A Concepção de ser humano: a antropologia de Viktor Frankl
Por: SonSolimar • 23/11/2018 • 5.905 Palavras (24 Páginas) • 566 Visualizações
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A primeira lei diz:
Se tomarmos uma e a mesma coisa numa dada dimensão e a projetamos em várias dimensões inferiores àquela que lhe é própria, a coisa em questão representa-se de tal modo que as figuras obtidas se opõem umas às outras. Tomaremos por exemplo um copo, representado geometricamente sob a forma de cilindro, em um especial tridimensional. Projetemo-lo em seguida nos planos horizontal e longitudinal; e teremos: num caso, um círculo; no outro, um retângulo. (FRANKL, 2010, p. 43)
[pic 2]
A segunda lei diz:
[...] quando não um, mas vários objetos são projetados em uma outra dimensão (não em diferentes dimensões), a que está mais próxima da sua própria, formam-se eles de tal maneira que as figurar, embora não se contradizendo umas às outras, são ambíguas. Se eu projeto, por exemplo, um cilindro, um cone e uma esfera no plano bidimensional, em todos os casos se obtém um círculo. Se suponho que o cone e a esfera se tratam de sombra lançadas pelo cilindro, então, consigo concluir, n de uma delas, se foi o cilindro, o cone ou a esfera que a projetou. (FRANKL, 1978, p. 140)
Aplicando essas leis ao homem, se o projetarmos pelas dimensões específicas, perceberemos que a imagem projetada se contradiz uma com a outra. Assim sendo, o homem observado somente em suas dimensões inferiores, produz reflexos que lhe são peculiares a essas dimensões, contraditórias entre si. Por exemplo: a projeção no plano biológico produz apenas resultados somáticos, a psicológico, fenômenos psíquicos. Na perspectiva da ontologia dimensional, essa contradição não diz a respeito da unidade do homem, tanto é que essas diferenças se tratam do mesmo cilindro. Assim como o copo, um vaso aberto cujo projeção deu como resultado um sistema fechado, o homem se constitui em sistemas fechados, se visto apensas por ângulos específicos. Outra vez podemos perceber uma contradição na projeção, já que é próprio da natureza do homem que “seja aberto.” (FRANKL, 1978, p.139)
Na primeira lei há uma inconsistência entre a imagem que surge e o objeto, e na segunda há uma diferença de formas entre a imagem projetada e a mesma de três objetos.
Viktor Frankl traz à tona o ser humano espiritual - não como meramente religioso - como uma dimensão integradora que há muito procurava, e até então não era notada. Frankl em sua ontologia que inclui a dimensão espiritual do homem não sobrepondo e muito menos excluindo as outras dimensões, mas se tratando das funções do espírito, questão da liberdade da pessoa humana e sua imortalidade, que foi encontrado em sua ontologia dimensional. Essa dimensão é a que nos diferencia dos outros animais e, que confere a pessoa humana sua incondicionalidade, como nos afirma Frankl:
A ontologia, contudo, não deixa também de conhecer o homem para além de sua condicionalidade, ela o conhece na qualidade de incondicionado; afora o homem condicionado, biológica, psicológica, socialmente, o Homo sapiens recens, o animal racional, o zoon politikon, ela conhece ainda o homem incondicionado – este substantivo ao qual só depois são “adicionados” todas as condicionalidades expressas em todos esses adjetivos – substantivos de que essas condicionalidades precisam como sei pressuposto. (FRANKL, 1978. p. 70)
Ao afirmar que o ser humano é humano por possuir essa dimensão noética que é aberta ao mundo, Frankl, desenvolve sua teoria tendo como bases três conceitos fundamentais que constitui o ser humano: A liberdade de Vontade, a vontade de sentido e o sentido da vida.
- Os pilares do ser humano:
- Liberdade da Vontade
Ao falarmos da liberdade, esse conceito traz à tona o problema do livre arbítrio, ou a oposição entre o determinismo e indeterminismo. A liberdade está na essência do ser humano, pois ela está diretamente atrelada com a dimensão espiritual, ela confere a ele o poder de decidir sobre si mesmo e sobre o mundo, livre de todas e quaisquer condicionamentos ou modo que se encontre. Pois o homem, nos afirma Frankl (2014a, p. 26) “não é livre de suas contingências, mas, sim, livre para tomar atitudes diante de quaisquer que sejas as condições que sejam apresentadas a ele.”
Essa liberdade, nada mais é do que a possibilidade de escolha na concretude de uma situação. Nessa liberdade, entendemos que a vontade[6] que o ser humano possui é uma liberdade para tomar decisões independente dos condicionamentos, estímulos e pulsões que o ser humano é exposto.
Juntamente com essa liberdade da vontade que o ser humano possui, está a responsabilidade, pois se o ser humano é livre para escolher, ele é responsável pela mesma. A logoterapia frankliana, não minimiza os condicionamentos reais da liberdade humana, em vez disso, assume uma posição real em face de tais limites, ressaltando a posição exclusivamente humana, como é a capacidade de autodeterminar-se, isto é, a capacidade de modelar o seu próprio destino:
O que realmente importa, não são as características do nosso caráter, os estímulos e os instintos em si mesmos, e sim a atitude que tomamos em relação a eles. É a capacidade de tomar determinadas atitude que nos torna seres humanos. (FRANKL, apud PETER, 2012, p. 20)
A liberdade da vontade, opõe-se ao princípio que caracteriza a maior parte dos atuais saberes que se ocupam do homem: o determinismo. [...] “pois falar de liberdade da vontade não implica, de forma alguma, um indeterminismo a priori. Afinal a liberdade da vontade significa a liberdade da vontade humana, e esta é a vontade de um ser finito”. (FRANKL, 2014a, p. 26). Como podemos ver que o ser humano não é livre dos condicionamentos, mas é livre diante deles. Essa responsabilidade está ligada também ao fato da finitude humana, e a irrepetibilidade da existência, uma vez que cada situação é irrepetível.
Um outro aspecto da liberdade humana é a capacidade de autodistanciamento. Frankl entende que “o homem é capaz de distanciar-se não apenas de uma situação, mas de si mesmo” (FRANKL, 2014a, p.27). Desse modo, esse autodistanciamento do ser humano, exige um autodesprendimento que permite o ser humano olhar para si e se enxergar de modo distanciado, uma vez que só ele é capaz dessa ação autorreflexão.
Para Frankl (2014a, p. 27) o ser humano “é capaz de escolher uma atitude com respeito a si mesmo e, assim fazendo, consegue tomar posição, colocar-se diante de seus condicionamentos
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