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A CAPOEIRAGEM FEMININA RELAÇÕES DE GÊNERO NO MOVIMENTO CAPOEIRA MULHER EM BELÉM - PA

Por:   •  24/6/2018  •  4.759 Palavras (20 Páginas)  •  536 Visualizações

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Porque essa assimetria e as relações de poder ainda são muito presente nas rodas de capoeira na cidade de Belém até os dias atuais?

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Analisar o papel das mulheres pertencentes ao “Movimento capoeira mulher” e compreender as relações de gênero ali presente.

3.2 Objetivos Específicos

- Apresentar a arte cultural da prática de capoeira.

- Levantar referenciais teóricos que identifique o início da participação da mulher na prática da capoeira em Belém até documentos atuais.

- Entender as relações de gênero assimétricas nas rodas de capoeira

- Conhecer a participação da mulher nas rodas de capoeira atuais a partir do movimento capoeira mulher.

4. JUSTIFICATIVA

A participação da mulher na capoeira vem sendo registrada desde o século XIX na cidade de Belém. O contexto da época se tratava da abolição da escravatura e da decadência da economia da borracha onde os papéis exercidos pela mulher de boa conduta já estavam inclusos em determinado tipo de “programa social” onde ela passaria por situação de filha, de virgem, de esposa e por fim de viúva. Como se pode ver neste trecho abaixo correspondente à uma parte de um artigo publicado em abril de 1898, em Belém do Pará, no Diário de noticias:

[...] a mulher é formosura que em tudo sofre a caridade que tudo cura, a fé que comunica perpetuamente com o céu, a virtude benéfica, a santa poesia do lar, o anjo que se inclina sobre o berço e sobre o leito da dor, e deposita com suas lágrimas o orvalho do céu em nossa vida, o espírito de ordem, de economia, e de consolação de todas as dores, o sorriso celeste, o bálsamo que tira todo o veneno às feridas da existência, a oração que de contínua levanta a família a Deus, e enche de harmonia e virtude todo o lar, é o pensamento e o amor, a razão e a fé, a ciência e a poesia. (DIÁRIO DE NOTICIAS. Belém, 14 abr. 1898. P.1. Sob a epígrafe A família.)

Qualquer mulher que fugisse desse programa era vista como desordeira pela sociedade. Muitos artigos de jornais da época retratavam os ditos más comportamentos de mulheres inclusive relatos de mulheres capoeiras. Como visto abaixo no trecho da obra “Belém do Grão Pará” de Dalcídio Jurandir:

O REINADO DAS MULHERES CAPOEIRAS

[...] e avançando pelo beco, deu com aquela mulher escura, magra, descabelada que gesticulava e distratava. Logo aparecia outra, meio velhusca, que tentava acalmar a magra, nas boas palavras, nos bons modos. Qual! A descabelada passou a saltar na frente do outra como jogador de capoeira. E não é que de repente levanta o vestido sujo e roto, que era a sua única roupa? Tropeçou, caiu, se ergueu, legeira, para fazer o mesmo cinema, repetidamente [...] (JURANDIR, Dalcídio. Belém do Grão Pará. São Paulo: Martins, 1960. P. 36 – 37)

Esta obra de Jurandir se passa na cidade de Belém na década de 20, onde narra a historia da família Alcântara que após a queda do Senador Lemos, precisam abdicar da sua vida de luxos graças ao ciclo da Borracha. Jurandir nesta obra mostra como era retratada a mulher que era vista lutando capoeira, com adjetivos como “escura, magra, que gesticulava e destratava” que teriam que gerar ao leitor uma repulsa a mulheres que praticavam essas “más índoles” da época.

Hoje, a mulher deixou de ser vista como novidade nos grupos de capoeira e nas rodas, a novidade é o fato da sua atual representação numérica e qualitativa: ou seja, o fato delas representarem hoje boa parte dos praticantes de capoeira, numa distribuição mundial, indica, que tanto os grupos, mestres, contra-mestres não podem ignorá-las, ou mesmo em reduzir seus papéis, e na participação das práticas e atividades dessas organizações.

A pesquisa desse projeto se faz necessária, pois na cidade de Belém existem vários grupos de capoeira onde a massividade masculina é perceptível e a partir desta inquietação com a ajuda de dados históricos se terá o diálogo com o presente papel da mulher na capoeira na cidade de Belém onde se perceberá se a visão da sociedade perante esta prática exercida pelo gênero mudou ou não dentro e fora das rodas de capoeira.

5. REFERENCIAL TEÓRICO

A história da Capoeira no Brasil, remonta aos primeiros séculos de colonização do Brasil, com a transferência forçada de escravos vindos da África para o Brasil ainda no século XVI e os primeiros registros de escravos capoeiras, dão conta de que em sua maioria vinham principalmente de Angola.

A capoeira foi trazida pelos escravos, que ao chegarem ao Brasil perceberam a necessidade de desenvolver formas de proteção contra a violência e repressão dos colonizadores. Os mesmos eram constantemente alvos de práticas violentas e castigos dos senhores de engenho. Quando fugiam das fazendas eram perseguidos pelos capitães-do-mato, que usavam na captura toda violência. A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas (galpões que serviam de dormitório para os escravos) e tinha como funções principais à manutenção da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. (Souza, 2013)

Ao longo de todo o século XIX, a capoeira foi constantemente perseguida. Documentos mostram que sua prática foi tolerada durante todo o período imperial, existindo como contravenção penal até 1890. Só então, sob o recém-instaurado regime republicano, seria criminalizada.

O castigo dos açoites, aplicado aos escravos capoeiras, era executado pelas patrulhas policiais no momento da prisão. Em relação aos capoeiras presos cuja condição jurídica era a de libertos ou de livres, a aplicação de sanções era dificultada pelo fato da pratica da capoeira não ser considerada como um crime previsto por lei. Para puni-los, um dos recursos mais utilizados pelas autoridades policiais foi o recrutamento militar forçado.

Porém, com a publicação do novo Código Penal de outubro de 1890, a capoeira é finalmente criminalizada. O capítulo que tratava "Dos vadios e capoeiras" rezava em seu artigo 402:

"Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em correrias, com armas ou instrumentos

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