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COMPLEXO DO VER-O-PESO INSERIDO NO DEBATE: A INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA EM CENÁRIOS HISTÓRICOS

Por:   •  9/11/2018  •  2.394 Palavras (10 Páginas)  •  254 Visualizações

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O presente artigo usa da metodologia de revisão bibliográfica e tem por objetivo analisar a intervenção arquitetônica dentro do Complexo do Ver-o-Peso, mostrando o diálogo do “antigo” e do “novo” apresentado entre componentes do Centro Histórico de Belém; e inseri-los no antigo debate sobre a intervenção arquitetural em patrimônios edificados.

O “antigo” debate

Os edifícios contemporâneos que são erguidos em locais de cenários históricos são uma controversa para a Arquitetura, e acabam por alimentar um debate centenário que envolve estética e respeito ao patrimônio.

De acordo com Benévolo (2007), a Europa possui a mais antiga tradição em termo de conservação e restauro. Com a Comissão de Monumentos Históricos criada na França, a responsabilidade sob os monumentos históricos foi passada ao poder público em 1837, prática presente na realidade brasileira atual. De acordo com Choay (2001), esta legislação foi tida como referência em toda Europa, desencadeando a promulgação da primeira lei sobre monumentos históricos em 1887, que tomava sua forma definitiva em 1913 após algumas alterações.

Dentro do cenário francês intervencionista, a figura máxima a definir uma teoria de preservação foi Viollet-Le-Duc (1814 – 1879), que afirmava que restaurar um edifício é dar a ele um formato que pode ainda nunca ter existido. Em contrapartida, de caráter anti-intervencionista, surgem John Ruskin (1819 – 1900) e William Morris (1834 – 1896), que consideravam as marcas conferidas pelo tempo parte da essência do monumento, e que qualquer intervenção seria extremamente agressiva à sua história.

Direto de Viena, o juiz, filósofo e historiador Alois Riegl (1858 – 1905), trouxe a grande contribuição de atribuir aos monumentos arquitetônicos o caráter de objeto social e filosófico, sendo o primeiro a definir os mesmos a partir de seus valores históricos. Além de Riegl, Gustavo Giovannoni (1873 – 1943) também agregou valor museal aos monumentos, mas agora estes dentro de conjuntos urbanos, cidades históricas.

Giovannoni, como arquiteto restaurador, urbanista, historiador de arte e engenheiro, via a cidade não como objeto estético ou monumento, mas como tecido vivo, e com ele se viu pela primeira vez a preocupação referente ao entorno dos monumentos patrimoniais e a inserção de novos edifícios em seu contexto.

Com a grande devastação pós Segunda Guerra, o preenchimento de lacunas para recomposição e complementação de partes nas edificações não era suficiente, era preciso resgatar a identidade de lugares devastados. Assim surgiu o chamado “Restauro Crítico”, que parte do respeito pelo monumento em sua integridade e autenticidade, com uma atitude crítica diante das características estéticas e históricas.

O pesquisador César Brandi (1906 - 1988), baseado na teoria de Riegl, reforça a ideia de que a restauração deve partir do valor que confere a um bem a sua condição de “obra de arte”, contudo, ressaltando o fator histórico, prova da passagem da obra no tempo com futuras intervenções demarcadas. A partir daí ocorre a ampliação do conceito de preservação do patrimônio cultural, que passa a incluir também o patrimônio recente, objetivando ajustar a herança do passado aos métodos de conservação e recuperação dentro do cenário atual.

Brolin (1984) salienta que a harmonização entre o antigo e o novo pode passar por vários níveis. De acordo com ele, uma reforma apresentaria três graus de interferência no projeto original:

RADICAL: quando os novos elementos intencionalmente contrastam com o existente, pelas intenções projetuais ou tratamento a nível de material, cor, textura, etc. Há um choque em termos formais paralelo ao de termos funcionais.

EQUILIBRADO: quando se procura associar harmonicamente os acréscimos ou modificações ao que já existe, o que pode ser feito através da repetição de tipos, unificação de motivos e tratamento cromático, mas nunca de maneira dissimulada, isto é, promovendo algum tipo de "falsifica- ção" da obra.

SUTIL: quando há um respeito completo ao que existe previamente, tanto em função dos novos componentes sugeridos como dos novos usos previstos. Muitas vezes, é bastante difícil identificar o que foi reformulado. (CASTELNOU NETO, 1992, p. 267)

No contexto teórico contemporâneo, Moreno-Navarro (1924 - 1980) afirma que há uma crise no final do século passado dentro do conceito e alcance do patrimônio, afirmando uma obsolescência na maioria das teorias sobre as intervenções. Ele defende a recuperação do espaço como fator indispensável para assegurar a autenticidade dos monumentos e correlaciona diretamente a denominação de “patrimônio” aos edifícios que são associados a sentimentos de admiração, nostalgia ou esperança dentro de uma comunidade, além de serem símbolos de atividades ou de relações sociais.

Muñoz-Viñas (2004), se opõe a essa teoria argumentando que nem todo objeto de restauração é obra de arte. Ele critica a supervalorização da estética e a ausência da importância dada a utilidade e funcionalidade do objeto.

Ainda que dentro desse debate tenha ocorrido grandes avanços desde sua aparição primeira na Europa do século XIX, hoje ainda há inconsistências entre teoria e prática, pois os arquitetos, nem sempre cautelosos, atuam de forma a ferir os valores adquiridos pelo monumento ao longo de sua existência (SANJAD E FORTE, 2004).

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A contemporaneidade no Complexo

Figura 1 – Mapa do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Ver-o-Peso, Belém/PA

[pic 1]

Fonte: http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/parc/article/ view/864070 3. Acesso em: 25 agos. 2017.

O Complexo do Ver-o-Peso é um bem de valor cultural e histórico não só para a cidade de Belém, mas também para a Amazônia, por sua ligação intrínseca com o rio. Nele está incluído a feira livre, o Mercado de Peixe, Mercado de Carne, Solar da Beira, identificados na Figura 1, entre outras áreas, localizados da Av. Boulevard Castilhos França até a Praça D. Pedro II e Praça do Relógio. Durante seus quatro séculos de existência, o Complexo passou por inúmeras transformações.

Sua denominação surgiu em 1985, quando foi inaugurado o projeto de restauro do complexo assinado pelo então coordenador

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