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PODER PRIMITIVO E APOIO CARISTICO

Por:   •  22/10/2018  •  2.613 Palavras (11 Páginas)  •  242 Visualizações

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É possível compreender a partir da citação, que, nas tribos primitivas, tudo estava relacionado com o divino, com o mágico, nada acontecia por acontecer. Governaria, então, nessas sociedades, quem fosse capaz de interpretar, domar e controlar as forças invisíveis colocando-as a favor do grupo.

Teria sido reconhecido como rei, e eventualmente teria sido forçado a cumprir essa função, um homem capaz de comandar não os homens, mas as forças invisíveis a fim de torna-las favoráveis. Sua função era desarmar as más intenções, atraindo-as, se necessário, apenas para si, e sacrificando-se. (JOUVENEL, 2011, p. 103).

A capacidade de controlar essas forças seria, então, a base da legitimação de mando do governante (podendo ser entendida como uma forma de dominação carismática, como veremos mais a frente). Por essa ser sua base de legitimação, o poder do governante apenas existe enquanto ele for capaz de dominar essas forças invisíveis, podendo ser deposto (na maioria das vezes é morto) se for julgado ineficiente ou danoso pela comunidade. Pierre Clastres, em seu livro “Arqueologia da violência”, analise o papel do líder primitivo. Segundo ele o governante deveria manter-se fiel as vontades da tribo, podendo também ser “eliminado” caso coloque suas próprias vontades à frente das vontades da tribo. Ele representaria as vontades coletivas da tribo.

Tendo o rei que domar constantemente as forças más, causar a multiplicação das coisas boas, além de manter a força da tribo, compreende-se que ele possa ser morto por ineficácia. Ou, ainda, que se julgue desvantajoso para tribo o declínio de seu poder. (JOUVENEL, 2011, p. 104).

Essencialmente, compete-lhe assumir a vontade da sociedade de mostrar-se como uma totalidade una, isto é, assumir o esforço concentrado, deliberado, da comunidade, com vistas em afirmar sua especificidade, sua autonomia, sua independência em relação às outras comunidades. Em outras palavras, o líder primitivo é principalmente o homem que fala em nome da sociedade quando circunstancias e acontecimentos a colocam em relação com os outros. (CLASTRES, 2004, p. 147).

O chefe está sob vigilância na tribo: a sociedade cuida para não deixar o gosto do prestígio transformar-se em desejo de poder. Se o desejo de poder do chefe torna-se muito evidente, o procedimento empregado é simples: ele é abandonado ou mesmo morto.(CLASTRES, 2004, p. 151).

Mas quem, então, dominaria esses saberes místicos? Quem saberia interpretar as forças da natureza, de forma correta, e transformá-las em elementos benéficos à comunidade? Os velhos. Eram os velhos que, por experiência, possuíam esse saber e, por conta disso, governariam. Os velhos seriam responsáveis por transmitir esse conhecimento para os jovens que, futuramente, tomariam seu lugar na liderança da tribo.

Conhecer a vontade das forças ocultas, saber quando e em que condições ela serão favoráveis, é o verdadeiro meio de assegurar o comando político entre os primitivos. Essa ciência pertence naturalmente aos velhos. Todavia, alguns estão ainda mais próximos dos deuses, tanto que podem fazê-los agir. Não se trata aqui de curvar a vontade divina pela prece, mas de certo modo força-la por certos encantamentos ou certos ritos. (JOUVENEL, 2011, p. 106-107).

Será passado agora para a análise e explicação do conceito de dominação carismática de Max Weber. Weber, em seu texto ”Os três tipos puros de dominação legítima”, disserta sobre as bases de legitimação que os governos se apoiariam para sustentar sua dominação. O autor, como o próprio título evidencia, divide essas dominações e suas bases de legitimação em três, deixando claro que essa divisão é puramente analítica, os tipos de dominação se mesclariam na prática.

Em forma totalmente pura, as “bases de legitimidade” da dominação são somente três, cada uma das quais se acha entrelaçada – no tipo puro – com uma estrutura sociológica fundamentalmente diversa no quadro e dos meios administrativos. (WEBER, 1992, p. 129).

Primeiramente, a dominação legal, que se apoiaria sobre um estatuto, sobre uma regra. Sua ideia básica seria que qualquer direito poderia ser criado e modificado mediante um estatuto sancionado de forma correta quando a sua forma.

Obedece-se não à pessoa em virtude de seu direito próprio, mas à regra estatuída, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve obedecer. Também quem ordena obedece, ao emitir uma ordem, a uma regra: à “lei” ou “regulamento” de uma norma formalmente abstrata. O tipo daquele que ordena é o “superior”, cujo direito de mando está legitimado por uma regra estatuída. (WEBER, 1992, p. 128).

Em seguida define o a dominação tradicional. Esse tipo de dominação se apoiaria no costume, no hábito de se obedecer que existe a tempos. “Dominação tradicional em virtude da crença na santidade das ordenações e dos poderes senhorias de há muito existentes.” (WEBER, 1992, p. 131). Aquele que estivesse no governo obteria sua legitimação devido à fidelidade do povo investida nele pela tradição. O governante teria que manter suas ordenações dentro dos limites da tradição, colocando em perigo, caso transpassasse esse limites, a legitimação de seu mando.

Obedece-se à pessoa em virtude de sua dignidade própria, santificada pela tradição: por fidelidade. O conteúdo das ordens está fixado pela tradição, cuja violação desconsiderada por parte do senhor poria em perigo a legitimidade do seu próprio domínio, que repousa exclusivamente na santidade delas. (WEBER, 1992, p. 131).

E, por último, e é nessa em que se aprofundará mais a análise, a dominação carismática. Nesse tipo de dominação obedece-se devido ao afeto à pessoa do senhor, em outras palavras, seu carisma, e, também, devido as suas “faculdades mágicas”, como define Weber. A legitimidade de mando do governante só existirá enquanto seu carisma existir, pois o povo só o obedece devido a ele. Weber diz também que o dominador carismático deve, para que consiga se sustentar no poder, fazer com que a população acredite que sua atuação como governante é boa para a comunidade, que, apenas com a sua liderança, a sociedade poderá ter períodos prósperos. Se essa crença falha, seu domínio se vê em perigo. Em suma, o líder carismático deve manter a crença da população voltada em si mesmo para que consiga sustentar seu domínio legítimo. Contudo, sua autoridade, sua capacidade de manipular as forças mágicas, segundo Weber, não derivaria da fé de sua comunidade, mas justamente o oposto, por conseguir manipular as forças mágicas ele veria

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