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Resumo do livro "Comida e Sociedade"

Por:   •  20/7/2018  •  1.566 Palavras (7 Páginas)  •  522 Visualizações

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Nesse sentido, atribui ao consumo excessivo de carne pelos países desenvolvidos (industrializados), parte importante do impacto ambiental contemporâneo. O sistema alimentar baseado no consumo de carnes, carboidratos e açúcar demanda uma produção agrícola para suprir a alimentação animal, com graves consequências sociais e ambientais.

Esse fato nos remete a definição da Segurança Alimentar e Nutricional, que abrange dois enfoques: o primeiro diz respeito à acessibilidade ao alimento (food security) e o segundo se relaciona ao consumo de alimentos livres de riscos para a saúde (food safety). A Segurança Alimentar e Nutricional se relaciona com a soberania alimentar, que diz respeito ao direito de estar informado e decidir sobre a própria alimentação, assim como manter e desenvolver os seus alimentos, tendo em conta a diversidade cultural e produtiva. Busca-se principalmente, promover a agricultura local e camponesa, através de políticas públicas que garantam a liberdade de cultivo, o acesso à terra, à água, às sementes, entre outros.

Para compreender como se dá consumo alimentar em momentos de crise, assim como sua relação com a constituição biológica de certas nações, a obra aponta o estudo diacrônico comparativo entre os momentos históricos de escassez ou de abundância na produção de alimentos, considerando a produção e a distribuição. Durante muitos séculos os estudos relacionavam a produção de alimentos com o consumo. Desse modo, a fome em períodos de crise era explicada pela concomitante escassez de alimentos. O autor salienta, entretanto, que apesar da grande produção agrícola do século XX, considerada a maior de toda a história da humanidade (atribuída principalmente ao desenvolvimento de recursos tecnológicos, como uso de agrotóxicos e engenharia genética), cresce a fome em todo o mundo.

Esse fato vem demonstrar que a teoria Malthusiana, do séc. XIX, sobre o crescimento populacional em relação à produção, não se concretizou. Pelo contrário, intensificaram-se as formas de desnutrição. Marx refuta veementemente a teoria malthusiana, atribuindo às relações de opressão e exploração no âmbito do trabalho, as causas do desemprego, miséria e subnutrição (p. 34). As causas das diferentes formas de desnutrição no mundo contemporâneo são atribuídas à falta de recursos, decorrente da má distribuição de renda, que propicia a incapacidade de aquisição de alimentos por significativa parcela da população mundial e aumenta as desigualdades.

O autor diz:

E, de fato, pôde-se verificar, no início do século XX, um salto significativo na melhoria da nutrição média das populações de diversos países, particularmente daqueles que desenvolveram a mecanização da produção e distribuição agrícola (p. 36).

Questiono se, de fato, houve melhoria significativa da nutrição, uma vez que evidenciamos, no mundo industrializado, um aumento da prevalência de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial, dislipidemias, doenças cardíacas, entre outras, geralmente associadas aos modos do comer. O fenômeno fast-food tem sido apontado como um dos fatores relacionados à mudança de hábitos alimentares nos nossos dias, uma vez que ocorre a substituição da alimentação doméstica pelo sistema de restaurantes e lanchonetes.

Dando sequência à história da alimentação, Carneiro investe em uma viagem cronológica para focalizar a produção acadêmica sobre o tema, ressaltando os aspectos culturais relativos às atribuições femininas e masculinas da divisão do trabalho, em determinadas sociedades ágrafas, em que a caça é considerada tipicamente masculina e a coleta, tipicamente feminina. Nessas sociedades predomina a interpretação “pró-masculina” (p. 50).

A descoberta, produção e consumo dos vegetais e do sal pelo ser humano, também é apontada pelo autor como elemento importante para a compreensão do desenvolvimento cultural e social da humanidade, além dos aspectos relacionados à sua sobrevivência. O consumo de certos alimentos por um determinado segmento da sociedade pode indicar o seu status social. Como exemplo, Carneiro cita o consumo de carne nas principais civilizações restrito apenas aos grupos da elite.

Dando continuidade, o autor discorre sobre o período das navegações e descoberta das Américas, a partir do final do século XV. O início do processo de globalização, com a descoberta e comércio das especiarias, alterou a dieta de significativa parcela da população mundial. Além desses, na Era Moderna, alimentos como o café, chocolate, açúcar, álcool e chá, os quais são denominados pelo autor de “alimentos-drogas” (p. 89), pois eram utilizados como medicamentos pelos europeus desde a Idade Média. O açúcar foi o gênero que mais influenciou o mundo ocidental alterando os hábitos alimentares trazendo profundas repercussões econômicas e sociais, haja vista o processo de escravização dos africanos pelo ocidente durante séculos e o crescente mercado consumidor conformando o comércio da época colonial.

No que diz respeito aos dias atuais, Carneiro menciona o fenômeno de transição alimentar com a mudança do padrão alimentar centrado no consumo de fast-foods e caracterizada pela presença concomitante de obesidade e desnutrição, como confirma Monteiro (2000). As alterações globais relacionadas aos padrões alimentares apontam para contradições, como: aumento da produção alimentar/fome crescente; aumento de transgênicos/fome crescente. Vale ressaltar que, no Brasil, o agronegócio agrupa grandes proprietários às empresas

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