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Humanista

Por:   •  22/1/2018  •  6.556 Palavras (27 Páginas)  •  333 Visualizações

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Por acreditar que estava simplesmente sumariando e apontando tendências comuns aos psicoterapeutas de sua época, Rogers ficou extremamente surpreendido com a reação de espanto e perplexidade da platéia. A audiência se dividiu entre os que o criticaram e atacaram duramente e os que o elogiaram e aclamaram. Foi somente a partir deste dia que Carl Rogers percebeu que a abordagem que ele vinha praticando não era uma tendência comum aos profissionais de sua geração, mas era uma abordagem inovadora e revolucionária. Vinte e quatro anos depois, referindo-se a este dia, Rogers[5] escreveu: “Pareceria um tanto absurdo supor que se pudesse nomear um dia no qual a terapia centrada no cliente tivesse nascido. No entanto, eu sinto que é possível nomear este dia e foi o dia 11 de dezembro de 1940”.

Devido à repercussão desta palestra, Rogers compreendeu que precisava desenvolver e aprofundar suas idéias, o que o levou a publicar, em 1942, Counseling and Psychotherapy: Newer Concepts in Practice. No Brasil, este livro foi publicado com o título Psicoterapia e Consulta Psicólogica[6].

- A descoberta da capacidade do cliente

Uma das características essenciais da nova abordagem em psicoterapia que Rogers estava desenvolvendo era a confiança na tendência do indivíduo para o crescimento e para a maturidade. Rogers descobriu que no interior do indivíduo residiam forças construtivas que até então eram subestimadas e cujo poder não era reconhecido pelos psiquiatras e psicanalistas de sua época.

Primeiramente Rogers constatou que quando havia uma atmosfera de aceitação e liberdade na relação terapêutica, livre de orientações, críticas ou aprovações, o cliente era capaz de reconhecer e expressar aspectos “ocultos” do seu eu, incluindo as suas facetas mais negativas. No entanto, a descoberta mais surpreendente feita por Rogers é que o cliente, após reconhecer e expressar estas facetas negativas, invariavelmente descobria dentro de si impulsos e características extremamente positivas, saudáveis e maduras. Rogers descreveu esta descoberta no artigo Aspectos Significativos da Terapia Centrada no Cliente, publicado em 1946, onde afirmou que a expressão dos impulsos positivos que promovem a maturidade é um dos aspectos mais certos e previsíveis do processo terapêutico na terapia centrada no cliente. Rogers também constatou que a nítida e disciplinada confiança do terapeuta nas forças internas de crescimento do cliente era um elemento fundamental para o sucesso da terapia. Quanto mais o terapeuta confiava na capacidade do cliente, mais ele correspondia a essa confiança, liberando essas forças de crescimento.

Rogers concluiu, por fim, que a tendência do indivíduo para o crescimento, que se expressava ao longo do processo terapêutico, só poderia ser explicada como sendo a expressão de uma força direcional básica originada do próprio funcionamento do organismo:

Na terapia centrada no cliente, a pessoa é livre para escolher qualquer direção, mas, na realidade, ela seleciona caminhos positivos e construtivos. Eu só posso explicar isto em termos de uma tendência direcional inerente ao organismo humano – uma tendência para crescer, se desenvolver e realizar plenamente seu potencial.[7]

Esta tendência foi denominada, a partir da década de 50, de tendência à atualização, tornando-se, então, o postulado fundamental da abordagem centrada na pessoa (Ver capítulo 3 – O conceito de tendência à atualização).

- Uma abordagem não-diretiva

Rogers observou que quanto maior era a liberdade oferecida ao cliente para que ele se expressasse espontaneamente, sem que fosse guiado, conduzido ou orientado pelo terapeuta, maior era a rapidez e a intensidade com que expressava os conflitos e sentimentos cruciais de sua existência. Desta forma, Rogers concluiu que o melhor guia é o cliente, isto é, que o cliente é a única pessoa capacitada a reconhecer as questões verdadeiramente importantes que precisam ser exploradas e compreendidas na terapia:

O caminho mais seguro para as questões importantes, para os conflitos dolorosos, para as zonas que a terapia pode tratar de forma construtiva é seguir a estrutura dos sentimentos do cliente tal como ele os exprime livremente. (...) O cliente é o único que pode nos guiar para tais fatos e podemos ter a certeza de que os padrões de conduta que são suficientemente importantes surgirão repetidamente no diálogo, desde que ele esteja isento de restrições e inibições.[8]

Por colocar a direção do processo terapêutico nas mãos do cliente, a abordagem de Rogers foi inicialmente denominada de abordagem não-diretiva (Ver capítulo 4.5 – A não-diretividade).

- O desenvolvimento pioneiro de pesquisas em psicoterapia

Em 1945, Rogers foi convidado a lecionar na Universidade de Chicago e a estabelecer, nesta universidade, um centro de aconselhamento baseado nos princípios da abordagem não-diretiva, o Chicago Counseling Center. Com o fim da Segunda Guerra, surgira uma grande demanda de atendimento psicológico para os ex-combatentes, os chamados veteranos de guerra. Por este motivo, a Fundação Rockfeller ofereceu a Rogers uma grande soma de recursos para a realização de pesquisas em psicoterapia no Chicago Counseling Center. Os resultados da série coordenada de pesquisas realizadas por Rogers e sua equipe na Universidade de Chicago foram publicados, em 1954, no livro Psychotherapy and Personality Change.

As pesquisas desenvolvidas por Rogers e sua equipe consistiram basicamente em testes ou verificações de hipóteses seguindo um modelo rigorosamente experimental e estatístico. Este, na época, era o único modelo de pesquisa reconhecido como científico. Estas pesquisas foram extremamente pioneiras pois, até então, as hipóteses sobre psicoterapia jamais haviam sido postas à prova por nenhuma outra abordagem. Apesar de utilizar a sua experiência pessoal e subjetiva como fonte e origem de suas hipóteses sobre a psicoterapia, ele considerava que este conhecimento não teria valor se não fosse comprovado ou verificado pelos métodos objetivos da ciência. Rogers e sua equipe foram também extremamente criativos ao inventarem novos procedimentos para verificação de hipóteses, como a técnica Q de Stephenson e o Relationship Inventory de Barret-Lennard.

A brilhante atividade de Rogers como pesquisador lhe propiciou um enorme prestígio junto à comunidade científica e profissional americana. Ele tornou-se editor de duas prestigiadas revistas científicas de psicologia - o Journal of Counsulting Psychology e o Aplied Psychology Monographs

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