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OS DESAFIOS DO ENSINO DE MÚSICA AOS ALUNOS SURDOS

Por:   •  2/12/2018  •  5.117 Palavras (21 Páginas)  •  388 Visualizações

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Na Antiguidade a educação para surdos era realizada individualmente, existiam os preceptores que usavam a escrita e o recurso dos gestos para ensinar, então, só no século XVIII, na França, o Abade de Lepèe criou a primeira escola pública para os surdos, usando a comunicação gestual e escrita do francês. Assim, existiram grandes avanços na educação dos surdos, desde essa época até o início do século XX, os quais por meio do estudo tornaram-se professores, doutores, sobressaindo-se assim em todas as áreas. (SACKS, 1990).

Em 1880, no fim do século XIX, aconteceu um Congresso em Milão, e o tema em discussão foi a melhor maneira de ensinar o surdo, gestual ou oral, assim, o segundo – oral, prevaleceu, levando a maioria dos países a instituir o ensino da língua oral na educação dos surdos, sendo proibido o uso dos gestos, que eles achavam que interferia de maneira negativa no acesso à oralidade. Diversos pesquisadores chegaram a conclusão que esse fato causou retrocesso na educação dos surdos, pois a maioria dos surdos não avançava na escola, tinham dificuldades ao ingressar no mercado de trabalho, e para Fernandes (1998) uma sequela do oralismo. Embora o gestualismo – comunicação com gestos – tenha feito parte da educação dos surdos desde a antiguidade, só em 1960 o linguista americano Stokoe, quando estudou a língua de sinais americana, constatou que, assim como qualquer língua, a ASL (American Sign Language) possui todas as características das línguas orais, e chega a um status de sistema de linguagem completo, demonstrando assim a gramaticidade dos sinais e o isoformismo estrutural entre a fala e o sinal, relatando também que a língua dos sinais e as línguas orais tem como matriz os gestos, contrariando assim todas as teorias em destaque.

Behares (1987) relata que existe certa confusão em compreender linguagem e língua e o desenvolvimento da habilidade de linguagem só acontece se os mecanismos fonológicos da pessoa surda forem ativados. Conforme essa concepção é adotada, a língua dos sinais não poderá chegar ao status de língua, pois não usa o sistema fonológico como canal de expressão do pensamento, ainda a partir do seu pressuposto, a linguagem é a capacidade humana em elaborar sequências que trazem significados, a língua é um conjunto de convenções que permitem estruturar um sistema interpessoal de signos e a fala, como modalidade de linguagem.

A língua dos sinais é um sistema que traz um conjunto de elementos de linguagem que se diferenciam da expressividade corporal e gestualização, Behares (1987) também afirma que o sinal é uma unidade convencional integrada a um sistema linguístico articulado, e o gesto não é. Assim, após essa descoberta houve nova visão sobre a LIBRAS e possibilitou que no Brasil ela fosse reconhecida como a Língua oficial da comunidade de surdos, Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, oficializando a Libras como sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, vindos de comunidades de pessoas surdas do país, regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005.

Fernandes (1998) afirma que até o século XIX a surdez foi discutida baseada em concepções pedagógicas e sociais, passando no século XX a ser concebida dentro de modelo clínico-terapêutico baseado na ideia de que a surdez se relaciona à patologias e déficit biológico, precisando assim de métodos que reabilitem e tratamento terapêutico, o que pedagogicamente falando, torna-se prática, com tendência corretiva e reparadora (SKLIAR, 1997). Baseando-se nesses fatores, os alunos surdos foram proibidos em usarem sua língua natural, sendo então obrigados a falar, não pensando em suas limitações ou possibilidades. Assim, não havia espaço para os professores surdos nas escolas, eram em média 40, torno de 50% (cinquenta por cento) do corpo docente; em 1850, caiu para 25% (vinte e cinco por cento), na passagem do século; e para 12% (doze por cento), em 1960 (SACKS, 1990). Lane (1989) afirma que a diminuição do número de professores surdos aconteceu sem que existisse impedimento legal, já que, devido à redução intelectual conseguida com o regime oralista, eles foram impedidos de maneira efetiva a seguirem essa carreira.

Estudiosos relatam que práticas pedagógicas marcadas pelo uso da linguagem filtrada com ênfase em regras gramaticais, e base em concepções estruturalistas, com pouco investimento na modificação destas - mesmos métodos com poucas mudanças – perante novos paradigmas, conseguem resultados pouco efetivos. (FERNANDES, 1990; GESSUELLI, 1998; SOUZA, 1998; GÓES, 1999).

Surdez e música no decorrer dos últimos anos tem interessado alguns pesquisadores (FINCK, 2009, 2008; HAGUIARA-CERVELLINI, 1999, 2003). Eles procuram estar focados nas adaptações metodológicas e nos processos para a aprendizagem musical que são usados pelos profissionais nesse contexto educacional.

Vale a pena citar alguns artigos que foram publicados, como: “Construindo a pesquisa: os caminhos metodológicos para identificar as práticas musicais desenvolvidas por professores de alunos surdos” (FINCK, 2008), “Atividades musicais para surdos: como isso é possível” (SOARES, 2008), “Possíveis estratégias para a educação musical de crianças surdas” (BOGAERTS, GUIMARÃES, 2011).

Já na maneira de pensar do aluno surdo, a forma como ele tem a percepção musical não tem sido o foco das pesquisas. O surdo poderia apreciar ou fazer música? Qual o motivo em não existirem espaços onde possam ocorrer vivências musicais em instituições para alunos surdos?

Esse trabalho, através de pesquisa bibliográfica, realizou levantamento e analisou dados sobre a perspectiva do aluno surdo, e o papel que a música exerce em sua vida cotidiana, além de suas experiências musicais vivenciadas.

Segundo Piaget (1974) a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento total do organismo, ou seja, independe da criança apresentar ou não a ausência de um dos sentidos, deverá ser estimulada para ter acesso às atividades propostas.

Esse trabalho procurou contribuir para que ocorram maiores discussões referentes ao tema música para surdos, para a cultura ouvinte e cultura surda. Sobre o tema do trabalho buscou-se novas ferramentas para o ensino e aprendizagem, além do desenvolvimento pelo fazer musical dos alunos surdos.

Pesquisando sobre a História da Música, a música tem sido uma atividade que não é conciliável aos alunos surdos, mesma maneira com que as artes plásticas aos cegos. Marques (2008, p.110) explica esse falso conceito, é o “mito” que existe de pensar que apenas a pessoa surda pode ver, sendo-lhe assim próprio. O som não é

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