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O que sabemos da psicoterapia — objetiva e subjetivamente

Por:   •  1/12/2018  •  2.056 Palavras (9 Páginas)  •  384 Visualizações

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A liberdade experiencial refere-se à liberdade que o indivíduo precisa para verificar de maneira correta as suas próprias experiências e representá-las adequadamente na consciência. A avaliação do gostar ou não gostar deve ser dela mesma e não com referência a pessoas significativas.

Este conceito é muito importante para a psicoterapia, uma vez que, havendo liberdade experiencial, o sujeito vai explorando melhor a sua personalidade e identificando incoerências. À medida em que simboliza as experiências corretamente, reorganiza a autoimagem a fim de incorporar os elementos novos que foram corretamente simbolizados. A liberdade de expressão é a condição para que haja liberdade experiencial.

Imagem de Si – Juntamente com a tendência ao desenvolvimento, a imagem de si é um dos principais elementos da teoria da personalidade de Rogers. Parte integrante do campo perceptual, a imagem de si é a parte referente ao significado que o indivíduo dá a si mesmo a partir das experiências com os outros e com o meio.

A imagem de si mesmo é o self. Podemos distinguir entre self real, que é a imagem de si mesmo que o indivíduo percebe como sendo atual, e o self ideal, que é o que o indivíduo desejaria ser. À medida que o indivíduo vai se percebendo, essas percepções vão sendo organizadas no sentido de formar um todo coerente. Como o indivíduo tem uma tendência a manter a imagem que tem de si mesmo, pois disso depende a consistência da sua identidade, as novas percepções que cada um tem de si só são aceitas quando podem se integrar na configuração existente. É por isso que algumas percepções são simplesmente rejeitadas, uma vez que não se ajustam à imagem de si, e outras são distorcidas para que possam se integrar a essa imagem. Negar e distorcer é simbolizar incorretamente.

A imagem de si é fundamental para o ajustamento psicológico. No indivíduo ajustado, a imagem de si expressa adequadamente as necessidades e sentimentos do organismo, ou seja, há harmonia entre a imagem de si e o organismo. Ao contrário, no indivíduo desajustado, as experiências não chegam corretamente à consciência e a imagem que ele tem de si não é apropriada. Assim, um ditador, por exemplo, pode ter uma imagem de si de um ser democrático.

Isso pode fazer com que o indivíduo tenha uma imagem de si rígida, ou seja, ele não aproveita as novas experiências para desenvolver um conceito de si mais realista e assim conseguir um melhor funcionamento. O indivíduo rígido não tem abertura à experiência. Tende a utilizar rótulos e fórmulas para dirigir a sua vida. Tem horror de ser incoerente, embora todo ser humano seja contraditório por natureza.

Roger nomeou subjetividade de mundo íntimo, campo fenomenal ou campo experiencial está incluído tudo o que o organismo experimenta, conscientemente ou não. Contudo, mesmo que a experiência não seja consciente, grande parte dela fica disponível à consciência, podendo tornar-se consciente à medida em que o indivíduo necessite. Isso quer dizer, nas palavras do autor, que “a maior parte das experiências do indivíduo constitui a base do campo perceptivo” (p.467).

E propõe que o organismo reage ao campo perceptivo a depender de como este é apreendido. Dessa maneira, esse campo é a realidade do indivíduo, e somente dele. O indivíduo não reage a nenhuma realidade absoluta, mas à sua percepção de realidade, embora o autor reconheça que, dentro de uma ótica social, a realidade consiste nas percepções comuns a vários indivíduos, que confrontam as suas percepções, as atualizam e as confirmam. Entretanto, percepções não confirmadas também fazem parte da realidade do sujeito.

A noção de subjetividade Rogers se dá: “... a expressão ‘ideia ou imagem do eu’ se emprega mais frequentemente quando se trata da versão subjetiva vivida pelo indivíduo, enquanto que a expressão ‘estrutura do eu’ se emprega de preferência quando consideramos o eu a partir de um ponto de referência exterior” (p.165). Essas expressões servem para designar a configuração da experiência do sujeito, que é composta pelas percepções do eu, das relações com o outro e com o meio e dos valores que ele atribui a estas percepções. Ele ressalta ainda que outras características dessa configuração são a constante mudança e a disponibilidade à consciência.

Um elemento apresentado por Rogers que deve ser destacado é que, na sua concepção, o mundo particular do indivíduo só pode ser conhecido integralmente por ele mesmo. Nenhuma pessoa jamais saberá como determinado indivíduo captou uma experiência. No entanto, complementa o autor, o conhecimento da experiência total é apenas potencial, mesmo pelo indivíduo que vive a experiência. Partindo do princípio de que muitas sensações e experiências não vêm à consciência sob certas condições, Rogers afirma: “Por isso a minha consciência e o conhecimento do meu campo fenomenal total são limitados. Mas também é verdade que sou potencialmente o único que o posso conhecer integralmente. Ninguém pode conhecê-lo tão completamente como eu” (p.468). Neste ponto deve-se ressaltar que, apesar de ter afirmado que o indivíduo é o único de que pode conhecer integralmente o seu campo fenomenal, essa possibilidade é apenas potencial.

A partir da postulação de que a única pessoa que pode conhecer integralmente o campo experiencial de um indivíduo é ele mesmo, em potencial, e de que a conduta é uma reação ao campo experiencial assim como ele é apreendido, Rogers propõe que a conduta de um indivíduo pode ser melhor compreendida à medida em que se possa alcançar, tanto quanto possível, o seu quadro de referência.

Quando Rogers (op.cit., p.478) diz que “...o único caminho para compreender a conduta do indivíduo de uma forma significativa é apreendê-la como ele próprio a apreende”, ele chama atenção para o fato de que podemos cair em uma armadilha e encarar o outro a partir do nosso próprio quadro de referência ou de um quadro de referência mais geral, o que é mais complicado no processo psicoterápico, mas que não deixa de ser um complicador quando observo uma cultura diferente da minha, por exemplo.

Um dos problemas apontados nesse processo é que Rogers só tem acesso ao mundo interno do outro a partir de uma comunicação sua, e essa comunicação é sempre imperfeita. Contudo, como muitos dos objetos da percepção do outro têm contrapartida no meu próprio campo perceptivo, assim como sentimentos e atitudes decorrentes dessa percepção, como medo, inveja, satisfação etc, é possível ter acesso de alguma maneira ao seu campo perceptual, ou seja, é possível inferir, a partir

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