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Resenha do livro "A CIDADE ANTIGA"

Por:   •  26/9/2018  •  2.581 Palavras (11 Páginas)  •  501 Visualizações

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A mulher nas famílias primitivas não um tinha papel direto nos cultos, pois o antepassado cultuado por ela nem sempre era o mesmo que o de sua família de sangue, assim que ela se casava renunciava os deuses do seu pai e passava a cultuar os do seu marido. Ela só se ligava ao culto através do sacerdote, que poderiam ser: o pai, o irmão ou o marido. O casamento, portanto, é a cerimônia que marca o processo de desligamento da mulher dos deuses de seu pai para começar a adorar os deuses do seu marido. Isso só poderia acontecer com a autorização do pai da mulher diante do fogo sagrado da família desligando sua filha do culto familiar passando assim a não ser mais sua filha, pois suas relações eram baseadas na crença. Em um segundo momento o noivo simularia um rapto da mulher em que os pais dela fingiriam defender a mesma e o marido, com ela nos braços para que não pise no solo sagrado da casa de sua família, adentra-a colocando sua esposa em frente ao fogo sagrado para fazer o culto de iniciação da noiva na religião de seus manes. Após o culto de casamento a mulher se torna parte da família do marido e esquece completamente a de seus pais, não há comunidade entre as duas famílias.

Podemos, a partir desses relatos, perceber que ainda hoje temos atitudes semelhantes. Na contemporaneidade ainda preservamos o fato da entrega da filha pelo pai num altar religioso para o noivo nas religiões cristãs, só que neste ato não reside mais o mesmo intuito do primeiro, é uma atitude externa e que não sabemos o porquê de sua atual existência.

A proibição do celibato era clara, pois os cultos aos mortos deviam continuar de qualquer maneira e o celibato vetaria essa perpetuação da família e por consequência dos ritos religiosos. A esterilidade da mulher, no entanto, permitiria e até obrigaria a anulação do casamento, mas se a esterilidade for do marido um homem de sua família poderia ter esse filho com sua mulher e depois ele se tornaria seu, o parente servindo só para a copulação. Havia também a possibilidade da adoção, em que um estranho era introduzido à família a partir de um culto, assim como acontece com a mulher. Para a adoção de um filho deveria ocorrer, em contra partida, sua emancipação da família anterior para que ele pudesse ser introduzido no culto da nova família.

Com a morte do sacerdote o filho mais velho herdava os bens dos deuses familiares, o túmulo e a casa onde estava o fogo sagrado. A ideia do direito de propriedade surge com a herança dessa terra onde os cultos e a religião doméstica deveria ser perpetuada, ela garante a propriedade privada. O medo do deus vizinho garantia que ninguém invadiria ou violaria a propriedade de outrem. O direito privado teria existido antes da cidade. Ao legislador foi imposta a lei originada na família onde o esposo possuía o poder de senhor do lar, de rei, de magistrado.

O pai de família não poderia vender sua casa, pois se assim o fizesse os deuses se voltariam contra ele, mesmo assim seu poder como pater e sacerdote era absoluto, acima dele só estavam seus deuses e seu respeito estava baseado em sua qualidade como sacerdote. Ele tinha direito sobre a vida e a morte do seu filho, pois antes do culto de iniciação no culto este filho n fazia parte da família e poderia ser morto pelo pai. Este podia também obrigar seus filhos a casarem com quem ele ordenasse, e se ele tivesse apenas mulheres podia fazer com que o primeiro filho desta fosse seu, tudo para perpetuar o culto doméstico. Ao pater cabia a administração de todos os bens da família e as decisões.

A necessidade por prestadores de serviços e a religião não permitir que um estrangeiro entre em sua casa, lugar sagrado, fez com que homens estranhos precisassem passar pelo rito de introdução e passaram a ficar preso a essa família. Assim começava a existir a figura do escravo, o qual era subordinado a essa família para poder ter um papel na sociedade.

As famílias passaram por um processo de crescimento tronando-a mais complexa, o que levou a um agrupamento de famílias com descendência comum o qual foi chamado de genos, não podendo ser dito que eram famílias distintas, pois tinham deuses antepassados em comum. A família era uma unidade organizada, com seu chefe hereditário, seus escravos e sua religião a qual tinha leis próprias asseguradas pelo magistrado, o pater.

Com o passar do tempo surgiram novas crenças além da doméstica, criaram-se deuses baseados nos fenômenos da natureza, para cada um deles designava-se um deus e eram diferentes para cada família. Podiam existir vários nomes de deuses diferentes para cada fenômeno, tornando-se propriedade de cada família. Percebe-se então um desconforto desses povos em relação ao mundo externo, pois para eles esses deuses da natureza vivem em constante luta e para que eles se protejam devem venerá-los, apenas os deuses domésticos são absolutos.

O autor segue em sua obra definindo melhor a cidade antiga, começando pelas fratrias, cúrias e tribos. Com o crescimento das famílias foi necessário contemplar uma divindade superior aos deuses domésticos que fosse comum e velasse pela fratria como um todo. O alargamento das fratrias acabou culminando no surgimento da tribo com seus altares aos deuses e heróis e um direito mais complexo, não havendo, acima dela, poder social algum. As cidades foram, então, agrupamentos de tribos que se subordinavam ao deus das famílias mais fortes e numerosas; o lar passa a ser apenas o altar de um deus maior e nisso se vê a passagem de estado de fratria ou cúria (latina) para o estado de cidade. Se no começo cada tribo, tal como fora com a família, não se comunicava com outras tribos, a cidade foi o advento de associações de tribos, guardando seus ritos, segredos e identidades. Segundo Fustel (1961, p. 123), “Fechada dentro de limites sagrados, estendendo-se ao redor do altar, a cidade era o domicílio religioso, que recebia deuses e homens”.

Família, fratria, tribo e uma cidade eram instâncias que não necessariamente se comunicavam simultaneamente; um homem quando criança pertence à família e anos depois à fratria e assim por diante, até que seria iniciado no culto público, tornando-se cidadão. Mas cada família ainda mantinha seus cultos, seu altar, seus chefes seus juízes e leis próprias; só em alguns aspectos é que funcionavam como uma cidade única, uma confederação de grupos constituídos antes da formação da cidade.

Tinha-se ainda uma distinção entre cidade e urbe para os antigos, aquela era uma grupamento religioso e político das famílias e tribos enquanto a urbe era o domicílio, o local de culto e , sobretudo, o santuário. Selecionada e revelada pela divindade, o local da urbe

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