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A Exposição da obra “o Existencialismo é um Humanismo”

Por:   •  22/11/2018  •  2.012 Palavras (9 Páginas)  •  458 Visualizações

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Partindo do extremo laico para um extremo religioso, Sartre analisa agora uma moral cristã. Tal moral estabelece que as atitudes humanas devem se fundar na caridade e os homens devem amar uns aos outros. Mas quem são “os outros”? O cristianismo, para Sartre, não é capaz de definir ao certo como os homens devem agir, por possuir uma moral rasa e inespecífica. Há ainda a moral kantiana, que vê no imperativo categórico – o agir de modo que a ação torne-se uma máxima universal – uma solução para determinar a ação humana. Kant afirmava ainda que devemos tratar os outros como fim e nunca como meio. Entretanto, para Sartre, ao agir, o homem escolhe um fim, e tudo aquilo que não foi escolhido, passa a ser um meio. Assim, o francês vê na moral kantiana mais um tipo de doutrina que não concede ao homem a base para o agir.

Agora, então, pode-se introduzir uma moral existencialista. Sartre chama de moral da ação e do engajamento um tipo de moral em que os valores são contemporâneos ao ato. Assim, a moral é construída com o agir, sem se deixar influenciar por fatores exteriores. Nas palavras de Sartre:

“o sentimento constrói-se através dos atos praticados; não posso, portanto, pedir-lhe que me guie. O que significa que não posso nem procurar em mim mesmo a autenticidade que me impele a agir, nem buscar numa moral os conceitos que me autorizam a agir.” (pág.8)

Para melhor exemplificar, o filósofo compara a moral que tenta construir a uma obra de arte e seu autor. Ao pintar um quadro, o artista não possui valores à priori que ditarão qual será o resultado da obra, e o quadro que ele deveria ter feito, é o quadro que fez. Assim é a moral que Sartre tenta estabelecer: uma moral criativa. A pintura só será julgada se for feita, bem como a moral, que só terá valor com a prática do ato. À priori, não há como decidir o que fazer; o homem inventa e cria seus valores com a própria ação. Com isso, não há gratuidade no ato, mas um “construir a si próprio” por meio do agir. Reforçando tal ponderação, Sartre afirma que:

“O homem faz-se; ele não está pronto logo de início; ele se constrói escolhendo a sua moral; e a pressão das circunstâncias é tal que ele não pode deixar de escolher uma moral. Só definimos o homem em relação a um engajamento.” (pág.12)

Assim, para o filósofo, a moral existencialista não dita os rumos do homem, mas concede a liberdade para que ele aja livremente, sem basear a ação em nenhum valor exterior.

Tomando como base o entendimento de moral sartreana estabelecida acima, pode-se agora relacioná-la com os efeitos da consciência e da responsabilidade anteriormente citadas. Assim, discute-se alguns conceitos postulados por Sartre. Tais conceitos, segundo o filósofo, foram usados com má-fé contra a doutrina existencialista e necessitam de melhor esclarecimento. São eles: a angústia, o desamparo e o desespero.

Define-se a primeira (angústia) como:

“o homem que se engaja e que se dá conta de que ele não é apenas aquele que escolheu ser, mas também um legislador que escolhe simultaneamente a si mesmo e a humanidade inteira, não consegue escapar ao sentimento de sua total e profunda responsabilidade.” (pág. 5).

A segunda (desamparo) significa que “Deus não existe e que é necessário levar esse fato às últimas consequências.” (pág. 6). Para complementar:

“De fato, tudo é permitido se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem está desamparado porque não encontra nele próprio nem fora dele nada a que se agarrar. Para começar, não encontra desculpas. Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais ser explicado por referência a uma natureza humana dada e definitiva; ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim, não teremos nem atrás de nós, nem na nossa frente, no reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz.” (pág. 7).

Entende-se, então, que o desamparo é a consciência de que o homem está livre e só no mundo, e não existem valores que auxiliem na vivência humana.

Quanto ao terceiro conceito, o desespero, tem-se a definição de que “só podemos contar com o que depende da nossa vontade ou com o conjunto de probabilidades que tornam a nossa ação possível.” (pág. 10). Quando um homem sai de casa, por exemplo, tem que contar com as inúmeros possibilidades exteriores a ele. O homem que deseja algo tem que fazer tudo o que está a seu alcance, pois acerca do que está fora dele, nada pode ser feito. E o ser humano deve ser julgado por aquilo que pode fazer e fez. Um homem só é o que é após ter realizado um ato, e não por aquilo que quis fazer, ou poderia fazer, mas não o fez. Assim, Sartre pondera:

"O que as pessoas, obscuramente, sentem, e que as atemoriza, é que o covarde que nós lhes apresentamos é culpado por sua covardia. O que as pessoas querem é que nasçamos covardes ou heróis. Uma das críticas mais freqüentemente feitas aos Caminhos da Liberdade pode ser formulada deste modo: “Mas, afinal, esses seres tão fracos, como poderão ser transformados em heróis?”. Tal objeção é um tanto ridícula, pois pressupõe que as pessoas nasçam heróis. E, no fundo, é isso que todos desejam pensar: se eu nasço covarde, posso viver em perfeita paz, nada posso fazer, serei covarde a vida inteira, o que quer que eu faça; se nasço herói, também viverei inteiramente tranqüilo, serei herói durante a vida toda, beberei como um herói; comerei como um herói. O que o existencialista afirma é que o covarde se faz covarde, que o herói se faz herói; existe sempre, para o covarde, uma possibilidade de não mais

ser covarde, e, para o herói, de deixar de o ser. O que conta é o engajamento

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