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EPISTEMOLOGIA PASCALIANA: O CORAÇÃO DA RAZÃO E AS RAZÕES DO CORAÇÃO

Por:   •  14/10/2018  •  4.781 Palavras (20 Páginas)  •  284 Visualizações

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Há certo modelo de satisfação e beleza que consiste em certa relação entre nossa natureza, fraca ou forte, tal qual é, e a coisa que nos agrada[8]. Apreciamos tudo o que se forma de acordo com esse modelo: casa, canção, discurso, verso ou prosa, mulher, pássaros, rios, árvores, quartos, roupas e etc. Tudo o que não se faz de conformidade com esse modelo desagrada [...].

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Miséria do homem sem Deus [...], felicidade do homem com Deus. Ou em outras palavras: [...] A natureza está corrompida pela própria natureza[9].

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É preciso conhecer-se a si mesmo; se isso não servisse para encontrar a verdade, serviria ao menos para regular a vida e não há nada mais justo.

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Eis aonde nos conduzem os conhecimentos naturais. Se estes não são verdadeiros, não há verdade no homem; e, se uma vez que não pode subsistir sem crer neles, [...] observe também a si mesmo e julgue se tem alguma proporção com eles[...].

Que o homem, voltado para si próprio, considere o que é diante do que existe; que se encare como um ser extraviado neste canto afastado da natureza, e que, da pequena cela onde se acha preso, isto é, do universo, aprenda a avaliar em seu valor exato a terra, os reinos, as cidades e ele próprio. Que é um homem dentro do infinito?

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Quem assim raciocinar[10] há de apavorar-se de si próprio e, considerando-se apoiado na massa que a natureza lhe deu, entre esses dois abismos do infinito e do nada, tremerá à vista de tantas maravilhas; creio que, transformando sua curiosidade em admiração, preferirá contemplá-las em silêncio a investiga-las com presunção.

Afinal, que é o homem dentro da natureza? Nada em relação ao infinito, tudo em relação ao nada; um ponto intermediário entre tudo e nada. Infinitamente incapaz de compreender os extremos, tanto o fim das coisas como seu princípio [...].

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A simples comparação entre nós e o infinito nos acabrunha. Se o homem se estudasse a si mesmo, antes de mais nada, perceberia logo a que ponto é incapaz de alcançar outra coisa. Como poderia uma parte conhecer o todo? Mas a parte pode ter, pelo menos a ambição de conhecer as partes, as quais cabem dentro de suas próprias proporções. Mas as partes do mundo têm todas relações e tal encadeamento umas com as outras, que considero impossível compreender uma sem alcançar as outras, e sem penetrar no todo.

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O espírito crê naturalmente e a vontade ama naturalmente; de modo que, na ausência de objetivos verdadeiros, se apagam aos falsos. Imaginação – É essa parte enganadora no homem [...] essa soberba potência inimiga da razão, que se compraz em controlá-la e em dominá-la [...]estabeleceu no homem uma segunda natureza[11].

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A imaginação dispõe de tudo; faz a beleza, a justiça e a felicidade, que é tudo no mundo.

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Eis, aproximadamente, os efeitos dessa faculdade[12] enganosa que parece nos ser dada de propósito para induzirmos a um erro necessário [...].

Temos outro princípio de erro: as enfermidades. Elas nos perturbem o julgamento e os sentidos[13] [...].

O homem é pois fabricado com tanta felicidade que não tem nenhum (principio) justo do que é verdadeiro[14] e muitos excelentes do que é falso. [...] Mas a causa mais forte desses erros é a guerra que existe entre os sentidos e a razão.[15]

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Os dois princípios das verdades, a razão e os sentidos, além de carecerem de sinceridade[16], iludem-se mutuamente. Os sentidos, com suas falsas aparências, enganam a razão; e essa mesma frade que oferecem à razão recebem-na dela [...] as paixões da alma perturbem os sentidos e provocam-lhes falsas impressões.

[...] A imaginação amplia os pequenos objetos [...] e numa insolência temerária diminui os grandes.

As crianças que se amedrontam com a careta que desenham, são crianças, mas como conseguir que o que é assim tão franco, em crianças, se torne tão forte, mais tarde? Muda-se apenas de fantasia. [...] Tudo o que foi fraco nunca será inteiramente forte. Por mais que se diga: cresceu, mudou; a verdade é que também continua sendo o mesmo. O hábito é nossa natureza.

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Que são os nossos princípios naturais, senão princípios de hábitos? [...] Hábitos diferentes dão-nos princípios naturais diversos, é o que nos prova a experiência e, se existem princípios que o habito não pode fazer desaparecer, há-os também do costume contra a natureza, inapagáveis por esta, ou por um segundo costume. Tudo depende da disposição.

O hábito é uma segunda natureza que destrói a primeira. Mas o que é a natureza? [...] Receio muito que essa natureza não seja ela própria senão um primeiro hábito, assim como o hábito uma segunda natureza.

A memória, a alegria são sentimentos [...] pois a razão torna os sentimentos naturais e os sentimentos naturais se extinguem pela razão.

A natureza do homem é toda natureza, omne animal.

A coisa mais importante na vida é a escolha de uma profissão. É o caso que dispõe.[17]

É lamentável ver todos os homens deliberarem apenas sobre os fins. Cada qual pensa em como desempenhar a sua condição; mas a escolha da condição [...] é função de sorte.

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Há diferença essencial e universal entre as ações da vontade e todas as outras. A vontade é um dos principais órgãos da crença, não porque forme a crença, mas porque as coisas são verdadeiras ou falsas segundo o ângulo pelo qual as encaramos[18].

A natureza do amor-próprio e desse eu humano é não amar senão a si e não considerar se não a si. A que pode levar? Não poderá impedir que esse objeto que ama esteja cheio de defeitos e misérias: Quer ser grande e acha-se pequeno, quer ser feliz e acha-se miserável; quer ser perfeito e acha-se

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