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O FENÔNEMO DA FIGURA-FUNDO COMO FORMA DE OGANIZAÇÃO PERCEPTUAL: FIGURAS REVERSÍVEIS

Por:   •  29/11/2018  •  2.348 Palavras (10 Páginas)  •  397 Visualizações

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Os fenômenos de organização da percepção são geralmente catalogados em percepção de forma, percepção de profundidade ou distância, e percepção de movimento. A percepção de forma, por sua vez, é dividida em duas partes: Figura-Fundo e Agrupamento, sendo este último os modos como a mente agrupa as informações, por meio de mecanismos de proximidade, semelhança, continuidade, conectividade e fechamento (Myers, 2016, pp. 200-201).

Figura-Fundo, por sua vez, é tido como o processo mais elementar da organização perceptiva (Atkinson, 2012, p. 142). É o mecanismo pelo qual, diante de uma universalidade de estímulos percebidos pelo cérebro, a atenção é concentrada num tema específico, chamado de figura, enquanto o restante do ambiente é percebido em segundo plano ou incidentalmente, o fundo. É certo que variações do ambiente, ou o encontro de algum objeto digno de mais significado ou merecedor de mais atenção, podem levar a constantes modificações da figura e de seu respectivo fundo. O que é imprescindível dizer, e se pretende demonstrar na fase prática deste trabalho, é que há sempre uma relação de primazia do objeto em relação ao fundo, ou em outros termos, os dois planos não são percebidos de modo equivalente, e ainda que se alternem sucessivamente, o fundo é sempre percebido de modo incidental ou periférico em relação à figura.

É justamente o caráter dual da Figura-Fundo que dá margem ao que chamamos de figuras ambíguas ou figuras reversíveis, que são figuras às quais se podem atribuir mais de um significado relevante, conforme uma parte da cena seja vista ora como integrante da figura, ora como integrante do fundo.

Em relação à figura tema do presente trabalho, das inúmeras variantes que podem plausivelmente interferir no resultado perceptual, optamos por testar o modo como a percepção é afetada pelo tempo de exposição do sujeito à figura. Em outros termos, buscaremos investigar – como será desenvolvido no tópico a seguir, sobre o método a ser utilizado na pesquisa – entre dois grupos distintos, se um determinado tempo de exposição à figura oferecido aos participantes do primeiro grupo será suficiente para propiciar o reconhecimento dos dois rostos passíveis de identificação na figura ambígua apresentada, bem como se o aumento do tempo de exposição ofertado a um segundo grupo de participantes trará alguma relevância em relação aos resultados obtidos pelo primeiro grupo.

Não podemos passar adiante, porém, sem mencionarmos outros fatores relevantes, além dos citados mecanismos de organização das informações, para o resultado perceptual.

O primeiro deles é o da adaptação sensorial, que vem a ser a diminuição de nossa sensibilidade a um estímulo constante. “Após a exposição contínua a um estímulo, nossas células nervosas disparam com menos frequência” (Myers, 2016, p.177). Certamente que para os efeitos do presente trabalho, seja em função da pouca quantidade de exposição dos participantes à figura, seja pelos micromovimentos oculares que renovam constantemente a informação visual a fim de impedir que ela se “apague”, não será este o fator mais relevante a interferir no resultado, mas sim a atenção ou interesse do sujeito em relação à figura, ou o declínio dela com o passar do tempo.

E ao falarmos de atenção, entramos na seara do que Myers denomina conjunto perceptivo, ou seja, o modo como nossas expectativas, contextos e emoções influenciam nossas percepções (Myers, 2016, p.208). Por tais razões, o ambiente, o contexto e até mesmo a disposição dos participantes serão levados em conta na fase de pesquisa propriamente dita, a fim de buscar uma menor interferência na inúmera quantidade de fatores que podem se justapor àquele que se pretende avaliar: o tempo de exposição.

Por fim, não podemos deixar de mencionar as espécies de processamento cerebral identificadas pelos autores como processamento paralelo e processamento serial. Gazzaniga cita o estudo da psicóloga Anne Treisman, e Myers, o de Livingstone e Hubel, para afirmarem que o processamento das características “primitivas”, como cor, forma, movimento e profundidade ocorre em paralelo, ou seja, ao mesmo tempo e de forma independente das demais. Na busca de qualquer uma dessas características elementares, o tempo de processamento da informação não é afetado ou distraído pelo processamento das demais características, chamadas de distratores. “Na busca de características, o tempo médio que os observadores levam para responder aos alvos não é afetado pelo número de distratores. Essa é a característica da busca pré-atenta.” (Gazzaniga, 2005, p. 176). Porém, quando o sujeito é solicitado a analisar mais de um elemento, como forma e profundidade, por exemplo, “o tempo necessário para encontrar o alvo aumenta linearmente com o número de distratores”, o que levou Treisman à proposição da teoria dos estágios de processamento, ou processamento serial de informações. Segundo esta teoria, numa busca de conjunção, em que mais de uma característica elementar deve ser analisada na interpretação da imagem, a atenção do sujeito passa a ser requisitada, e o processamento das informações passa a ser serial ou por etapas, de modo que o tempo de busca fica mais longo conforme a quantidade de elementos ou distratores necessários para a atribuição de significado da imagem (Gazzaniga, 2005, p. 176).

Feita a introdução acima, na qual buscamos alinhavar alguns dos pressupostos teóricos que embasam o estudo prático que representa a etapa final do presente trabalho, passemos, então, ao tópico seguinte, não sem antes lembrarmos que Myers cita Jacques e Rossion ao afirmar que somos capazes de reconhecer uma face humana em um sétimo de segundo. “Assim que detecta uma face, você a reconhece” (Myers, 2016, p.173). Este será o parâmetro para estabelecermos o tempo atribuído a cada grupo, lembrando, porém, que a “face”, no caso, está embutida em uma gravura, que corretamente interpretada, visto que ambígua, revelará não uma, mas duas “faces”, mutuamente excludentes uma da outra devido ao fenômeno Figura-Fundo.

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- MÉTODO

Como já mencionado, optamos por testar a hipótese de se, e como, a percepção do participante do teste é afetada pelo tempo de exposição do mesmo à figura (Anexo I), sendo o nosso objetivo primeiro identificar se a mudança desta premissa do tempo de exposição interfere na capacidade do participante identificar as figuras presentes na imagem.

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