alternativa é o incentivo da abordagem geossistêmica na Geografia Escolar, pois esta ainda é passada de forma fragmentada e de simples descrições, continua desarticulada do conjunto da Geografia.
A teoria do geossistema possibilita a práxis geográfica, configurando-se como uma categoria de análise que permite estudos ligados e fundamentados na síntese e na interdisciplinaridade, considerando aspectos multiescalares e dinâmicos, apresentando uma perspectiva profícua da produção do espaço geográfico.
REFERÊNCIAS
BERTRAND, Georges. Paisagem e Geografia Física Global. Esboço metodológico. R. RA´E GA, Curitiba, n. 8, p. 141-152, 2004. Editora UFPR, 2004.
RODRIGUES, Cleide. A Teoria Geossistêmica e sua contribuição aos estudos geográficos e ambientais. Revista do Departamento
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