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Como Conversar com um Fascista - Reflexões sobre o Cotidiano Autoritário Brasileiro

Por:   •  29/3/2018  •  1.426 Palavras (6 Páginas)  •  271 Visualizações

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Ódio é um afeto, uma emoção passional. Necessário pensar que o afeto é o que afeta alguém, contagia, provoca, não é natural, é aprendido. Ressalta-se que tais questões subjetivas são determinadas pelas objetividades! Vivemos uma época tecnológica onde o ódio é disseminado sem limites e as questões subjetivas ganham força descolada de questões macro, principalmente sociais. A obra de Tiburi reduz-se a descrever que diariamente convivemos com imagens e discursos propagados nas mídias. A autora afirma que os programas sensacionalistas tem cada dia mais audiência, as pessoas param em frentes aos aparelhos de televisão para ver e viver as desgraças que acontecem em seus bairros, suas cidades, no país. Estes programas funcionam assim como propagadores do ódio sem limites. Os telespectadores promovem julgamentos dos fatos sem se apropriar do acontecido, criam um ódio do que não conhecem a fundo. A partir de fatos que tem pouco conhecimento, acabam por odiar o outro. Assim também funciona com as questões políticas. É de interesse do capitalismo exterminar a política, por isso quanto maior for a disseminação do ódio maior será o ódio pela política e maior o fascismo com as pessoas que defendem as ideias que não são de interesse do capitalismo.

A partir destes fatos dissemina-se uma paranoia coletiva: tudo está errado, nenhum ato, político, ou política que vise as minorias é aceita. Vivemos assim a era do automatismo, compartilha-se conteúdos nas redes sociais que sequer são lidos. Pessoas se veem no direito de agredir, xingar, destratar o outro por estarem distantes. Qualquer pessoa que pense diferente deve ser humilhada, desqualificada, agredida. Este comportamento inicialmente feito apenas pelas redes sociais acaba por tomar lugar também na vida das pessoas. Durante manifestações, atos, pessoas se veem no direito de enfrentar e não dialogar com o outro pelo simples fato de não gostar do pensamento ou da maneira como o outro pensa e fala.

Percebemos então um retrocesso quanto às liberdades individuais, os negros, os gays, as lésbicas, os “petralhas”, os “vermelhinhos”, os esquerdistas, entre outros estão na linha de frente e devem ser exterminados.

É necessário combater o fascismo e a paranoia coletiva, uma alternativa conforme a autora: “O diálogo não é uma salvação, mas um experimento ao qual vale a pena somar esforços se o projeto político for coletivo. Então precisamos começar a conversar de outro modo, mesmo que pareça impossível” (p. 38). Se existe a exigência de outra forma de ação, existe também a necessidade de retomada histórica e epistemológica de algumas categorias e conceitos, pois sem compreensão disto, não se faz o rompimento, nem mesmo um enfrentamento de qualidade.

Um dos conceitos a serem retomado para o atual diálogo é o de democracia. Quando fala-se nas mídias que o Brasil é democrático porque tem eleições, chega a ser patético. A democracia não se sustenta por eleições de forma tão sistemática e linear, a democracia é mais que isso! Porém, também nos preocupa outra visão, a qual consideramos romantizada, do conceito: “A democracia é a luta amorosa contra esse fogo fraco e impotente que ameaça incendiar o mundo” (TIBURI, p.95). Este tratamento dado à democracia leva-nos a crer que o livro aborda questões subjetivas o tempo todo, a autora só esquece do princípio básico de que toda subjetividade é determinada pelas objetividades, inclusive para questões básicas de compreensão do capitalismo. Por fim, compreendemos que quando não aponta para a luta de classes, não é possível a democracia.

Para bem entender o que Marx pensa acerca da democracia é preciso ter claro que seu objetivo- que ele extrai da análise do capital e não de seu coração- é a eliminação da exploração do homem pelo homem, cuja a última forma, segundo ele, é o capitalismo. Quando, pelo contrário, se põe no centro da discussão o dilema ditadura ou democracia, o que está em pauta é a forma mais ou menos explícita, mais ou menos brutal dessa exploração, mas não a sua supressão. A Marx interessa pensar uma forma de sociabilidade em que os homens possam ser plenamente livres e não apenas mais livres (Ivo Tonet, p. 10)[2].

Esta citação, para além da concepção de democracia, remete a pensar ao demais temas trazidos por Tiburi, como a mídia, assédio, estupro, feminismo, etc. O livro traz uma série de “crônicas” fragmentadas sobre tais temas que de tão fragmentadas não levam à compreensão do “plenamente livres”, pois desconsideram a totalidade.

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