A TEORIA REPRODUTIVISTA E O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO
Por: Jose.Nascimento • 12/1/2018 • 3.033 Palavras (13 Páginas) • 553 Visualizações
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PESQUISAS EMPÍRICAS BRASILEIRAS SOB OS ASPECTOS ANLITICOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DE BOURDIEU.
Nas pesquisas empíricas previamente analisadas em nossa dissertação, encontramos de forma geral, uma grande discrepância de classe entre aqueles que obtiveram o sucesso escolar e aqueles que obtiveram um fracasso escolar. São notáveis os diversos avanços no sistema educacional nacional, no que diz respeito por exemplo a ampliação de acesso e inclusão ao ensino e a educação. Porém, quando nos pautamos numa analise teórica critica com vista à prática, vemos que na maioria das vezes esse desenvolvimento não atingiu alguns dos objetivos da qual educação em teoria funcionalista tanto se propõe a promover – como redutora das desigualdades sociais e da estratificação social no país por exemplo. Dessa forma ações de instituições escolares e familiares vem na verdade demonstrando uma dimensão de reprodução do status quo, onde as classes de maior poderio econômico e cultural articulam suas posições privilegiadas através do sistema de ensino enquanto as classes mais baixas continuam encontrando dificuldades e barreiras para sua ascensão social através desse sistema. Mas como os estudos tem nos dado indícios que nos permitem tal afirmação?
Quando partimos de pesquisas que trabalham criticamente questões metodológicas e de análise, vemos que temos ainda no caso brasileiro (como nos confirma Bourdieu) vários problemas no que diz respeito a estudos eficientes de analise relacional do agente com as diversas instituições responsáveis por sua formação assim como demais agentes. Em sua dissertação, "A Pesquisa em Eficácia Escolar no Brasil", Maria Teresa Gonzaga Alves (2008) demonstra claramente algumas dessas questões. Ela indica como as análises transversais do sistema educacional brasileiro conseguem verificar mudanças nos cenários educativos nacionais, mas não conseguem alcançar justamente os fatores qualitativos que levam a percepção da contribuição escolar para o sucesso ou fracasso dos alunos, encobrindo assim a real eficácia escolar diante da variedade qualitativa de fatores que a modelam. Esse método de análise é baseado em pesquisas quantitativas, e a autora ressalta que dados longitudinais podem ser uma maneira mais efetiva de verificar a eficácia da aprendizagem escolar e relacionar os resultados com a reprodução ou a diminuição da estratificação social do país. Assim, demonstra que os dados puramente quantitativos falham em realizar uma avaliação fidedigna da realidade social escolar, onde as questões relacionadas a cultura, a classe social e a educação familiar são colocados em segundo plano, algo já apontado criticamente por Bordieu, que frisará a necessidade de uma maior diversidade de formas de análise que vão além dos métodos quantitativos, formas de análise que possibilitem reunir a estrutura e o sujeito, o objetivo e o subjetivo, sendo que, para o autor, essas divisões são falsas polaridades, colocadas como obstáculos ao conhecimento, dado que essas pressupostas dicotomias atuam em conjunto.
Eis aí que surge o problema de avaliação real das possibilidades da educação sobre o aspecto democrático funcional e a capacidade empírica de se evidenciar questões das quais realmente são relevantes para entender a expansão escolar, a constituição da educação na sociedade brasileira e seu papel real dentro da comosociologia do conhecimento e do poder (Na qual a escola deve ser entendida não pelo conteúdo, mas pelas articulações sociais do poder e do conhecimento que ela desenvolve e da qual se articula).
Uma tentativa mais objetiva de estudo sobre os termos da afirmação precedente se vêem na pesquisa "A Expansão Escolar e a Estratificação Social no Brasil" do autor Nelson do Valle Silva (2003). O autor busca dados empíricos para a análise das desigualdades sociais e da estratificação educacional no Brasil, especificando que, em um sistema de ensino realmente democrático, a origem social familiar do individuo deve ter fraca correlação com a sua formação final no processo educacional, o que seria demonstrado se a instituição escolar por si só fosse o suficiente para superar as diferenças de aptidão e aprendizagem escolar entre aqueles que tiveram em sua criação acesso e contato com os capitais cultural e econômico e aqueles que não tiveram, dado que não foi encontrado. O fato constatado é o de que o acesso ao ensino foi expandido: aumento do número de matrículas nos diversos níveis de escolarização, expansão das pré-escolas, aumento da taxa média de número de anos de estudos, melhoria da inclusão e acessibilidade nas instituições escolares. Porém, tais mudanças demonstraram não significar uma seqüência lógica que leva a uma igualdade de chances relativas, a uma diminuição da distância entre as classes. As desigualdade sociais demonstram persistir mesmo com os avanços educacionais, mostrando que mesmo com a expansão do sistema educacional as desigualdades existentes entre os grupos sociais tendem a permanecer estáveis ou até mesmo se ampliarem pois os grupos sociais de melhores condições econômicas e culturais podem aproveitar melhor as novas possibilidades abertas pela expansão educacional. Isso mostra que as causas da complexa estratificação social do país não podem ser discutidas, compreendidas ou resolvidas apenas na área da educação escolar, devem ser analisadas também em relação ao acesso a cultura, a classe social, o poderio econômico e, principalmente, a influência da criação familiar.
Para essa discussão que perpassa as posições sociais de classe adquiridas e herdadas e que envolvem a familia, assim como disposições subjetivas dos agentes na incorporação dos valores sociais vigentes é necessário entendermos e desenvolvermos os conceitos de campo e habitus. Porém, antes disso, devemos especificar que, em sua trajetória, Bourdieu sempre buscou fundamentar suas teorias e constructos em cima da realidade social construída historicamente, que é constituída tanto de uma parte objetiva de posições e relações sociais já estabelecidas e consolidadas, estruturas sociais que se reproduzem objetivamente nas distribuições materiais, quanto uma parte subjetiva, que tem um subconsciente de classe incorporado por seus agentes, estruturas mentais de classificações cognitivas que também se reproduzem. Para podermos compreender como a estrutura da reprodução da dominação cultural e simbólica de classe precisamos primeiros analisar como funciona a dinâmica relacional entre campo e habitus, dois conceitos principais em Bourdieu que nos ajudam a realizar o dialogo entre as posições sociais adquiridas e as disposições subjetivas dos
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