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A Identidade Cultural da Pós-Modernidade de Stuart Hall

Por:   •  14/3/2018  •  2.638 Palavras (11 Páginas)  •  422 Visualizações

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“Dois importantes eventos contribuíram para articular um conjunto mais amplo de fundamentos conceituais para o sujeito moderno. O primeiro foi biologia Darwiniana. O sujeito humano foi ‘biologizado’ – a razão tinha uma base na Natureza e a mente um ‘fundamento’ no desenvolvimento físico do cérebro humano. O segundo evento foi o surgimento de novas ciências sociais” (p.30).

Com o objetivo de esmiuçar esse processo de fragmentação das identidades modernas e a descentração do sujeito na modernidade tardia, o autor fez um esboço de cinco avanços na teoria social e nas ciências humanas que, na avaliação dele, foram responsáveis por esse processo:

- A primeira delas é a tradição do pensamento marxista, que dizia: “homens (sic) fazem a história, mas apenas sob as condições que lhe são dadas” (p.34). “O estruturalista marxista Louis Althusser (1918-1989), afirmou que, ao colocar as relações sociais (modos de produção, exploração da força de trabalho, os circuitos do capital) e não uma noção abstrata de homem no centro de seu sistema teórico, Marx descolou duas posições chaves da filosofia moderna: 1) Que há uma essência universal de homem; 2) que essa essência é o atributo de ‘cada indivíduo singular’, o qual é seu sujeito real” (p.35).

- O segundo descentramento vem da descoberta, por Freud, do inconsciente. “A teoria de Freud de que nossas identidades, nossa sexualidade e a estrutura dos nossos desejos são formadas com base em processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que funciona de acordo com uma ‘lógica’ muito diferente daquela Razão, arrasa com o conceito do sujeito cognoscente e racional provido de uma identidade fixa e unificada” (p.36). “A identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente no momento do nascimento. Existe sempre algo ‘imaginário’ ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre ‘em processo’, sempre ‘sendo formada’”. (p.38). O autor fala que a identidade não nasce com plenitude dentro dos indivíduos. Ela é preenchida, durante o tempo, com processos de identificação que complementam nossa identidade a partir do exterior, “pelas formas através das quais nós imaginamos ser vistos por outros” (p.39).

- O terceiro descentramento vem do pensamento do linguista estrutural, Ferdinand de Saussure. “Saussure argumentava que nós não somos, em nenhum sentido, os ‘autores’ das afirmações que fazemos ou dos significados que expressamos na língua. Nós podemos utilizar a língua para produzir significados apenas nos posicionando no interior das regras da língua e dos sistemas e significado de nossa cultura. A língua é um sistema social e não um sistema individual. Ela preexiste a nós. Não podemos, em qualquer sentido simples, ser seus autores. Falar uma língua não significa apenas expressar nossos pensamentos mais interiores e originais; significa também ativar a imensa gama de significados que já estão embutidos em nossa língua e em nossos sistemas culturais”. (p.40)

- O quarto descentramento vem da obra e do pensamento de Michel Foucault, através de uma espécie de “genealogia do sujeito moderno” (p.42). Seu estudo decorre da teoria de um novo poder exercido na sociedade, o ‘poder disciplinar’, através de estruturas governamentais que buscam vigiar e disciplinar o conjunto da sociedade. São elas: escolas, prisões, quartéis, clínicas, etc. “O objetivo do ‘poder disciplinar’ consiste em manter ‘as vidas, as atividades, o trabalho, as infelicidades e os prazeres do individuo’, assim como sua saúde física e moral, suas práticas sexuais e sua vida familiar, sob o estrito controle e disciplina, com base no poder dos regimes administrativos, do conhecimento especializado dos profissionais e no conhecimento fornecido pelas ‘disciplinas’ das ciências sociais. Seu objetivo básico consiste em produzir ‘um ser humano que possa ser tratado como um corpo dócil’”. (p.42).

- O quinto descentramento é o impacto do feminismo, como crítica teórica e Movimento Social. “O feminismo faz parte daquele grupo de ‘novos movimentos sociais’, que emergiram durante os anos sessenta, juntamente com as revoltas estudantis, os movimentos juvenis contraculturais e antibelicista, as lutas pelos direitos civis, os movimentos revolucionários do ‘Terceiro Mundo’, os movimentos pela paz e tudo aquilo que está associado com ‘1968’” (p.44). Nesse contexto, esses movimentos, não se sentiam representados pela bipolaridade mundial. Eram contras o Imperialismo e o regime stalinista na União Soviética, suspeitavam de todo tipo de burocracia e eram adeptos ao espontaneísmo da luta política. O feminismo se apresentou como um movimento de descentramento conceitual do sujeito sociológico, ao trazer ao contestar politicamente temas tidos como ‘resolvidos’ pela sociedade da época: A família, sexualidade, cuidado das crianças, a divisão domestica do trabalho, etc. “O feminismo questionou a noção de que os homens e as mulheres eram parte da mesma identidade, a ‘Humanidade’, substituindo-a pela questão da diferença sexual” (p.46).

O terceiro capítulo aborda a questão de como esse ‘sujeito fragmentado’ é colocado em termos de suas identidades culturais. “A identidade cultural particular com a qual estou preocupado é a identidade nacional. O que está acontecendo à identidade cultural na modernidade tardia? Especificamente, como as identidades culturais nacionais estão sendo afetadas ou descoladas pelo processo de globalização?” (p.47). Uma das principais fontes da identidade cultural são as culturas nacionais, onde, de forma metafórica nos referimos como brasileiros, ou uruguaios e mexicanos. “essas identidades não estão literalmente ligadas aos nossos genes” (p.47). Mas pensamos nela como se fosse nossa essência natural. A nacionalidade age como um sistema de representação cultural, onde as pessoas não são apenas cidadãos legais da nação, e sim como participante da ideia da nação tal como representada em sua cultura nacional.

“As culturas nacionais são uma forma distintivamente moderna. A lealdade e a identificação que, numa era Pré Moderna ou em sociedades mais tradicionais, eram dadas a tribo, ao povo, à religião, foram transferidas, gradualmente, nas sociedades ocidentais, à cultura nacional.” (p.49). Essa nova formação de uma cultura nacional serviu para centralizar o pode num estado com instituições gerais, com regras que homogeneizavam seus cidadãos, através de uma língua única, e a fabricação de identidade cultural geral. “Uma cultura nacional é um discurso – um modo de construir sentidos que influencia

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