Capitulo 5 - Pacientes Terminais: Um Breve Esboço – Valdemar Augusto Angerami Camon & Dedicado a Regina D'Aquino
Por: Carolina234 • 9/4/2018 • 1.883 Palavras (8 Páginas) • 352 Visualizações
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Alguns Dados Relacionados com a Vivência do Paciente Terminal
O psicólogo habituado a trabalhar aspectos e esquemas corporais certamente domina o limiar da verbalização, tendo como cerne de sua atuação o expressionismo gestual. Ao enfatizarmos a comunicação não verbal, estamos abertos em uma dimensão muito mais intensa aos mais variados sentimentos, não passiveis de verbalização, portanto, há sentimentos que comunicamos apenas e tão somente pelo expressionismo corporal. Na relação terapêutica com o paciente terminal, o contato e a dimensão do expressionismo corporal existem, inclusive, não apenas como opção de atuação, mas também como alternativa ao definhamento corpóreo progressivo do paciente. Dessa maneira, vamos encontrar alguns pacientes que, em certos momentos, em consequência do definhamento corpóreo em que se encontram, além da dor e do torpor provocado pelo tratamento medicamentoso a que são submetidos, não conseguem expressar-se de outra forma a não ser pelo afagar de mãos, ou pela comunicação estabelecida pelo olhar. O olhar angustiado e suplicante de um paciente terminal possui a imensidão da dor e do desespero presentes no existir humano. Mesmo em situações nas quais o paciente consegue expressar-se verbalmente, o relato sempre vem acompanhado de um forte expressionismo corporal. A vivência com o paciente terminal possui sempre presente o espectro da morte, ainda que ele não manifeste verbalmente essa presença. O próprio definhamento corpóreo é um indicio marcante e verdadeiro da morte eminentemente presente da relação. O exaurir da morte traz à tona o processo, mostrando a irreversibilidade do tempo e do espaço nas coisas que se deixaram por fazer, ou que foram preteridas ou postergadas para outro momento. As razoes do existir e a própria razão sofrem constantes revisões, transcendendo muitas vezes até o limiar da existência. O olhar, dentre as formas de expressionismos dos sentimentos, é, seguramente, a mais abrangente em termos de dimensionamento absoluto. Um olhar de dor mostra o sofrimento de uma maneira que as palavras sequer podem conceber. A vivência com o paciente terminal traz muito presente o olhar, seja talvez por ser o mais puro dos expressionismos, seja ainda por conseguir transmitir os verdadeiros sentimentos daquele momento desesperador. O olhar tem sido uma das formas expressivas que se tem demonstrado grande parte da subjetividade humana, onde os sentimentos podem ser demonstrados de formas absolutas. E a vivência com pacientes trás bastante o presente olhar, sendo às vezes uma forma mais simples para expressar tais sentimentos. O relato de M.C.C. em seu leito de morte traz em momentos olhares de sofrimento, mas no último encontro, pode se reparar em seu leito um olhar que expressava um brilho que era incomum e desse brilho, pode se notar o brilho da morte, pois M.C.C havia acabado de falecer. Ao morrer, M.C.C. mostrou as luzes da morte e uma súplica de que queria mais alguns instantes de vida. A relação com paciente terminal é feita em seu leito de morte, onde se vê o paciente definhando. Nesse ambiente é encontrado sofrimento e dor causados pela doença. A vivência do terapeuta com paciente terminal, mostra que o terapeuta deve assumir determinados questionamentos e valores e relação a morte a ao ato de morrer. A ideia de as vezes a aceitação da morte ser necessária torna ainda mais difícil para o profissional de saúde, tornando-se aflito por tal desejo. No caso seguinte de F.A.L., um jovem que estava hospitalizado em São Paulo, o mesmo já não aguentava mais os tratamentos e começou a recusa-los, tornando a vida dos profissionais difíceis. O que o jovem F.A.L. gostaria era só voltar para sua cidade e ficar perto da sua família, pois lá ele estaria feliz. Para os médicos a negligência do tratamento era um confronto contra as leis da medicina, onde eles não aceitavam tal conduta. Os primeiros contatos com o terapeuta, fizeram com que F.A.L. tivesse um vínculo de amizade. Posteriormente depois de alguns encontros o terapeuta foi avisado de que F.A.L. retornaria a sua cidade. A equipe de saúde depois de muitas discursões resolve liberar o paciente terminal, para que o mesmo voltasse para cada e seus familiares. Assim no ultimo dia o paciente chorou muito ao relatar sua alegria em volta para sua casa e seu canto. Após a despedida a sensação que invade é que nunca mais o mesmo voltaria, a dor da despedida esquecia todas as circunstancias que determinava o afastamento. Na sequencia como estava previsto, o paciente foi ao recital, junto sua família, onde os mesmos providenciaram uma cadeira de rodas para que o mesmo fosse transportado, seu estado de saúde ainda inspirava bastante cuidado. Após o termino do recital era visível à alegria e paz no paciente terminal, vendo sua comoção, mostrando que a musica era umas das formas mais maravilhosas, transmitia paz. No dia seguinte, ao entardecer, junto ao paciente terminal em sua casa, o mesmo pediu que tocasse uma musica, pois era algo que transmitia alivio. A demonstração de seu relato na busca do alivio na morte, era algo dilacerante, algo inconcebível, mesmo para pessoas que teoricamente até aceitava tal posicionamento. Sua alegria demostrava naquele momento que nada mais queria da vida a não ser uma felicidade igual a sua vida. Mas nesse dia em que sua felicidade era plena, foi o seu ultimo, pois ao dormi como de habitual o mesmo amanheceu morto, havia então morrido em paz. O sentimento de abandono que experimentamos quando morre um paciente que atendemos é desolador, o único resíduo que fica é as coisas deixadas e ensinadas durante seu período de convivência. O contato com o paciente terminal questiona a maneira profunda e crucial dos valores da essência humana, pois nos ensina uma nova forma de vida, uma nova maneira de encarar as vicissitudes que permeiam a existência, uma forma de vivencia mais autentica, na qual os valores permeiam as relações interpessoais. A vida ganha novo significado, ao se perceber a amplitude da importância
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