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Resenha "A Cidade e a Criança"

Por:   •  22/11/2018  •  1.574 Palavras (7 Páginas)  •  283 Visualizações

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É desse contexto que se originam espaços escolares padronizados e padronizadores com o principal objetivo de disciplinar seus alunos e condicioná-los a determinados comportamentos. Como meio de garantir o cumprimento de suas ordens, os adultos aprisionam as crianças em salas de aula de aberturas pequenas e visores de vidro nas portas que os permitem observá-las a qualquer instante. A infância é tratada desde os primórdios como “um estado de desvio a ser corrigido, premiando as crianças capazes de se aproximar mais do comportamento adulto” (pg. 39).

Na terceira parte Mayumi trata da necessidade da construção de espaços produzidos para o uso exclusivo das crianças, uma vez que a cada local que ela tenta se manifestar de alguma forma é rapidamente reprimida por adultos que a controlam. Os espaços públicos aparentemente voltados para o público infantil são fornecidos às crianças em forma de sistemas fechados, “mercadorias a serem consumidas passivamente, que não comporta integrar neles o maravilhoso, o imaginário e o espontâneo” (pg.54). Isto porque, tais espaços não foram produzidos para a criança real, mas sim para aquela que se apresenta como um adulto reduzido, padronizado pela sociedade que o envolve.

Se sobrepondo às necessidades da criança, a imobilização e a disciplina pelo medo da punição realizadas pelo adulto impossibilitam a livre expressão, item essencial para o desenvolvimento e aprendizado dos pequenos. O estímulo de todos os sentidos da criança, permite que a mesma se relacione de forma mais intensa com o ambiente em si. Não podendo se manifestar, tal relação é prejudicada.

A autora alega que a educação deveria ocorrer em vias de mão dupla, por não ser somente o professor que possuí conhecimento a ser transmitido, mas sim uma troca mútua em que o aluno problematiza e propõe novas respostas às questões apresentadas. Contudo, a sala de aula acaba se configurando como um ambiente nada convidativo onde não é permitido aos alunos deixarem suas marcas individuais, em pisos ou paredes por exemplo, alterando-a de alguma forma. Cada vez mais, são constituídos espaços escolares como meros “arranjos de construções”, de exigência mínima e mal resolvidos ao se tratar das necessidades e bem-estar da criança.

Além de escolas, os espaços de recreação infantil, destacando-se os parques públicos, são elementos onde os adultos, mais uma vez, impedem a fantasia ao se adiantarem e imaginarem pelas próprias crianças. A repetição sistemática de brinquedos com estruturas idênticas e locais distintos refletem a falta de cuidado e atenção dada aos momentos de lazer delas. Segundo Mayumi, “É preciso, pois, deixar o espaço suficientemente pensado para estimular a curiosidade e a imaginação da criança, mas incompleto o bastante para que ela se aproprie e transforme esse espaço através de sua própria ação” (pg.72).

A quarta parte se restringe a apresentar a história da EEPG João Kopke, um caso exemplar de dominação opressiva dos adultos sobre as crianças das escolas públicas. Todo o processo de construção da nova cede envolveu a participação dos alunos, capazes de construir seu próprio espaço. É importante ressaltar, contudo, que os professores e diretores do colégio depois de pronto, não conheciam a história da construção do João Kopke e, portanto, não reconheciam a importância da participação ativa dos seus alunos.

Na quinta e última parte do livro, a rua aparece como elemento chave de transição entre o público e o privado. Entre o período de 1770 a 1775 percebe-se a utilização das ruas como espaços de lazer para as crianças que não enxergavam dentro de suas próprias moradias atividades outras que não comer e dormir. Entretanto, com o passar do tempo, a via deixou de ser utilizada para entretenimento, funcionando apenas como meio de circulação. A criança expulsa das ruas é encarcerada em instituições como creches, escolas, ou até mesmo em fábricas onde seus pais trabalhavam, espaços que, infelizmente, não compreendiam suas carências.

Desta forma, são criadas diversas estratégias pelas próprias para a construção e ocupação de ambientes além de suas vizinhanças ou entorno próximo. Essas estratégias divergem de acordo com a condição social e local de moradia, sendo ele favelas ou apartamentos de luxo em bairros valorizados. Para a autora, o espaço construído surge nesse contexto como uma possibilidade de se tornar material pedagógico auxiliar uma vez que, a passagem da escola-prisão para a escola-parque funcionaria como uma maneira de reconquistar os espaços públicos perdidos durante a era industrial das cidades brasileiras.

Apesar de publicado no ano de 1989, sua temática se mostra ainda bastante atual. A criação de espaços destinados ao público infantil, sendo eles escolas ou não, é essencial para a transformação do ambiente social bastante conturbado com o qual convivemos hoje. Se a formação do indivíduo adulto tem início a partir de sua primeira infância, por que não buscar projetar edificações que satisfaçam de forma completa todas as necessidades

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