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A ESCOLA BURGUESA E O PROBLEMA DA AUTÔNOMIA HUMANA: DA MODERNIDADE À CONTEMPORANEIDADE

Por:   •  26/4/2018  •  5.956 Palavras (24 Páginas)  •  359 Visualizações

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E no último capítulo, expõe-se a crítica de Nietzsche e de grandes pensadores brasileiros contemporâneos a uma prática educacional e cultural em declínio valorativo de tendência reducionista, utilitarista e mercantilista almejando tão somente treinar e especializar cidadãos para o mundo do trabalho por meio de uma proposta curricular hegemônica burguesa; abandonando com isso o ideal educacional de sentido integral (simbiose, corpo e espírito) de formar seres humanos para a vida em sociedade; ignora, portanto a experienciação criadora individual quando se forma e se sustenta apenas o indivíduo teórico, receptivo e passivo (apatia política) sem condições de reagir e incapacitado para criar novos valores que contribuam para a transformação social e da própria vida.

A modernidade gerou certo tipo de ser humano,

Seus valores de objetividade, veracidade, racionalidade, etc. levaram a uma homogeneização da existência humana, de tal forma que sentindo o mesmo, vendo o mesmo, experienciando o mesmo e querendo as mesmas coisas a comunidade é hoje mais forte do nunca e se entende mais do que antes, em direção a uma expansão universal que chamamos atualmente de cosmopolitismo ou mesmo de ‘aldeia global’. Mas a modernidade fez isso precisamente ignorando o que ela fez, ou, como Nietzsche diz, nos geramos o ser humano acidentalmente. Educar conscientemente significa, por outro lado, fazer da comunidade uma realidade, não como a soma a de particulares idênticos, em termos de diferença social: [...] ‘educar o grande indivíduo de maneiras outras e mais elevadas do que tem sido feito até agora acidentalmente. Essas são as minhas esperanças: a criação de seres humanos eminentes’. (HAASE, 2011, p. 61).

A propósito de tal constatação, o qual, se talvez não nos auxilie para resolver o nosso problema, pode nos ajudar na sua formulação.

O ESTADO BURGUÊS E A EDUCAÇÃO

Antes de começar a dissertar sobre os impulsos dos movimentos da escola burguesa por essa classe que no começo foi revolucionária, vamos rever o século XVI que foi um período importante em que há uma separação no cerne da cristandade e os movimentos reformadores.

Nesta fase de mudanças surgem propostas de instituir escolas para todas as crianças, lideradas pelos reformadores: Lutero, Calvino e depois Comenius que é o maior nome nesse momento da história da educação. De acordo com esses reformadores, obviamente, sem tirar o caráter religioso da educação, mas fazer com que o poder público se encarregasse dessa instituição e da alfabetização de todas as crianças.

Processo seguro e excedente de instituir, em todas as cidades e aldeias, escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo, sem excetuar ninguém em parte alguma, possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e, desta maneira, possa ser, nos anos da puberdade, instruída em tudo o que diz respeito à vida presente e à futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e com solidez (COMENIUS, 1996, p. 43, adaptação para o português brasileiro nossa).

Saindo do século XVII com Comenius que foi um grande nome da educação no período da modernidade, cuja máxima era “ensinar tudo a todos”, ele foi o criador desse ideal de educação que todos aprendemos a admirar que é a educação para todos e sem qualquer limite de idade e de conhecimento.

No século XVIII a tendência da educação é de laicização (lenta saída das escolas do poder religioso para o Estado) da educação, e o pensamento burguês revolucionário a partir do século VXII e XVIII principalmente, provoca um impulso nessa concepção de educação laica no momento em que pressupõe uma série de ideias importantes para a educação da época como, por exemplo: a questão de que a educação ficasse a cargo do Estado, a importância do conhecimento de outras ciências e não meramente o conhecimento baseado na teologia ou na formação do cristão, então, o pensamento burguês presta esta contribuição neste momento (MANACORDA, 1992, p. 269).

Ao mesmo tempo, vamos observar no ambiente dessa construção daquilo que chamamos de escola estatal, (que é aquela ideia antiga que provem de Aristóteles e da civilização grega que passa para civilização romana e que submerge na idade média) e que agora retorna através de movimentos reformadores e com mais força no século XVIII em diante; vamos verificar no âmbito da Europa uma série de medidas, intervenções e iniciativas do Estado ou de figuras públicas (políticos) em relação à educação.

Segundo Manacorda (1992, p. 270), a educação se torna um ato político, portanto, saindo da esfera estritamente religiosa na qual ela vinha sob a hegemonia das igrejas, ela passa a ter essa conotação mais política passando para o âmbito estatal. Temos várias iniciativas, mas as mais clássicas são as que surgem da revolução francesa, o período napoleônico que instituem uma escola primária para todas as crianças e ao mesmo tempo uma primeira experiência de formação de professores que é a escola normal que, aliás, irá exercer uma influência no Brasil.

A REVOLUÇÃO DA ESCOLA ESTATATAL

A revolução burguesa e a proposta da escola estatal: além da França no período napoleônico temos vários outros Estados europeus daquele momento como a Áustria que também foi uma grande propulsora da escola pública neste momento do século XVIII; a Prússia o Estado mais avançado da Alemanha o primeiro a instituir a obrigatoriedade escolar. Já a Itália (e os países que se mantiveram mais restritos ao catolicismo) prossegue com uma educação pública, mas não tanto por causa do poder da igreja católica no seu solo, portanto, a educação com essa conotação estatal demora mais a se enraizar.

O que as revoluções burguesas trouxeram em relação à construção da escola de Estado pública? A universalidade e a extensão do direito à escola a todas as crianças, indistintamente de classes sociais e meninos e meninas, esse é o princípio da universalidade em que muitos países ainda não atingiram inclusive o Brasil. Estatalidade, obrigação do Estado do poder público de criar e manter escolas, já estavam presentes no pensamento de Lutero, embora naquela época a educação tivesse uma conotação religiosa. Gratuidade o direito de estudar sem pagar por isso, ou seja, a educação não pode ser universal, estatal e pública se não for gratuita; Laicidade foi um lema muito importante e avançado porque previu o princípio de que a escola não ficasse ligada

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