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BULLYING: VIOLÊNCIA SILENCIOSA QUE DESUMANIZA

Por:   •  25/3/2018  •  5.161 Palavras (21 Páginas)  •  329 Visualizações

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2 O fenômeno Bullying: O que é e como se manifesta?[2]

O termo bullying deriva do verbete inglês bully, adjetivo que significa valentão, brigão, tirano. Em toda sua gama de significado, quer dizer a maneira de utilizar a força física para intimidar, amedrontar, impor respeito, tiranizar e, não menos gravemente, humilhar outra pessoa, considerada ou estigmatizada como inferior. Por não haver, na língua portuguesa, um equivalente compatível com seu significado original, usa-se, no Brasil, o termo em inglês. Constitui-se, pois, de uma violência simbólica que está presente na escola e em todas as outras instituições, em todas as classes sociais, no mundo inteiro, não levando em conta sexo, gênero, raça, cor, religião. (CHALITA, 2008).

A fase mais crítica de ocorrência é o período da infância e adolescência, por conta de ser esse um momento bastante importante na estruturação física e psicológica do ser humano. É esse o momento de se sentir acolhido pela família e a sociedade, de cultivar a auto-estima e a autonomia, necessárias para construir bons e salutares relacionamentos na vida adulta. Assim, pode-se afirmar que é o ambiente escolar o lugar de maior incidência deste modo de violência, por conta de ser um espaço de primeira socialização com o mundo “extrafamíliar” e também porque é nos espaços de pouca fiscalização da escola por parte dos adultos que a compõem, tais como o pátio, os corredores, os banheiros, que acontece o bullying.

Esse tipo específico de violência pode acontecer de maneira direta ou indireta. O bullying direto é mais fácil de verificar entre os meninos de uma faixa etária mais ou menos equivalente. Manifesta-se por meio de xingamentos, agressões físicas, empurrões, murros, apelidos maldosos frequentemente repetidos, entre outros. O bullying indireto acontece mais comumente no meio feminino e com as crianças menores. Pode-se afirmar até que este é o tipo mais forte de bullying, pois pode levar a vítima ao completo isolamento social. Isso ocorre porque os meios mais executados são as difamações, boatos inescrupulosos, intrigas, fofocas, desmoralização da vítima e de seus familiares, etc. Podem ajudar na expansão dessa forma de violência os meios de comunicação social, bem como os recursos da internet, como, por exemplo, sites de relacionamento, blogs, fotoblogs, caracterizando o cyberbullying, e muito mais. (CHALITA, 2008)

Por acontecer de maneira velada, como se pode ver acima, o bullying foi e é identificado, muitas vezes, como uma coisa normal, sendo, dessa forma, ignorado. Isso ocorre porque a linha divisória entre bom humor e brincadeiras e este tipo específico de violência é tênue. Quando falta conhecimento acerca do assunto ou uma possível manifestação desse não é levada em conta, o (a) educador (a) e/ou a instituição cometem grave omissão. Pode-se dizer que a diferença entre um tipo qualquer de violência e este específico é que, enquanto aquele pode ser simplesmente próprio da faixa etária pela qual algumas crianças e adolescentes estão passando, enquanto este ocorre por várias vezes seguidas contra uma mesma pessoa e pode causar sofrimentos físicos e, ainda mais, psicológicos, seguidos de prejuízos irreparáveis.

Neste enredo de violência simbólica, aparecem personagens que agridem e são agredidos e, embora sejam assim classificados, todos se constituem como vítimas do bullying, pois este é gerador de consequências que vão para além daquele momento circunstancial, mas que perpassa toda a vida dos indivíduos, marcando-os profundamente. Sendo assim, agressores ou bullies – são alunos (as) populares que, geralmente, têm um grupo junto a si e, para mantê-lo assim, fazendo-os sentirem-se realizados, oprimem suas vítimas por motivos inexistentes a fim de confirmar, legitimar, sua superioridade, seu poder. Um dos grandes fatores que podem influenciar no desenvolvimento desse comportamento é o mau relacionamento com a família. Aí, a criança vai, paulatinamente, se socializando com os demais - pais, irmãos (ãs), tios (as), avós -, estabelecendo, gradualmente, relações de confiança, sentindo o carinho dos seus e aprendendo a retribuí-lo. Se não acontece mais ou menos assim no ambiente doméstico, o modo de relacionar-se com os colegas e professores na escola será um reflexo de tudo aquilo que o (a) aluno (a) experimentou e experimenta em casa. Todavia, não se pode afirmar que esse fator seja o principal. Vítimas – são alunos (as) escolhidos (as) para serem intimidados, sofrerem ameaças e humilhações por causa de motivos como o comportamento, maneiras de se vestir, o sotaque, a raça, etc. Elas passam por uma experiência, pode-se até dizer em alguns casos, de quase inferno, devido a sua introspecção, resistência a se abrir e conversar com seus pais ou com outra pessoa que inspire confiança. Assim, sua dor e angústia podem chegar ao extremo de desejar se vingar dos agressores e da escola, como também de cometer suicídio, a fim de encontrar paz. Espectadores – como já diz o termo, são aqueles (as) que assistem a todas as agressões desferidas contra alguém e as encaram como coisa normal, rotineira e não acham que isso venha a causar alguma sequela futura na vida da pessoa agredida. Por outro lado, também há aqueles (as) que se sentem constrangidos ao testemunharem os eventuais casos de bullying, mas que, por medo de se tornarem vítimas ou de outras coisas, acabam tornando-se omissos (as) por não quererem nenhum tipo de envolvimento, mesmo que isto lhes fira o coração. Vítimas-agressores – são aqueles que, mesmo sendo vítimas de chacota e opressão de outros, procuram um “bode expiatório” para retribuir aquilo que receberam de seus agressores.

Todas as pessoas, em geral, sabendo ou não, já foram vítimas ou agressores no tocante a este tipo específico de violência. Isso afeta todos de alguma forma, tornando suas vidas um sofrimento sem igual.

Dentre as várias opções que podem surgir a fim de se encontrar um meio para sanar este grave problema, aparece a afetividade, que se constitui como um meio de se introduzir a confiança e assegurar o cuidado como característica essencial do ser humano.

3 A afetividade como ponto de partida

A problemática do bullying é cada vez mais evidente nas escolas e em outros ambientes pelo triste legado que a contemporaneidade tem deixado: a desumanização. Ela é mestra em embotar nos homens e nas mulheres suas capacidades de sentir compaixão pelo outro, de solidarizar-se e de demonstrar seu aspecto primeiro, o cuidado.

Os seres humanos, dentre outros fatores, caracterizam-se como tais por esta habilidade de

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