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A PRESENÇA DA FILOSOFIA NA FORMAÇÃO DOCENTE

Por:   •  23/12/2018  •  1.347 Palavras (6 Páginas)  •  349 Visualizações

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Naturalmente, professores e divulgadores das ciências se deparam com os conhecimentos prévios e as concepções espontâneas de seus interlocutores. Saberes do cotidiano e do senso comum que nem sempre, concordam com as explicações e conclusões científicas. Como enfrentar essas questões na prática? De que maneira essas formas de conhecimento se relacionam?

Certamente a problemática questão em torno de uma possível comunicação pública da ciência, traz à tona esse debate e exige uma posição mais clara quanto a situação do conhecimento do senso comum no contexto de uma sociedade cada vez mais apoiada na ciência e tecnologia.

Bachelard (1996), aponta o senso comum como um dos mais sérios obstáculos no caminho do desenvolvimento científico e, ao surgir o movimento radicalizado pela ciência moderna, declara guerra ao senso comum que deve ser encarado como fonte de conservadorismo e preconceitos.

Distante de uma concepção original e coerente próprio das classes populares, o senso comum caracteriza-se por uma visão distorcida, desagregada e incoerente do mundo; uma compreensão difusa de uma realidade marcada pela presença da ideologia dos grupos dominantes. Por conseguinte, avançar do senso comum para uma consciência filosófica significa “passar de uma concepção fragmentaria, incoerente, desarticulada, implícita, desagregada, mecânica, passiva e simplista à uma concepção unitária, coerente, articulada, explicita, original, intencional, ativa e cultivada (SAVIANI, 1980, p. 10).

Essa passagem exigira uma educação comprometida com construção de uma nova hegemonia, além de uma nova categoria de intelectuais engajados com a formação e os interesses das classes populares. Mas esse processo, Gramsci reconhece que, não existindo nenhuma atividade humana na qual se possa excluir toda intervenção intelectual, todos os homens são intelectuais.

No seu trabalho, que nunca pode ser reduzido só à capacidade técnica manual (enquanto trabalha humano), mas também fora do seu trabalho cada homem é um intelectual, um filósofo, enquanto participa de uma determinada concepção do mundo, tem gostos artísticos e se comporta de acordo com uma linha moral (GRAMSCI, 1979, p. 8).

Assim mantendo-se coerente com a ideia de que todo homem é filosófico, o autor reconhece a presença de um núcleo positivo no senso comum o qual denomina de “bom senso”. Com o aperfeiçoamento do crescente conhecimento científico vinculado com a tecnologia, pode num futuro bem próximo, inviabilizar a comunicação pública da ciência.

De acordo com Levy-Leblond (2012) reconhecendo que, por mais que a ciência seja formalizada, ela não pode prescindir a linguagem comum, pois é no espaço entre aberto entre o cálculo e a palavra que o pensamento pode se manifestar, tanto por meio da narração e da metáfora, quanto por intermédio do imaginário.

Portanto, se for objetivo da ciência fazer a crítica positiva do senso comum, para alcançar tal propósito, terá que, necessariamente aproximar-se dele, sem privilegio de exceção linguística. É só a partir do autentico dialogo mesmo quando construídos a partir de horizontes culturais diferentes, que se pode produzir uma situação emancipadora dos envolvidos.

Referências

BACHELARD, B.S. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro, editora Contraponto, 1996.

CHARLOT, Bernard. A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. Revista Brasileira de Educação, v.11, n.31, p.7-18, Jan-abr. 2006.

GRAMSCI, A. Os Intelectuais e a organização da cultura. Tradução de Carlos N. Coutinho. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1979.

LAGEMANN, E.C. An elusive science: the troubling history of educational research. Chicago: University of Chicago Press, 2000.

LEVY-LEBLOND, J. O pensar e a prática da ciência, antinomias da razão. Tradução: Maria Lúcia Panzoldo, Bauru, São Paulo, EDUSC, 2004.

SANTOS, B. S. Introdução a uma ciência pós-Moderna. Rio de Janeiro, Graal, 2003.

SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo, Cortez, 1980.

SHULMAN, L. Research on teaching: a historical and personal perspective. In: OSER, F.; DICK, A.; PATRY, J.L. (Ed.). Effective and responsible teaching: the new synthesis. San Francisco: Jossey Bass, 1992. p. 14-29.

ZEINECHER, Kenneth. Uma análise crítica sobre a “reflexão” como conceito estruturante na formação do docente. Educ. Soc., Campinas, vol.29, n.103, p.535-554, maio/ago. 2008.

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