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Introdução psicologica ao aborto de anencefalos

Por:   •  31/1/2018  •  4.233 Palavras (17 Páginas)  •  315 Visualizações

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intensivos. Ainda que sobrevivam às primeiras horas, para alguns autores, grande parte deles irá a óbito dentro de dois dias do nascimento, sendo que nenhum sobreviverá além de duas semanas5 (C). Dessa forma, defende-se que não há sobrevida em casos de anencefalia real, mas sim em outras anomalias, e as explicações biológicas para tal fato são claras e precisas, já que sem o encé- falo não há estruturas importantes como o hipotálamo, tálamo, cerebelo e núcleos da base, necessários para o controle da maioria Aspectos médicos e psicológicos de grávidas portadoras de feto anencefálico FEMINA | Outubro 2011 | vol 39 | nº 10 495 das funções vitais do organismo5 (C). Nesses casos, fala-se em morte neurológica, o que já é considerado um consenso na classe médica, conforme aponta pareceres do Conselho Regional de Medicina (CRM) e do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre o assunto6 (C). Outros pontos levantados a favor da interrupção da gestação, no caso de anencefalia, estão relacionados aos riscos de complicações obstétricas que são significativamente aumentados nessas situações. Entre as possíveis intercorrências negativas estão o polihidrâmnio, o desenvolvimento de doenças hipertensivas e as complicações no momento do parto, que tem seu tempo médio aumentado, já que o feto não possui os ossos da cabeça necessários para empurrar o colo do útero e promover a dilatação para o nascimento7 (C). Em contrapartida, a questão da interrupção da gestação gera críticas contrárias ao ato, pautadas principalmente pelos valores defendidos pela religião, em especial, a católica. Em nota publicada no site da Conferência Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB), os representantes da instituição se colocaram contrários à legalização do aborto de fetos anencefálicos e defenderam que, ainda nessas situações, não deve ser diminuída a dignidade da vida humana em gestação2 (D). Para os representantes da Igreja Católica, a vida é um dom, ainda que breve, e há enorme diferença entre a morte natural e a morte provocada, o que está intimamente relacionado ao mandamento dado por Deus de ‘Não matarás’, contido no livro do Êxodo, capítulo 20, versículo 13. Nessa perspectiva, todos têm direito à vida e a legislação não pode tornar lícito um ato que seja ilícito. Sendo assim, não se podem aceitar exceções diante da possibilidade de eliminação de um ser humano, pois abortar um feto anencefálico é decretar a morte de alguém indefeso e frágil2 (D). Ainda em defesa da não interrupção da gestação, é possível citar o Catecismo da Igreja Católica, livro de importância semelhante à Bíblia para os seguidores da instituição religiosa, o qual aponta que todo ser humano tem direito à vida e, desde o momento da concepção, a vida humana deve ser respeitada e protegida. O texto sagrado defende ainda que o diagnóstico pré-natal deva ser usado visando o respeito à vida. Portanto, são lícitas apenas as intervenções sobre o embrião humano que visem sua sobrevivência ou cura, sem que a ele sejam impostos riscos desproporcionados8 (D). A gestação de fetos anencefálicos na perspectiva médica

A anencefalia é uma malformação fetal caracterizada pela presença da base do crânio e ausência da calota craniana e hemisférios cerebrais, levando a progressiva destruição da massa encefálica em razão de sua exposição ao líquido amniótico9 (C). Ela é resultante da falha de fechamento do tubo neural em sua extremidade cefálica10 (C) e configura-se como a anomalia mais comum que acomete o sistema nervoso fetal11 (C). Com relação à incidência, diferentes autores apontam que a anencefalia ocorre em 1 a cada 1.000 gestações, com maior predominância em fetos do sexo feminino. Ela pode ser diagnosticada basicamente através do exame de ultrassonografia a partir da 10ª semana e com maior precisão a partir da 13ª semana de gestação10-12 (C). No exame de ultrassonografia, é possível identificar, na maioria dos casos, a ausência do crânio com preservação de sua base, a proeminência das órbitas oculares e a inexistência dos hemisférios cerebrais9 (C). Apesar do significado do termo anencefalia estar relacionado à ausência do cérebro, esses fetos apresentam algum tecido neural. Outros sinais que ajudam no diagnóstico são a presença de polihidrâmnio, membros inferiores aumentados e aumento nos níveis de alfa-fetoproteína no soro materno e no liquido amniótico10 (C). Entende-se que a anencefalia é uma patologia multifatorial e que seu desenvolvimento sofre a influência de diferentes agentes teratogênicos como radiação, sulfonamidas e salicilatos. Contudo, acredita-se que o principal agente causador da anomalia seja a deficiência de vitaminas, especialmente o ácido fólico, durante a gestação10, 11 (C). O feto anencefálico pode apresentar outras malformações associadas, tais como a mielomeningocele, em cerca de 30% dos casos, ou malformações viscerais e faciais. Entretanto, como a anencefalia configura-se como uma patologia de caráter grave e letal, o estudo das malformações associadas desperta pouco interesse dos profissionais de saúde. Contudo, tal conhecimento torna-se relevante tendo em vista o aconselhamento genético posterior da gestante/casal que se encontra diante dessa realidade e que desejam engravidar novamente10 (C). O diagnóstico correto da anencefalia se faz importante não somente para possibilitar a escolha pela interrupção ou manutenção da gestação, mas também para o preparo dos pais e equipe de saúde para o enfrentamento de problemas ocasionados durante a gestação e nascimento11 (C).

A gestação de fetos anencefálicos na perspectiva psicológica

A mulher passa por fases adaptativas durante a gravidez e, além das representações mentais, outros fatores estão associados na sua adaptação à maternidade, como a trajetória obstétrica, a paridade, idade, relacionamento com os pais, antecedentes familiares, relacionamento conjugal, fatos da vida, história psiquiátrica, entre outros13

nº 10 Durante a gestação, é comum que os pais fantasiem e imaginem como será o seu bebê, geralmente caracterizado obedecendo todos os padrões de perfeição. Entretanto, em alguns casos, após os exames de pré-natal, o bebê fantasiado é substituído pelo diagnóstico de malformação fetal13 (C). Há certo consenso de que um dos temores mais comuns durante a gestação é o da possibilidade real, ainda que de baixa incidência, de uma malformação fetal14,15 (C). Entretanto, a informação de uma anomalia no bebê tem repercussões diferentes para cada mulher, o que está muito relacionado ao tempo e grau de investimento na gestação13 (C). Fato é que, comumente, tal notícia pode ocasionar um processo disruptivo na gestante, dada a

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