Da Gestação ao Primeiro Ano de Vida: Os Fatores de Influência no Desenvolvimento Humano
Por: Sara • 4/11/2018 • 11.289 Palavras (46 Páginas) • 427 Visualizações
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O autor acima, por sua vez, esclarece que além das mutações físicas do corpo da mulher e do desenvolvimento do bebê também ocorrem transformações psíquicas durante o processo. O mesmo autor conceitua o parto como:
Parto – nome masculino – entendido como conjunto de fenómenos e mecanismos que tem por finalidade a expulsão do feto, e dos seus anexos, do organismo materno, a partir do momento da viabilidade teórica do feto acerca de 26 semanas após a concepção. (COSTA, 2014, p. 14)
Costa (2014) deixa claro que não somente o bebê é removido de dentro do corpo da mulher mas também uma estrutura onde ele estava anexado a esse corpo, e, também mensura em semanas o tempo médio que se leva da concepção até um trabalho de parto.
Esse mesmo autor consubstanciou o conceito sobre desenvolvimento para o ramo da saúde como sendo sinônimo de crescimento e aumento dos órgãos até atingirem maturidade.
A literatura fundamenta em variadas constatações de autores como Piaget (1969 apud PALANGANA, 2015), Luzes (2007), Bowlby (1969 apud BERTHOUD, 1998) e Winnicott (2006) que, no que tange ao desenvolvimento infantil, consideram-se três grandes áreas para a averiguação: motora, cognitiva e emocional. Estas três áreas de desenvolvimento interligam-se, influenciam-se e acontecem simultaneamente. Contudo, em determinados momentos, uma área pode ter mais protagonismo do que as outras, sem deixar de coabitar, a toda a hora, de noite ou de dia. E, em cada uma delas, pais, bebê e genética têm o seu papel.
Os achados de Luzes (2007) explicam que no primeiro ano de vida o cérebro do bebê cresce e experimenta o mundo através dos sentidos. São eles que lhe permitirão aprender, ainda que a estimulação exterior seja fundamental. Aprender, no primeiro ano, não é fácil porque o corpo e as competências cognitivas do bebê ainda estão em desenvolvimento.
O desenvolvimento cognitivo e psicológico também acontece de forma sequencial e por etapas para Bowlby (1969 apud BERTHOUD, 1998). Assim, os sons e as cores ainda podem parecer confusos, e, as primeiras experiências de aprendizagem são de causa/efeito e imitação, apoiando-se nas etapas que o bebê vai atingindo fisicamente. Ele elucida que a exploração de texturas e formas só poderá ser feita quando o bebê já tiver capacidade para segurar um brinquedo, pois, primeiro ele ganha mestria na aptidão física que, posteriormente, propicia o desenvolvimento cognitivo e sensorial do objeto; assim vão se dando os subsídios para averiguação.
O mesmo autor define que entre as bases de referência para o desenvolvimento afetivo conceitua-se o padrão de vínculo de apego entre mãe e filho. De acordo com a teoria do apego, o homem possui comportamentos instintivos. Existe, assim, um padrão de comportamento que leva a criança a não se afastar da figura protetora e faz com que a mãe também não a abandone. Bowlby (1969 apud BERTHOUD, 1998) explica que é importante, no decorrer do desenvolvimento infantil, que as condições ambientais sejam favoráveis, a fim de que o comportamento instintivo ocorra de maneira adequada, possibilitando que a criança mantenha constante interação e contato com a realidade exterior.
Ainda conforme o autor acima, o termo apego é derivado do inglês “attachment”, que significa “vínculo”; e muitas das mais intensas emoções humanas surgem durante a formação, manutenção, rompimento ou renovação dos vínculos emocionais. Luzes (2007) reafirma essa posição, apontando que o período que se segue ao parto é considerado como fundamental para formação do vínculo, dado que, durante os primeiros três dias após o parto, se ocorrer a separação entre mãe e bebê, a mãe perderá o contato íntimo com o filho, pois é um momento em que ela se encontra muito sensível a ele. Pode-se concluir que o apego consiste, então, num vínculo afetivo no qual os pais proporcionam a satisfação das necessidades da criança através do provimento de cuidados, conforto, carinho e proteção.
Sendo instintivo, Bowlby (1969 apud BERTHOUD, 1998) salienta que o trabalho de apego não necessita ser executado somente pelos pais; o recém-nascido é programado com uma grande variedade de capacidades e respostas para ir ao encontro de sua mãe ou pai. Pelo menos metade da tarefa de apego é realizada pelo bebê. Luzes (2007) enfatiza que a amamentação também colabora para consolidação do vínculo, e deve ser agradável tanto para a mãe quanto para o bebê, de modo a promover troca de afeto durante o ato do aleitamento.
Ambos os autores convergem postulando que a vinculação envolve o contato entre o recém-nascido e a mãe, e, a influência duradoura deste contato na ligação mãe-filho. Essa ligação vai sendo cimentada entre a mãe e seu bebê através de um relacionamento que implica amor incondicional, esse entendimento ou padrão de vinculação perdurará pela vida inteira, já que, aproximadamente, do nascimento aos dois meses, o bebê mostra uma gama de comportamentos de apego (chorar, sorrir, contato visual) que forma um sistema inato que elicia, no adulto, os comportamentos de cuidar do bebê.
Bowlby (1969 apud BERTHOUD, 1998) especifica que um bebê de 2 a 8 meses, aproximadamente, está numa fase de pré-ligação, e, assim, emite comportamentos de apego indiscriminadamente, a qualquer pessoa. Dessa forma, a sensibilidade dos pais para responder às necessidades da criança e a qualidade da interação entre ambos contribuem para o desenvolvimento de um senso de confiança e segurança, que servirá como base para o conhecimento e a exploração do ambiente posteriormente; servindo como modelo para os próximos relacionamentos.
Mais uma vez, ambos os autores apontaram que esse modelo interno de funcionamento desenvolvido durante a primeira infância evolui na medida em que a criança cresce, passando a fazer parte de sua personalidade, transformando-se em uma representação mental da relação de apego, que tende a persistir por toda a sua vida.
Winnicott (2006), bem como os dois autores acima, também sintetiza que a falta de adaptação entre as expectativas dos pais e o comportamento da criança podem acarretar distorções no vínculo, que repercutirão durante toda a vida. Isso porque a segurança oferecida pelas figuras de apego, durante a primeira infância, servirá como base para a criança formar novos laços afetivos com seus pares, desenvolver suas habilidades e interesses e enfrentar os desafios do ambiente, adaptando-se em diversas situações.
O contexto sócio-econômico-cultural também influencia o relacionamento entre os pais e a criança e a escolha das práticas educativas a serem utilizadas.
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