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A SAÚDE-DOENÇA COMO PROCESSO SOCIAL

Por:   •  30/8/2018  •  3.143 Palavras (13 Páginas)  •  329 Visualizações

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- Por processo saúde-doença da coletividade, entendemos o modo específico pelo qual ocorre no grupo o processo biológico de desgaste e reprodução, destacando como momentos particulares a presença de um funcionamento biológico diferente como consequência para o desenvolvimento regular das atividades cotidianas, isto é, o surgimento da doença.

- Porque o processo saúde-doença tem caráter social, se é definido pelo processo biológicos do grupo? Por um lado, o processo saúde-doença do grupo adquire historicamente porque está socialmente determinado. Isto é, para explica-lo, não bastam os fatores biológicos, é necessário esclarecer como está articulado no processo social. Mas o caráter social do processo saúde-doença, não se esgota em sua determinação social, já que o próprio processo biológico humano é social. É social na medida em que não é possível focalizar a normalidade biológica do homem à margem do momento histórico. É possível estabelecer padrões distintos de desgaste-reprodução, dependendo das características da relação entre o homem e a natureza. → A “normalidade” biológica define-se em função do social, também a “anormalidade” o faz. O caráter simultaneamente social e biológico do processo saúde-doença não é contraditório, porém unicamente assinala que pode ser analisada com metodologia social e biológica, na realidade, como um processo único.

- Visto isso, a partir do paciente significa que sua história social assume importância, porque condiciona sua biologia e determina certa probabilidade de que adoeça de um modo particular, porém como sabemos, a probabilidade não se efetiva no indivíduo, senão como presença ou ausência do fenômeno. É por isso que a análise do caso clínico tem sua especificidade própria, já que, a priori, pode-se adoecer por qualquer causa e esta, para seu tratamento, tem que ser corretamente diagnosticada.

- O estudo do processo saúde-doença coletiva, desta forma, enfatiza a compreensão do problema da causalidade, pois que, ao preocupar-se pelo modo como o processo biológico ocorre socialmente, em consequência readquire a unidade entre “a doença” e “a saúde”, dicotomizada no pensamento médico clínico → torna-se insustentável explicar a doença como o efeito da atuação de um agente, como pretende o modelo monocausal.

- Uma proposição sobre a interpretação do processo de saúde-doença tem que encarar a unidade deste processo, tal como expusemos anteriormente, e seu caráter duplo, biológico e social. Isto significa reconhecer a especificidade de cada um e, ao mesmo tempo, analisar a relação que conservam entre si, o que implica em conseguir as formulações teóricas e as categorias que nos permitam abordar seu estudo cientificamente.

- O fato e se haver definido que o processo saúde-doença tem caráter histórico em si mesmo e não apenas porque está socialmente determinado, permite-nos afirmar que o vínculo entre o processo social e o processo biológico saúde-doença é dado pro processos particulares, que são ao mesmo tempo sociais e biológicos. Este modo de entender a relação entre o processo social e o processo de saúde-doença aponta, por um lado, o fato de que o social tem uma hierarquia distinta do biológico na determinação do processo saúde-doença e, por outro lado, opõe-se à concepção de que o social unicamente desencadeia processos biológicos imutáveis e a-históricos e permite explicar o caráter social do próprio processo biológico. Esta conceituação nos faz compreender como cada formação social cria determinado padrão de desgaste e reprodução e sugere um modo concreto de desenvolver a investigação a este respeito.

- Em termos gerais, o processo saúde-doença é determinado pelo modo como homem se apropria da natureza em um dado momento, apropriação que se realiza por meio do processo de trabalho baseado em determinado desenvolvimento das forças produtivas e relações sociais de produção.

TEXTO: MEDICALIZAÇÃO SOCIAL (Mel)

- O conceito de medicalização social começa a ser utilizado a partir de meados do século XX. É o processo de apropriação e normatização de crescentes aspectos da vida social pela medicina.

- Implicações da medicalização – Iatrogênese: danos à saúde resultantes da intervenção médica. Iatrogênese social, cujos sintomas incluem a ampliação crescente da produção e consumo de atos e serviços de saúde incentivada pela indústria farmacêutica e a crescente medicalização de condições de vida outrora consideradas normais. Para ele, com a crescente dependência dos sujeitos em relação aos serviços de saúde, produz-se ainda uma iatrogênse cultural, com a medicina expropriando dos indivíduos a capacidade de lidarem autonomamente com as várias apresentações do sofrimento, transformando-os em passíveis de intervenção técnica.

- Foucault (1984): raízes da medicalização – biopolítica – ideia de uma estratégia que inclui o biológico como componente das preocupações de gestão da sociedade pelo Estado moderno a partir do século XVIII.

- Século XVIII – revisão do significado da saúde e a extensão da normatização e interferência médica na organização da população e de suas condições de vida → O contexto social em que ocorreu essa reestruturação do campo médico-sanitário foi de urbanização desordenada e proletarização com altíssimos graus de exploração, extensas jornadas e péssimas condições de trabalho, o que conforma um quadro de miséria e condições de vida extremamente precárias para a recente força de trabalho urbana. Essas características confeririam às grandes cidades europeias um caráter de importante tensão social e instabilidade manifesta em constantes revoltas populares e em altas taxas de mobimortalidade por doenças infectocontagiosas. Com a necessidade urgente de reprodução da força de trabalho, o Estado realizou alterações importantes no meio urbano hostil, a fim de preservar as relações sociais que o produziram. Além da reprodução física da força de trabalho, fazia-se necessário discipliná-la para as condições do trabalho industrial. Tal processo é desenvolvido por meio de várias ações de normatização ideológica, entre elas as práticas higiênico-morais voltadas à vida familiar, comportamentos, moradia, educação, infância, sexualidade, etc., colaborando para a constituição dos alicerces da família e dos padrões de sociabilidade exigidos pelas relações capitalistas → aqui tem início o processo de extensão do campo de normatização médica sobre a vida, extensão que é elemento fundamental do processo

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