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A DANÇA, EXPERIÊNCIA DE VIDA

Por:   •  31/8/2018  •  1.809 Palavras (8 Páginas)  •  469 Visualizações

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Nunca mais dei aulas para crianças surdas separadas de um grupo ouvinte. Creio na integração de pessoas não ouvintes e na possibilidade que têm de compreender e captar visualmente as possibilidades que podem desenvolver-se nelas por meio de batidas continuadas, vibrações, percussões e todas mobilizações que realizamos com clareza no espaço. Com esse movimento é possível expressar a necessidade tremenda de comunicação que se tem quando esta não pode realizar-se mediante a linguagem. (p.105)

Qual o motivo de separar, de segregar ouvintes de não ouvintes, sendo que a integração abrange mais possibilidades de movimento? Porque não propor a comunicação destes grupos através do movimento? É muito enriquecedor. Aprendi muito quando participei do DanceAbility em Cena, onde tivemos a oportunidade de fazer um curso-oficina com surdos. Cada dia era uma proposta interessante de pesquisa de movimento e a maioria da turma era composta por àqueles deficientes auditivos. Eles não se restringiam, eles se permitiam, entravam em contato, eram intensos. Os depoimentos deles no final comprovou o quanto a experiência havia sido necessária e enriquecedora. Unir ouvintes e não ouvintes na dança é uma possibilidade totalmente viável, possível e permissível.

Eu sempre danço para eles e nossa comunicação se estabelece em um plano de igualdade porque tudo é feito para estimulá-los a se expressarem sem temor. (p.105)

Não se ensina a necessidade. (p.105)

O primeiro impacto com a não ouvinte é fazê-lo interessar-se por projetar e dar-se conta de que seu corpo é um instrumento de linguagem. (p.105)

A todo momento, de fazer-lhes sentir que expressar-se através do corpo é como falar e que para isso não necessitamos estímulos externos. (p.105)

O caminho da dança é a verdade; o corpo não engana quando se expressa. (p.106)

Sempre busco imagens reais que traduzam o pensamento vivo e que nos conduzam à liberdade criativa. (p.106)

Estas são passagens do texto que muito me encantaram e que mostra o compromisso que esta professora tem com o ensinar dança, que vai desde um papel social até um transformador de realidades, realidades de pessoas antes negadas a este contexto.

O encontro com as vibrações

Durante as aulas, eu não podia recorrer à música para desenvolver a temática de meu trabalho e orientar os estímulos. Convertia-me eu mesma em surda e buscava possibilidades para mobilizar os grupos de forma contrastada pois esta é a maneira que considero mais interessante e com a suficiente projeção para fazê-lo. (p.107)

Se colocar no papel daquele que aprende, do aluno (o professor aprende muito mais se colocando como tal).

As diversas etapas de mobilização criadora permitem à criança, ao adolescente ou adulto não ouvinte, um maior reconhecimento de si mesmo e lhe permitem a segurança e a alegria de exteriorizar movimentos produzidos por ela em relação ao seu ritmo interno de forma criativa. (p.108)

O ponto mais importante é a integração. O grupo de não ouvintes vive numa sociedade de ouvintes; quanto mais estiver integrado nela através dessa linguagem mobilizadora que é a dança, menos complexos e frustações lhe causaremos. (p.108)

Ao integrar-se no grupo de ouvintes, o grupo não ouvinte, mobilizado por estímulos que ele não percebe, impregna-se de uma atitude geral muito positiva. (p.108)

Abrem sua sensibilidade e sua compreensão, e a falta de estímulos auditivos lhes permite valorizar seu corpo ao máximo e achar uma linguagem mobilizadora expressiva à qual se entregam sem reticências. (p.108)

Talvez resistamos a escrever o que já dissemos com outra linguagem; custa muito repetir oralmente um sentimento muito profundo que já expressamos com ritmo e forma. (p.109)

Hoje eu consigo compreender a complexidade de escrever o que o corpo quer fazer/ser. Nas escritas dos projetos de dança, nos ateliês, tenho muita dificuldade em colocar no papel aquilo que meu corpo quer dançar. Sistematizar, organizar as ideias que primeiro passam pelo corpo não é uma tarefa simples.

As correções servem para seguir em frente. (p.109)

Particularmente destaquei esse trecho para carregar sempre comigo, visto que é muito difícil lidar com a correção. Nem sempre estamos preparados para ser corrigidos e levar isso como positivo. É uma frase que levarei em minhas vivências e experiências.

Obedecer qualquer movimento, mas dando tudo de dentro para fora. (p.110)

Não é necessário ouvir para poder expressar-se através do corpo e comunicar-se com os demais. (p.110)

O movimento, a expressão é um meio de comunicação. O corpo fala o que a linguagem não precisa afirmar.

A tarefa de reabilitar, conhecer e ajudar a um surdo não pode ignorar a valiosíssima experiência que significa o encontro com o corpo e, através deste, com a dança. (p.111)

O encontro com o corpo é sempre um encontro profundo e transformador, que a cada visita permite uma experiência diferente.

- A criança surda ou hipoacúsica pode integrar-se naturalmente em um grupo de dança de alunos ouvintes. (p.112)

- A criança não ouvinte, seja pequena ou adolescente, pode chegar a captar ritmos não audíveis e transformá-los em dança. (p.112)

- A dança pode converter-se, para a criança surda, em uma linguagem de comunicação que lhe permite sair de seu isolamento. (p.112)

- A linguagem da dança dá à criança surda conhecimento de si mesma que se traduz em segurança, alegria e criação. (p.112)

- A posse dessa linguagem de movimento repercute em todas as esferas da vida, tanto familiar como social, da criança surda. (p.112)

- Considero que a dança, encarada deste modo, constitui uma autêntica terapia ocupacional cuja técnica deverá aperfeiçoar-se com a participação de psicólogos, foniatras e médicos. (p.112)

Todas essas conclusões só reafirma aquilo que sabemos mais que a todo momento a sociedade nega. São confirmações verdadeiras já conhecidas por

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