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Psicologia do desenvolvimento Humano. Novos desafios da terceira idade.

Por:   •  29/9/2018  •  3.114 Palavras (13 Páginas)  •  345 Visualizações

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3. Adaptação à transição de carreira na meia idade

A transição de carreira de acordo com Arthur e Rousseau (1996, p. 33) compreende ciclos de mudança e adaptação. A adaptação na psicologia se define como a alteração de um indivíduo associada à diminuição de sensibilidade ou de emoções por meio da exposição prolongada a um estímulo e corresponde a uma mudança funcional ou estrutural que aumenta o valor de sobrevivência de um organismo (CHAPLIN, 1985, p. 11; CORSINI, 1984, p. 14). Na meia idade o indivíduo se encontra diante de problemas de adaptação para os quais não está preparado e o que antes lhe parecia extremamente importante, as coisas pelas quais havia se empenhado perdem o significado. Tudo o que ele conquistou até então nos âmbitos familiares, profissionais e sociais vão dar lugar para a reavaliação dos valores que o acompanharam durante a sua trajetória. As transformações que ocorrem ao longo da vida se tornam mais intensas na meia idade, por isso esse período de vida vem sendo estudado e pesquisado. De acordo com Jung, a individuação é um processo de desenvolvimento que, na meia idade, procura conciliar os aspectos conscientes e inconscientes por meio da compensação, o indivíduo se volta ao desenvolvimento de aspectos que antes lhe eram inconscientes, como as fantasias e os desejos que não puderam ser realizados em períodos anteriores da vida. Anteriormente o indivíduo tinha sua energia voltada aos aspectos materiais e adaptações ao convívio em sociedade (ter uma profissão, família e participação da comunidade), e agora na meia idade passa a se centrar no ser interior visando à auto realização e plenitude. Jung (1967, p. 525) explicou a individuação como um processo de constituição e particularização da essência individual em que coexistem diferenciação e desenvolvimento. “A individuação está sempre em contraste, maior ou menor, com a norma coletiva, pois subentende a eliminação ou diferenciação do todo e a formação do particular [...]” (JUNG, 1967, p. 526). Por norma coletiva entende-se a totalidade dos caminhos individuais, a partir dos quais se formulam o conjunto de normas que regem o convívio em sociedade. Nesse contraste entre indivíduo e norma coletiva, surge um conflito em que a norma coletiva se torna cada vez mais desnecessária e um caminho individual começa a ser buscado e valorizado. “Por individuação entende-se, pois, uma ampliação da esfera da consciência e da vida psicológica consciente.” (JUNG, 1976, p. 527). Em outro trecho em que descreveu a meia idade, Jung (1953, p. 120) afirmou:

Portanto as reais motivações são enxergadas e as verdadeiras descobertas são feitas. A crítica busca por si mesmo e seu destino permite que o homem reconheça sua individualidade, mas este conhecimento não vem a ele facilmente. Ele é obtido por meio dos mais severos dos choques. No século passado a meia idade era associada ao período que tem início na segunda metade da vida, mas com o aumento da expectativa de vida contribuíram para que o significado da meia idade fosse revisto e a sua faixa etária correspondente fosse estendida para idades mais avançadas. (A expectativa de vida do brasileiro cresceu 9,1 anos entre 1980 e 2004, atingindo 71,4 anos (IBGE), 2006) e a porcentagem de trabalhadores com mais de 50 anos nas seis principais regiões metropolitanas é confirmada pelo IBGE (de 15,4 % em 2002 para 18,1 % em 2006).

- Fim do mito do declínio da meia idade

A ideia de que a meia idade marca o início do declínio e a de que aceitar limitações crescentes é a única maneira madura de possibilidade de envelhecimento ainda é uma situação pensada pela maioria das pessoas. Apesar de todos os problemas objetivos que surgem na meia idade, é um momento fascinante de oportunidade de reexaminar a própria vida. Entre a dúvida inevitável de saber como aqueles que envelhecem vão manter o padrão de vida ao qual a maioria se habituou em um emprego em período integral numa empresa, a meia idade traz também a limitação física que começa a ficar em evidência paralela a preocupação com a saúde que deve ser mais bem administrada. Somado a isso o fato de que o clima cultural torna cada vez mais difícil alguém na casa dos 50 anos encontrar trabalho o que não surpreende a enorme ansiedade vivida pelas pessoas na meia idade. Enquanto esses problemas são foco de discussão de médicos, laboratórios, economia entre outros, na melhor das hipóteses pode ser o momento no qual a motivação do indivíduo, segundo a definição do psicólogo Abraham Maslow, deixa de ser regida por deficiências e passa a ser fundada no crescimento. Na deficiência, a motivação é nutrida pela carência, quem não tem o que comer é consumido pela necessidade de buscar alimento, quem não tem autoestima é impelido provar seu valor, enquanto a motivação do crescimento não é alimentada pela ausência de algo, mas pela necessidade do homem de atingir seu pleno potencial. Esse impulso quando bem orientado resulta em um estado de reflexão que pode levar o indivíduo a ouvir a si mesmo e a descobrir quem realmente ele é e o que deseja buscar para sua realização na vida. Na meia idade o indivíduo tem mais liberdade do que em qualquer fase da vida, enquanto o jovem toma decisões sem saber muito bem qual é, realmente, sua capacidade, por desconhecer seus pontos fortes e fracos e não ter um autoconhecimento. Muitas carreiras seguem um processo de tentativa e erro regido por circunstâncias externas. A ilusão de liberdade do jovem é fundada ainda, numa idealização retroativa, o indivíduo sofre a pressão da necessidade de entrar em uma boa universidade, de tirar boas notas, de conseguir um primeiro emprego espetacular, de chegar a uma boa posição profissional antes dos trinta anos, tentando conciliar tudo isso com a vida pessoal e social, estruturando a sua identidade em cada uma dessas facetas. Já a meia idade não tem um caráter de urgência, o indivíduo deixou de ser consumido pelo temor de não se destacar ou de ter que demonstrar um ótimo desempenho nas atividades que exerce, ele tem conhecimento de suas habilidades, de suas possibilidades, sabe escutar a si mesmo e já não tem tanta pressa. Essa transformação é decorrente de um processo de estruturação gradativo e complexo dos padrões psicológicos do indivíduo, constantemente alimentado por informações experienciais, na formação de uma identidade valorativa e no objetivo de estar e ser no mundo, de construir a sua própria história como sujeito, ator e autor da sua vida.

As mudanças no mercado de trabalho trouxeram transformações que fizeram crescer as oportunidades para uma mudança de carreira para os que estão na meia

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