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A trajetória do futebol brasileiro durante a ditadura militar

Por:   •  14/11/2018  •  3.545 Palavras (15 Páginas)  •  276 Visualizações

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Após a convocação final dos jogadores para a Copa, Médici criticou a ausência do atacante Dario “peito de aço”, Saldanha respondeu: O presidente e eu temos muitas coisas em comum: somos gaúchos, somos gremistas e gostamos de futebol. Mas nem eu escalo ministério, nem o presidente escala time (OLIVEIRA, 2016). Médici nunca respondeu a declaração de João Saldanha. Alguns meses antes do embarque da seleção para o México, Saldanha é demitido sem nenhum tipo de explicação por parte da Confederação. Anos após a Copa do México, a CBD deu sua justificativa, dizendo que a opção tática escolhida pelo treinador era inviável para a vitória em uma Copa e que a instituição prezava pelo bem maior que era o título. Após a saída de Saldanha, Dario foi convocado e viajou para a Copa do Mundo, não jogando nenhuma partida.

Saldanha também expôs que enquanto esteve ocupando o cargo de treinador da seleção brasileira, teve diversos amigos mortos pela repressão. Ressaltou que levou uma pilha de documentos para o México comprovando a prisão de mais de 3.000 presos, mais de 300 mortos e inúmeros torturados pela ditadura militar brasileira. Reforçando mais ainda a tese de que para Médici era fundamental retirar um dos principais militantes do PCB de um dos principais cargos futebolístico do país. (VICTOR, 2017).

PRÉ-COPA DO MUNDO DE 1970

Inicia-se os preparativos finais para a Copa do Mundo. Após a saída de Saldanha entra em seu lugar Mário Zagallo e sua comissão técnica formada, em grande maioria, de miliares da Escola de Educação Física do Exército. Com uma rotina, literalmente, de nível militar, os jogadores começam o treinamento e viajam para o México sem nunca receberem explicações do porquê da saída de Saldanha do comando da Seleção (MARCOLINO, 2008).

O Brasil todo estava confiante na Seleção, pois ela era considerada a melhor de todos os tempos até aquele momento e não poderia ter dado outro resultado. Com uma campanha perfeita de seis jogos com seis vitórias o Brasil sagrasse tricampeão mundial, goleando por 4x1 a Itália na final. Durante toda a duração da Copa do Mundo não houve grandes movimentações no Brasil, nem por parte dos militares, nem por parte da população, todos estavam “unidos” pelo bem maior: ver a Seleção Brasileira jogar a Copa. Tem-se relatos de que durante os jogos as torturas dos presos políticos eram cessadas e caso a Seleção ganhasse a partida os presos recebiam o “presente” de não sofrerem interrogatórios pelo restante do dia (MARCOLINO, 2008).

O governo desejava fortemente o título e não poupou esforços para angariar afeto dos brasileiros: com uso de jingles em homenagem aos jogadores e militares, propagandas usando jogadores (principalmente Pelé, o “garoto propaganda” dos militares por muito tempo), pronunciamentos de Médici após as vitórias da Seleção e afins, os militares conseguiam mascarar perfeitamente tudo o que de ruim estava ocorrendo na época. Mais do que nunca a censura estava forte, chegando ao ponto de proibirem a mídia de fazer a divulgação do surto de meningite que ocorreu no país, desavisando os pais e matando dezenas de crianças em um curto espaço de tempo (MARCOLINO, 2008).

Após o título e a chegada dos jogadores ao Brasil, o país parou para saldar os heróis do tri, passando por vários estados e fazendo mais propaganda para os militares, os brasileiros comemorando nas ruas foi um momento de liberdade no meio daquele mar de censuras. Nessa mesmo momento a economia brasileira crescia mais de 10% ao ano, o famoso “milagre econômico” e junto desse sucesso financeiro, foi lançado alguns slogans muito marcantes até hoje: “Ninguém segura esse país. ” e “Ame-o ou deixe-o.”, casando perfeitamente com o título mundial. Um forte argumento usado pelos militares na época foi que a qualidade da Seleção era apenas um reflexo da qualidade do Brasil (VILELA, 2006).

Vendo o grande sucesso que o título trouxe, os militares começaram a investir fortemente no futebol. No mesmo ano o Governo Federal cria a Loteria Esportiva e no ano seguinte, 1971, os militares concebem a ideia do Campeonato Brasileiro que se tem até hoje, mas em outros moldes de competição. A primeiro momento o nome “Campeonato da Integração Nacional” foi cogitado, mas logo abandonado (JÚNIOR, 2014).

Médici era, de fato um apaixonado por futebol e sempre se aproveitou disso, tanto que entre 1970 e 1982 foram construídos por todo o país, principalmente Norte e Nordeste, 21 estádios de futebol através de verbas públicas. Mesmo após a sua saída do poder em 1974, a construção de estádios não teve seu ritmo diminuído. Com a criação do Campeonato Brasileiro e as dezenas de times por todo o país podendo participar, o futebol na década de 70 é muito visto como o “ópio do povo”, distraindo o indivíduo e deixando-o alheio a qualquer absurdo da sociedade.

A SITUAÇÃO DA SELEÇÃO PÓS-COPA DO MUNDO DE 1970

Para a Copa do Mundo de 1974 (Alemanha) o Brasil já estava automaticamente classificado por ser o campeão em 1970, mas o elenco ainda dirigido por Zagallo não fazia sombra ao time de quatro anos atrás, muitos titulares não faziam mais parte do plantel. Pelé havia se aposentado da Seleção em 1971 e recebeu um pedido para que voltasse a jogar pela Seleção, feito pela filha de Enertos Geisel (presidente entre 1974 e 1979). Ele recusa o pedido em boicote a ditadura, que àquela altura já prejudicava enormemente o país (CARVALHO, 2013).

A escolha de Pelé não afetou tanto a Seleção, mas naquela Copa o país conseguiu apenas um 4º lugar. A exemplo da derrota em campo da Seleção, a ditadura também sofre uma dura derrota nas urnas durante as eleições daquele ano corrente, quando o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que teve a primeira oportunidade de usar a TV para divulgar suas propostas, elegeu 16 de 22 senadores e 44% dos deputados federais. O Brasil voltaria a fracassar nas Copas de 1978 (Argentina) e 1982 (Espanha), mas o governo conseguiria manter a maioria no Legislativo (GUTERMAN, 2004, p.268). Durante todo o restante do tempo que os militares estiveram no poder a Seleção não obteve mais grandes feitos, deixando um excelente espaço para o protagonismo dos clubes de futebol.

A EXPLOSÃO DO FUTEBOL NACIONAL

A segunda metade da década de 70 foi a explosão do Campeonato Brasileiro, a cada ano que passava mais e mais times se juntavam a competição, tornando-a cada vez mais competitiva e mais complicada de participar. A fim de agradar toda a população, no campeonato de 1978 quando 74 equipes

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