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Abuso Sexual Intrafamiliar - Dialnet

Por:   •  26/3/2018  •  5.956 Palavras (24 Páginas)  •  380 Visualizações

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O envolvimento dos profissionais da saúde e o cumprimento dos aspectos normativos são de fundamental importância para trabalhar com os casos de abuso sexual, porque envolve aspectos legais e psíquicos tanto da vítima, do(a) abusador(a), quanto da família envolvida, começando pela denúncia e complementando com tratamento terapêutico e outras ações que sejam necessárias (Furniss, 1993). Unindo-se estes conhecimentos às tecnologias diferenciadas e específicas dos profissionais responsáveis e atuantes no campo referente à atenção e à saúde, e interligando esta atuação a outras iniciativas, se produz a construção de redes de atenção aos adultos, às crianças e aos adolescentes submetidos à violência doméstica e sexual. Estas redes em questão devem atuar conjuntamente com o sistema de proteção de direitos de crianças e adolescentes, formando uma trama constituída em virtude de tal proteção (Brasil, 2006). Sendo assim, o objetivo deste estudo é conhecer as concepções de profissionais da saúde sobre como se dá a dinâmica do abuso sexual intrafamiliar, visando o planejamento futuro de intervenções para favorecer o trabalho dos profissionais que estão atuando diretamente com crianças vítimas de abuso sexual intrafamiliar, em virtude de aprimorar o atendimento oferecido às mesmas.

Abuso sexual intrafamiliar

O abuso sexual intrafamiliar é equivalente ao incesto. Tem sua ocorrência dentro da própria família. A pessoa incestuosa sente atração pela criança, com quem possui algum grau de parentesco (Caminha & Flores, 1994). É característico nas famílias disfuncionais, havendo possibilidade de histórias de violência doméstica sofrida pelo abusador, pai e/ou mãe ou ainda cuidadores negligenciados por suas famílias de origem, bem como histórico de dependência química (Silva & Kein, 1999).

A vítima, perante sua inocência, pode não ter noção de tal realidade, entendendo que o ocorrido se dá como algo natural, por não ter desfrutado de uma realidade diferente da que está inserida. Pode sentir-se acuada em virtude do medo, permanecendo em silêncio. O silêncio é imposto por seu agressor, ou até mesmo pelo outro progenitor, que deveria exercer um papel de cuidador, mas acaba gerando uma situação em que não há proteção e reparação dos danos causados à criança. As testemunhas que se configuram como ouvintes ou até mesmo presenciais, muitas vezes se omitem em função das mesmas questões sofridas pela criança ou em virtude de uma ignorância perante a possível realidade (Almeida-Prado & Feres-Carneiro, 2005).

Conforme os escritos de Mees (2001), o abuso sexual costuma começar na infância, ainda antes da puberdade, quando os pais obrigam e/ou seduzem seus(suas) filhos(as) a situação em referência. Tal acontecimento traz consigo uma distorção dos papeis familiares. Como conseqüência, mostra uma importante realidade vivida na atualidade, em que inúmeras famílias têm sua responsabilização transferida para agentes dos serviços de saúde e organizações dirigidas à proteção das crianças e adolescentes.

Incesto, nos primeiros anos de vida, pode levar a baixa auto-estima de uma pessoa e esta não se permite o autocuidado além de se eximir do direito de ser cuidada, excluindo a possibilidade da valorização de seu corpo e sua dignidade, podendo fazer disso um caminho para a permissão e a exploração sexual. Dentre as possíveis conseqüências do incesto são citados efeitos prejudiciais para criança, tanto no âmbito comportamental como psicológico ou físico (Amazarray & Koller, 1998; Silva & Kein, 1999). Nesse sentido, conforme Prado e Pereira (2008), pode-se considerar que existem

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fatores traumáticos internos e externos envolvidos como conseqüência do abuso sexual que a criança pode passar.

No que diz respeito ao perfil dos abusadores, estes não têm “cara” e, na grande maioria das vezes, não é possível identificá-los com uma simples convivência (Perrone & Nannini, 2007; Salter, 2009). As pessoas que abusam podem muito bem estar de acordo com as outras tantas leis que regem a sociedade e serem educadas, prestativas, atenciosas para com os outros (Salter, 2009). Confrontando com Salter (2009), Perrone e Nannini (2007) descrevem, além desse, outro perfil de abusador, em que o mesmo mostra-se uma pessoa agressiva, expondo sua força e virilidade de modo caricaturesco.

No que diz respeito à intergeracionalidade, segundo Weber, Selig, Bernardi, Salvador e Paraná (2006), pesquisas que investigaram a continuidade dos estilos parentais através das gerações concluíram que ela foi evidenciada em 91,7% dos casos. Pode-se fazer uma ligação com a teoria que propõe que as pessoas internalizam as experiências com seus significantes na forma de modelos de relacionamento e que estes, uma vez formados, são resistentes a mudanças. No caso da elaboração do trauma do abuso sexual não ter acontecido de forma saudável, pode se dar o mecanismo de repetição, colocando a vítima de abuso sexual no lugar de abusadora, em um processo de identificação com o agressor (Gomes, 2005; Penso & Neves, 2008). Segundo Jesus (2006), pesquisas mostram que de oito crianças abusadas, uma repetirá este padrão de comportamento. O autor sugere que um sujeito ofendido em sua infância, que se torna ofensor na vida adulta, comete a violência por não ter percebido seu sofrimento de forma consciente, havendo a possibilidade da violência sofrida por este sujeito influenciar na forma como ele cometerá o abuso.

Uma criança que tem a chance de ressignificar o abuso pode não repetir sua história com outras crianças e não ser um adulto autor da vitimização de uma ou algumas infâncias. Penso e Neves (2008) vêm ao encontro dos escritos de Jesus (2006), ao afirmar que o trabalho terapêutico pode colaborar na reelaboração dos papéis familiares. Ao colocar em pauta os profissionais que trabalham com crianças que sofreram abuso sexual em suas famílias, Brino e Williams (2003) alertam para a importância de capacitação destes para trabalharem com esta questão tão complexa que vem afetando infâncias e todos que as rodeiam, desde suas famílias até diferentes profissionais que não imaginariam se deparar com tal realidade. Caminha & Flores (1994) revelam-nos que se observa um despreparo generalizado no manejo e tratamento destes casos, por parte das instituições, profissionais da área da saúde, juristas e toda a diversidade de profissionais que atuam diretamente com a infância abusada. Ressaltando a complexidade do

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