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A desconstrução de estereótipos e o conflito das classes em "Que Horas Ela Volta?"

Por:   •  27/9/2018  •  1.928 Palavras (8 Páginas)  •  258 Visualizações

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“Quando a emancipação de uma mulher é resultado da transferência do trabalho doméstico para outra mulher, não pode ser vista como emancipação real.” (LIMA, 2015)

A ideia do homem no poder

Com a câmera estática na cozinha mostrando a refeição da família na mesa, após uma discussão sobre o uso de maconha, Bárbara, que encontrou a droga na bolsa de Fabinho, questiona o adolescente sobre aquilo ser dele ou não. Após ele negar, ela aceita suas desculpas e a joga fora, sem alarde algum. Após isso, Val recolhe os utensílios sujos na mesa e serve uma sobremesa, enquanto Bárbara também levanta e ajuda.

Em todas as refeições, apenas as mulheres ajudam a limpar. O fato de o filme tentar desconstruir o machismo, não significa que ele vai mostrar um exemplo de como deveria ser uma família politicamente correta. Mas temos a observação de que no jantar, a comida é servida para todos e que no final só as mulheres recolhem os pratos e tiram a mesa enquanto os homens não fazem absolutamente nada, é que mostra como a sociedade é machista, mesmo que em pequenos detalhes, e ainda mantem o idealismo de que o homem no poder ainda está presente. Conforme fomos vendo na construção da sociedade, a “superioridade” do homem é que deve ser sempre servido por mulheres ou empregados, pessoas inferiores a ele.

A situação piora quando o homem da casa assedia Jéssica, numa clara tentativa de sedução. É a cultura do estupro que sempre existiu, onde as mulheres são vistas como uma subcategoria, ou até mesmo como coisas. E isso vem de uma sociedade patriarcal e um reflexo do machismo sobre a participação da mulher na sociedade.

Mesmo aparentemente Bárbara sendo uma mulher socialmente bem escalada, com um emprego bom e um bom salário, que aparentemente sustenta toda sua família, o filme apresenta outro lado do patriarcado, que mesmo colocando o homem em posição de "sustentado pela família" ainda tem certo "poder" em casa, quando não faz nada para ajudar e só dita ordens aos empregados.

A Chegada de Jéssica e o conflito de classes

A chegada de Jéssica na casa divide o filme em dois. A partir daqui o filme começa a fazer as pessoas pensarem sobre a busca de equilibrar as desigualdades e sobre a relação de vilã e heroína que temos hoje na sociedade. Enquanto a elite, com seus privilégios, será considerada heroína, os mais pobres facilmente serão chamados de vilões. No filme, podemos perceber como isso reflete na sociedade.

Facilmente percebemos a distância entre mãe e filha: Jéssica chama a mãe pelo nome; a mãe não a reconhece no aeroporto (onde está a internet em 2015?); a filha não sabia que a mãe morava com os patrões em 10 anos.

Jéssica é bem recebida na casa, mas se pega intrigada ao saber que a mãe mora junto com os patrões. A filha não aceita isso e começa a quebrar algumas regras impostas aos empregados da casa (Val não era quase da família?). Aos poucos Bárbara com um temperamento irônico vai perdendo a paciência.

Jéssica quer um quarto dentro da casa e não um minúsculo quarto de empregada nos fundos. Quer se sentar na mesa junto com a família na hora das refeições, tomar da sobremesa da casa quando quiser e nadar na piscina quando bem entender.

Com essas atitudes vemos a construção de uma vilã. A filha da empregada não segue as normas da casa então contraria os olhos de um determinado público, mas Jéssica é a verdadeira heroína da história e todas as desconstruções do filme estão nas mãos dela.

Não significa que Jéssica tem inveja e quer tudo o que eles têm. O fato é que a jovem só quer ser tratada igualmente, pois reconhece o seu lugar e não se considera inferior a ninguém. Percebemos isso quando ela está sempre falando com sua mãe como ela deveria exigir o mesmo.

As relações sociais e de meritocracia na porta de entrada para as universidades

Voltamos no motivo de Jéssica ter ido pra São Paulo, que foi prestar o mesmo vestibular que Fabinho. Jéssica estuda sozinha enquanto Fabinho faz cursinho, grupos de estudos e tem professores particulares.

No contexto dos dias atuais, para muitos entrar na faculdade tem sido uma questão de mérito, independentemente da forma como se vive. Claro, todos devem estudar. Mas pensemos nas diferenças entre uma classe que precisa trabalhar para ajudar em casa, não tem tempo ou dinheiro para cursinhos, muito menos professores particulares. Do outro lado uma classe que não precisa trabalhar e que pode passar todo o tempo estudando em casa, com os melhores livros, com os melhores cursinhos e os melhores professores.

A questão é que Jéssica consegue passar no vestibular, Fabinho não. Val, mãe de Jéssica, vibra com a filha. Fabinho, que teve todo o tipo de estudo, não passa e mesmo assim é acolhido pela família que o manda passar uma temporada em outro país, como se fossem “férias”.

No último conteúdo estudamos sobre cotas sociais e raciais. Focando no aproveitamento e nas estatísticas de que os cotistas apresentam notas maiores que os não cotistas, podemos dizer que o cenário é semelhante ao de Jéssica e Fabinho. Aqueles que conseguiram entrar pelas cotas, tem notas maiores porque realmente estudaram e se esforçam para aquilo. Dão mais valor à faculdade. Aqueles que entram com mais facilidade, muitas das vezes não dão o devido valor e tem o aproveitamento menor.

Conclusão

Não é só porque é um filme que tenta desconstruir pensamentos que ele tem a obrigação de colocar todos os assuntos em pauta. Mas o que podemos perceber com "Que Horas Ela Volta?" é que mesmo sendo um produto do entretenimento, temos vários problemas sociais no Brasil que ainda precisamos cuidar minuciosamente.

Conforme vimos nos conteúdos da disciplina, todos os problemas citados neste trabalho são uma questão de construção ao longo dos anos e, consequentemente, precisa de um processo de desconstrução que também pode ser longo. O preconceito e estereótipos ainda existem, sejam eles sobre etnias, gêneros, religiões, etc. Mas percebemos uma melhoria, mesmo que seja pequena, em todos os sentidos. Alguns retrocessos infelizmente aconteceram, mas a luta pela liberdade física, psíquica e social continua.

No fim do filme, percebemos

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