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Tratamento Integrado da Obesidade Infantil: Subsídios para uma proposta multidisciplinar e lúdica

Por:   •  21/12/2017  •  3.883 Palavras (16 Páginas)  •  393 Visualizações

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Heller (2004b) declara que ao se sentir rejeitada por não estar nos padrões estabelecidos pela sociedade e ainda ter de lidar com as limitações físicas impostas pela sua condição, a criança obesa sente-se cada vez mais diferente, e por não ter habilidades comportamentais de enfrentamento a mesma tende ao isolamento e também ao comer compensatório.

Schachter, Goldman e Gordon (1968) abordaram a dificuldade comportamental de indivíduos obesos em lidar com situações aversivas, evidenciadas pelo aumento de ingestão alimentar diante de um ambiente desfavorável. Foram comparados indivíduos obesos e não obesos frente a situações que produziam desconforto. Foi observado que indivíduos obesos comiam mais em tais situações, ao passo que não obesos diminuíam a comida.

Outros estudos demonstram como a família pode influenciar na aprendizagem do comportamento alimentar desadaptativo. Souza, Heller, Anjos e Aguirre, (2003) buscaram analisar a influência materna nos hábitos alimentares dos filhos. Verificou-se que mães inseguras e inexperientes recorrem a superalimentação dos filhos, acarretando em obesidade nos mesmos.

Kaufman (1999) considera, ainda, que uma mãe ansiosa que avalia qualquer sinal de desconforto do filho como ameaçador a sua auto-estima recorre ao alimento para satisfazer a necessidade do filho, seja ela de qualquer espécie: fraldas molhadas, cólicas entre outras.

Souza e Heller (2004) referem-se às relações estabelecidas pelos pais entre alimento e choro, em que o primeiro é freqüentemente utilizado como conseqüência ao choro, e este momento, ainda, é marcado por comportamentos de afeto que acontecem concomitantemente, ex: a mãe que amamenta o bebê, quando este chora por determinada situação. Essa relação descrita acima favorece a aprendizagem do comportamento alimentar desadaptado como defesa contra situações aversivas.

Os problemas de manutenção e engajamento em tratamentos para perda de peso são gerados principalmente pelo processo de aprendizagem relacionado à resposta de comer em excesso diante de situações geradoras de medo e ansiedade (Heller, 2004a, 2004b). Frente à impossibilidade de nunca se deparar com situações estressantes, faz-se necessário a aprendizagem de respostas mais adequadas a essas situações.

Crianças e adolescentes por terem maior facilidade de sofrerem mudanças comportamentais, tornam-se um público com maior aptidão a aprendizagens funcionais (Stice, 1998). Diante disso tem-se melhor prognóstico no tratamento da obesidade e a possibilidade de ação preventiva.

Moreira e Benchimol (2006) assumem que o tratamento da obesidade é um grande desafio, pois não existe uma fórmula mágica capaz de oferecer resultados satisfatórios e em longo prazo sem que se tenha uma mudança radical no estilo de vida da pessoa acometida por esse mal. Os mesmos autores relatam ocorrer uma constante conscientização de que o tratamento da obesidade é multidisciplinar.

Diante desse quadro, verifica-se a importância de apresentar uma revisão da literatura, identificando elementos relevantes para o tratamento da obesidade infantil

Intervenções a partir do modelo biomédico

Nos anos 90 a base etiológica multifatorial dessa doença foi considerada; podendo, desse modo, envolver vários componentes genéticos, fisiológicos, emocionais, cognitivos, comportamentais e ambientais (Brownell & O’Neil, 1999). Os fatores genéticos e fisiológicos referem-se à predisposição do individuo tornar-se obeso e a influência da quantidade de células de gordura existentes no organismo e suas características metabólicas. Fatores ambientais atuam na quantidade e qualidade dos alimentos oferecidos e mudança nos hábitos alimentares, como por exemplo, a industrialização (Kaplan & Sadock, 1984; Barbosa, 2001).

Dentre as intervenções tradicionais utilizadas no tratamento da obesidade, tem-se: os tratamentos nutricionais, que tem por objetivo comum a perda de peso sustentada e saudável, mas que se limita a medida que após a interrupção da dieta o ganho e de peso é proporcional à perda e o quanto mais rápido se perde, mais rápido o peso é recuperado, desse modo os resultados a longo prazo são desanimadores (Moreira & Benchimol, 2006). A atividade física, que possibilita a perda de calorias ingeridas, melhoria significativa nos diversos parâmetros metabólicos dentre outros benefícios, mas não é o suficiente para a perda de peso (Moreira & Benchimol, 2006); além disso, crianças obesas têm dificuldade de engajamento e permanência nessas práticas (Souza, 2004). O tratamento farmacológico é uma das últimas alternativas para o tratamento da obesidade infantil, comumente não é usado devido ao grande número de efeitos colaterais e por não possibilitarem a manutenção do peso após a intervenção. Por fim tem-se o tratamento psicológico que é baseado em alterações do comportamento com o objetivo de diminuir o consumo calórico e aumentar o gasto de energia, através de técnicas definidas de acordo com as diferentes abordagens comportamentais.

Intervenções a partir do modelo comportamental

O tratamento psicológico consiste em focar os fatores comportamentais, cognitivos e emocionais. Estes em interação influenciam a realização de atividades físicas e mantêm estreitas relações com a aprendizagem do comportamento de se alimentar em situações aversivas ou em outras contingências (Barbosa, 2001).

Com o enfoque na solução de problemas, mesclando intervenção e avaliação, a terapia comportamental contemporânea não se limita em abordagens únicas, mantendo um enfoque de bases amplas e empregando uma combinação de procedimentos verbais, de ação e de métodos de múltiplas dimensões com vista sempre aos determinantes atuais e respeito com os dados (Franks, 2007).

Guerrero (2007), afirma que na atualidade os tratamentos comportamentais da obesidade se tornaram verdadeiros pacotes terapêuticos, acoplando além dos princípios da aprendizagem outros elementos, como informações dietéticas, exercício físico, reestruturação cognitiva dentre outros. Tudo isso aponta para uma abordagem integrada a partir do comportamento.

Fester, Nuremberg e Levitt (1962, apud Ades & Kerbauy, 2002), foram os pioneiros no estudo do comportamento alimentar, e conceberam a obesidade como fruto de hábitos alimentares desadaptativos. Stuart (1967) prosseguiu com essa idéia e sugeriu técnicas de autocontrole para o tratamento desta.

Segundo Stuart (1971), o comportamento de comer em excesso, é um operante e por isso

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