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Cinco Modelos Psicopatologicos Segundo Lacan

Por:   •  5/6/2018  •  3.385 Palavras (14 Páginas)  •  356 Visualizações

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O caso Aimée é revisitado em três tempos: a etapa de equilíbrio, fase pré-psicótica, a peça do destino que leva ao desencadeamento, a passagem ao ato em que Aimée ataca a atriz Huguette Duflot com uma faca. As modificações na apresentação dos transtornos estão determinados por atos psíquicos ou acontecimentos exteriores que provocam mudanças massivas de posição na paciente. O fenômeno da loucura não pode ser separado, conforme pensava Lacan, do problema da significação, ou seja, da importância da linguagem para o ser humano que está atravessado por sua verdade e sua mentira. A verdadeira causalidade da loucura está na insondável decisão do ser. Tal causalidade é fixada nas determinações da imago.

O estádio do espelho

Esse segundo modelo pode ser retirado do texto que Lacan apresentou, ainda em 1936, no XIV Congresso Psicanalítico de Marienbad, sobre o estádio do espelho. Ernest Jones era o coordenador da mesa e interrompeu Lacan aos 10min de apresentação. A primeira publicação que dispomos, se encontra no extenso artigo intitulado A família, publicado na Encyclopédie française, em 1938. O texto original se perdeu.

O texto apresenta um estudo das relações inter-humanas em termos “imaginários” gestaltistas e considera que toda relação inter-humana permanece relativizada pelo problema de sua constituição enquanto forma. As relações humanas se apresentam, de início, como relações de dependência, escravidão (inspiração na dialética do senhor e do escravo, de Hegel) e alienação, até o ponto que se pode dizer “ou um ou o outro”. No texto A família Lacan distingue três fases críticas particularmente importantes no desenvolvimento da criança: complexo de desmame, complexo de intrusão e complexo de Édipo. A resolução está calcada em modelos de identificação imaginários (imago).

Interessa neste texto abordar o complexo de intrusão ou estádio do espelho, considerado um momento de rivalidade fraternal, que o sujeito experimentará seu ser em relação à sua imagem, que se identificará à do outro. Esse processo representa um progresso em relação ao aspecto pouco compreensível da imago materna (do complexo de desmame). O estádio do espelho é apreendido a partir do ângulo dos ciúmes fraternos infantis, fonte notável de patologia psíquica, especialmente nos transtornos paranóicos. Algum tempo depois Lacan se servirá da noção de empreinte (marca, vestígio, impressão), para delimitar melhor suas idéias. Lacan reinterpretará o estádio do espelho como alienção a uma totalidade imaginária e, portanto, germe de potenciais conflitos do ser humano.

Essa teoria é retomada em vários momentos. Desde o início afirma que a imagem especular é um vão intento de síntese do sujeito, sempre buscada e sempre falha, destinada a suturar sua insuportável divisão subjetiva, advinda do recalque que, por sua vez, é consequência da linguagem. Evidencia, desde o princípio a impossibilidade da palavra para representar completamente o ser.

A imagem ficticiamente unificada do corpo se capta fora de si mesmo, no outro, e constitui o suporte do eu. Esta polaridade Lacan a encena no estádio do espelho: do lado real do plano especular se encontra o sujeito com seu corpo fragmentado e sua divisão inconsciente. Do lado virtual reencontra sua imagem unificada, base da enfatuação egóica.

A captação especular da imagem não afeta somente ao homem, ainda que nele ela alcança seu máximo. Ao final do primeiro ano de vida, a criança e o chimpanzé manifestam um interesse similar por sua imagem refletida, o que pode ser expresso em suas tentativas de apreendê-la com as mãos. Nesse momento ambos alcançam um nível de inteligência instrumental bastante semelhante, mas, outras diferenças os separam radicalmente. Desde o sexto mês a criança se vê afetada por um fenômenos perceptivo que se expressa através de dois signos: inibição atenta diante da imagem e alegre manifestação de energia.Ele reconhece como tal sua imagem no espelho.

O estádio do espelho deve ser concebido como uma identificação no sentido mais freudianos do termo, ou seja, como a transformação que acontece em um sujeito quando assume como própria, uma imagem. O bebê, submetido à sua impotência motriz, dependente do Outro para sua nutrição, celebra jubilosamente sua imagem especular, que constitui a matriz simbólica sobre a qual o eu se cristaliza de forma primordial. De modo que o mais importante, segundo Lacan, é que a instância do eu se situa em uma linha de ficção que somente assintoticamente toca o advir do sujeito, pois o eu não pode jamais dar conta por completo da noção de sujeito.

Sua psicopatologia, neste momento, apóia-se na teoria de Ana Freud, para a qual o eu é o lugar privilegiado das defesas. Os mecanismos neuróticos são resultado da inércia própria das funções do eu (je) na constituição fundamental do estádio do espelho e os psicóticos são conseqüência da captura do sujeito pela situação, que qualificará de alienação total, posteriormente, na imagem do espelho.

O Nome-do Pai

Este terceiro modelo diferencia de forma precisa neurose, psicose e perversão. A estrutura psíquica está determinada pela consistência do Outro, definido como Outro dos significantes e da linguagem, ou seja, meio de transmissão intergeracional do significante fálico.

A clínica desenvolvida por Lacan, neste período é bastante estruturalista e a lógica presente nos casos clínicos é especialmente descrita em função dos determinantes que podem ser apreendidos na constelação intergeracional, ou seja, em cada caso concreto segundo a forma particular em que o intercâmbio simbólico pode ter falhado, argumento que vai ao encontro com a problemática fálica tal como Freud a concebeu. Os diferentes casos apresentados ao longo desse terceiro período estão todos articulados em torno de três elementos fundamentais: a cadeia significante inconsciente (que inclui a ruptura do contrato inicial dos parceiros parentais, o pelo menos a um dos membros, em relação ao desejo) situada no lugar do Outro, o desconhecimento imaginário e o falo.

Por meio da teoria do Nome-do-Pai Lacan explicou a operação de aceitação primária, por parte do ser humano, de um significante fundamental ao que se submete a criança, no início de sua vida, que lhe permite aceder à linguagem simbólica e inscrever-se na filiação e na ordem geracional (sucessão). A este significante Lacan denominou de “significante do Nome-do-Pai”.

A triangulação edípica não está composta por três termos, mas, por quatro, já que

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