ASPECTOS CULTURAIS, RELIGIOSOS E POLÍTICOS NA SOCIEDADE DO BRASIL OITOCENTISTA
Por: Hugo.bassi • 15/1/2018 • 2.331 Palavras (10 Páginas) • 515 Visualizações
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Essa onda de repressões e perseguições por parte das autoridades, e de resistências por parte das camadas negras, não limitara-se apenas as principais cidades brasileiras, muito menos ficara limitada a um problema do Rio de Janeiro. Essas historias de conflitos, ocorriam em outras partes do Brasil, como exemplo cito as manifestações de candomblé ocorridas na cidade de Cachoeira no recôncavo baiano, onde Edimar Ferreira5 em seu livro, O Poder dos Candomblés, narra e discute os conflitos, repressões e resistências vividos pelas populações negras para que pudessem ter liberdade em suas manifestações.
Em meio a tantos obstáculos, repressões e perseguições, era notável a resistência social. E os motivos quedavam força a estas camadas, não limitavam-se apenas às questões de origem étnica e de identidade cultural, como já dito anteriormente, as festas na condição de um espaço compartilhado por todas as classes e raças, era também o espaço em que estes reprimidos teriam a oportunidade de se relacionar com o Estado, (...)exigindo seus direitos, e inserindo-se numa nação que era definida, pouco a pouco, por seus contornos festivos e, evidentemente, políticos.(GINBERG, Keila e SALLES, Ricardo. 2009, p. 264).
Esse caráter festivo, presente na formação cultural do Brasil do século XIX, embora fortemente presente, não compunha a totalidade do conjunto6. O imaginário social e também religioso, era um forte determinante no cotidiano do oitocentos. Partindo desse pressuposto, tomemos agora para essa discussão, um caminho voltado para o que diz respeito aos rituais fúnebres da época, buscando analisar as mentalidades sociais desse período.
A princípio, a concepção que se tinha sobre a morte, era que esta não se dava como o fim homem enquanto ser. A morte era um estágio de passagem do ser humano que deixava o mundo material, e transcendia – se posso utilizar-me desse termo – para uma vida espiritual. Pode-se notar a partir desse pensamento, forte influencia religiosa, em especial da Igreja Católica, na mentalidade do homem Brasileiro. Esse ideia de espiritualidade e de existência pós-morte, gerava a necessidade de toda uma série de cuidados, por tanto, nesse passagem da vida. As concepções sobre o mundo dos mortos e dos espíritos, a maneira como se esperava a morte, (...)os ritos que a precediam e sucediam(...), a relação entre vivos e mortos, eram todas questões sobre as quais se pensava(...).(REIS, João José. O cotidiano da Morte no Brasil Oitocentistas 1997, p.96). O cuidado com um “boa morte” era uma característica bastante explícita na figura do brasileiro desta época. E essa importância atribuída a esse fenômeno, se dava a partir da crença da imortalidade da alma, e em detrimento, a salvação da mesma.
Em se tratando da importância dos ritos fúnebres, estes serviam como mecanismos em prol tanto do falecido, quanto daqueles que ficavam vivos. A crena em almas penadas e assombrações, era um dos elementos que moviam a população a realizarem os ritos. Era dever dos vivos, cuidar das rezas, das vestimentas, e de todo o funeral para que a alma do morto pudesse fazer uma boa passagem para o outro. O que vale ressaltar aqui, é que nem sempre era o bom censo para com o próximo que movia as pessoas a fazerem tais práticas, mas também se tinha o receio das almas penadas ficassem vagando no mundo dos vivos.
O que talvez soe irônico, é que tais hábitos fúnebres, segundo José Reis7, vieram de tradição Africana. Inclusive a crença em bênçãos ou punições por parte dos mortos em um falho ritual funerário, foram oriundos dessa matriz. Porém legitimação dessa origem fora bastante precária, e as tolerâncias em relação aos culto africanos eram parcas. A repressão e denuncias desses ritos em candomblés era constante8.
Tratando-se dos preparativos para a morte daquele que esta em seu estágio final, ou seja o morto, as boas ações e a quitação das dívidas são as formas mais eficazes, em sua mentalidade, de se preparar para uma ultima viagem. Na crença social, aquele que morria endividado, poderia ter problemas em sua travessia, ou poderia correr o risco da condenação divina. A prestação das contas e até doações era formas de tranquilizar a morte. A divida com santos também era um grande tormento para a população. Era muito perigoso morrer devendo-lhes promessas, pois assim lesados, podiam se abster de qualquer intervenção em favor do morto durante o julgamento da alma. (REIS, João José. 1997, p.102). Outro grande risco era a morte com dividas e faltas de cunho familiar, como a de um pai que morreu sem reconhecer um filho. Isso acontecera muito com Senhores que tiveram filhos com suas escravas e os renegaram durante a vida. Muitos desses senhores, por tanto reconheciam, filhos de escravos mesmo na duvida de sua legitima paternidade, movidos por uma força maior: a força do medo da condenação.
Outra curiosa característica dos ritos fúnebres é dos grande ajuntamentos de pessoas (muitas delas desconhecidas), para visitar o morto. Esse aspecto se dava por uma série de motivos. Cita-se primeiro, uma característica cultural da sociedade, que era publicidade da morte. Era comum que quando se morria alguém, fosse como objetivo, a publicação da notícia – me refiro aqui ao espalhar da notícia. Em segundo, tinha-se remuneração em alimentos, objetos ou outras formas, para mendigos, e pobres interessados em acompanhar o morto no funeral. A ideia era mostrar o prestígio do morto em razão ao números de visitantes e acompanhante do funeral. Outro ponto é o da contratação das carpideiras, que tinham a função de chorar e encenar luto ao morto, mesmo sem tê-lo conhecido(REIS, João José. 1997, p.111).
Outro grande cuidado antes do sepultamento era o das vestimentas. Roupas de requinte, ou mortalhas eram comuns para cobrir o corpo do defunto. Em se tratando das mortalhas, o branco – em especial para sepultamento dos negros -, era a cor preferível graças ao objetivo do morte de assemelhar-se aos Orixas. Outro ponto curioso nesse contexto, era o numero de orações que era dado em medida ao numero de peça de roupas que colocava-se no moribundo.
Outra forma de prestigiar um velório, é a presença de padres na cerimônias, o que na época era muito raro. Muitos senhores pagavam ao padres para que viessem marcar sua presença na cerimônia de sepultamento. Além disto, tinha-se também a orquestra que tocava seu som no percurso até o enterro. Quanto maior o numero de padres, e maior a orquestra, mas prestigiado e abençoado seria o tal falecido.
Outra questão que mostrava-se presente em todo esse processo, era o lugar onde seria enterrado o defunto. A preferência em terras
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