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NELSON PEREIRA DOS SANTOS E O NEO REALISMO BRASILEIRO EM RIO 40 GRAUS, RIO, ZONA NORTE E VIDAS SECAS, UM START PARA O CINEMA NOVO.

Por:   •  20/10/2018  •  2.280 Palavras (10 Páginas)  •  513 Visualizações

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Voltando a falar de Rio 40 graus, a narrativa ainda nos brinda com críticas cirúrgicas ao mundo político representada através do personagem de um caricato deputado e ao mundo do futebol onde os interesses financeiros se sobrepõem aos interesses desportivos. E por falar de futebol, Nelson Pereira como um verdadeiro camisa 10 cria uma sequência digna de um clássico do cinema brasileiro, alternando planos gerais do jogo no Maracanã, planos gerais do Maracanã lotado, closes de torcedores vibrando nas arquibancadas, combinados ao som da transmissão do jogo no rádio chegando a cena em que Jorge está sendo perseguido, o garoto acaba atropelado por um carro ao tentar fugir de seus perseguidores e alguém grita ao testemunhar o acidente ao mesmo tempo em que a torcida vibra com um gol no Maracanã.

Nelson Pereira da um verdadeiro show em seu primeiro filme, gerando uma grande expectativa para a sua segunda película. O mais interessante é que a obra de Nelson apesar de iniciar-se nos anos 50 é moderna e contemporânea, ao assistir filmes mais recentes como Cidade de Deus, 2002 de Fernando Meireles e Katia Lund fica clara a dimensão e influência da obra de Nelson, sendo assim a expectativa gerada na década de 50 permanece ainda hoje, eu como aluno de cinema que somente conheci a obra de Nelson em 2017, fiquei aficionado por seus filmes, pesquisei sobre o diretor e o que era uma dúvida tornou-se certeza após assistir Rio, zona norte, 1957 tornei-me um fã do diretor.

Rio, zona norte, segundo filme de Nelson Pereira me encantou profundamente, inclusive pela escolha do flashback como estrutura narrativa. Acredito que ao utilizar-se de tal estrutura Nelson arriscou-se e saiu da zona de conforto sendo mais uma vez inovador no cinema nacional, não encontrei em minha pesquisa outras referências de filmes nacionais da década de 50 em que a estrutura narrativa baseava-se no flashback, mas, logo me logo me vem à mente dois clássicos internacionais, Cidadão Kane, 1941 de Orson Welles e Casablanca,1942 de Michael Curtiz, o uso do flashback não foi unanimidade crítica nos dois filmes citados, e a crítica nacional especializada não gostou da escolha de Nelson como nos conta Luiz Alberto Rocha Melo na Revista Contracampo, número 80 edição online

“A novidade apresentada pelo filme de estreia, consubstanciada numa abordagem direta e realista, ainda que irregular, da ambiência popular e na busca por um cinema feito nas ruas e nas favelas, no qual o personagem central era a própria cidade do Rio de Janeiro, dava lugar, em Rio Zona Norte, ao recorte melodramático no tratamento da intriga, aos recursos de roteiro e montagem típicos do cinema convencional hollywoodiano, como o uso do flash-back” (MELO, 2006, p.1).

Apesar dos insucessos de crítica e bilheteria na época em que foi lançado, nota-se em Rio, zona norte a maturidade de Nelson Pereira do Santos como artista, naquele momento mudava-se a relação entre música e cinema nacional abandonando conceitos adotados pelas chanchadas e criando ali uma representação dos dilemas sociais e uma identificação do povo através da música popular representada pela figura do compositor popular como no caso de Espírito da Luz Soares, personagem que Grande Otelo desempenhou com maestria encerrando o estigma criado por suas atuações nas chanchadas da Atlântida ao lado de Oscarito.

Lembro-me de certa vez estar pesquisando sambas no youtube numa era antes do spotify e assistir à uma cena em que Grande Otelo cantava um samba de Zé Keti batucando em uma caixa de fósforo, na época eu nem pensava em fazer cinema e muito menos me atentei de que era a cena de um filme, mas, fiquei contagiado pela brilhante interpretação de Grande Otelo e surpreso com a imagem da jovem estrela do rádio Ângela Maria, na hora em que vi a cena chamei minha falecida avó para que assistisse o registro histórico daquela que foi uma das cantoras que haviam marcado sua juventude e que ela ainda ouvia em sua velha pick-up.

Rio, zona norte, além de poético é político e deixa claro a visão marxista do diretor ao tratar os dilemas de Espírito da Luz Soares. O personagem Espírito, sambista, músico popular, sofre com a apropriação de sua obra pela a indústria radiofônica, e não obtém nenhum tipo de reconhecimento e permanece sendo explorado e enganado até o momento de sua morte, fazendo uma analogia objetiva e considerando a militância de Nelson Pereira dentro do Partido Comunista Brasileiro, identificamos em Espírito a personificação do povo brasileiro, das classes menos abastadas que sofriam à época nas mãos da burguesia detentora do capital e da produção cultural, burguesia representada pelo personagem Mauricio, uma nova espécie de malandro já visto em Rio 40 graus e novamente interpretado por Jece Valadão, só que dessa vez sem lado bom e totalmente sem escrúpulos. Há também uma relação de exploração entre os personagens Espírito e Moacir interpretado por Paulo Goulart, Moacir pode-se por assim dizer era um músico de pouco talento que via na obra do sambista Espírito uma chance de apresentar algo grandioso ao público, mas, que ele jamais seria capaz de criar como artista mediano que era.

Rio, Zona Norte é um filme incrível e como tal, alguns anos após o seu lançamento já durante o primeiro período do Cinema Novo teve seu valor reconhecido pela crítica,

“notadamente a partir das análises de Glauber Rocha reunidas e publicadas em Revisão Crítica do Cinema Brasileiro (1963). Anos mais tarde, o filme será francamente elogiado num artigo escrito por David E. Neves e publicado no número 28 da revista Filme Cultura, em fevereiro de 1978, no qual o crítico e cineasta define Rio Zona Norte como “um dos filmes mais inspirados” de Nelson Pereira dos Santos” (MELO, 2006, p.1).

Depois de vivenciar e filmar a cidade do Rio de Janeiro, seu povo e sua cultura, Nelson Pereira dos Santos empresta seu olhar neo-realista para a obra de Graciliano Ramos e filma o Nordeste brasileiro e suas questões sociais nos brindando com uma das grandes referências do primeiro período cinemanovista, Vidas Secas, 1963. Em Vidas Secas vemos um padrão já estabelecido pelo diretor, um olhar sempre esperançoso dos personagens principais apesar do constante sofrimento, injustiça e desigualdade a qual são submetidos. O som em Vidas Secas é extremamente importante, não há música como nos primeiros filmes de Nelson, o que se houve é o som do Sertão, o som do carro de boi, o som da chuva, o som do gado e som da baleia, a cachorra que rouba a cena durante e depois do filme, ao ser exibido no festival internacional de Cinema de Cannes, em 1964, a cena em que Baleia é sacrificada indignou uma expectadora Italiana que era na época presidente

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