A ARTICULAÇÃO DA ÉTICA NA PSICANALISE

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Por meio da investigação do conflito neurótico implicando veementemente o conflito moral e ainda, levando em consideração a descoberta de Freud em que o inconsciente é uma “alteridade mais íntima”, Andrade Júnior (2007) cita Lacan e sua investigação a respeito da ética e as “metas morais da psicanálise”.

A repetição do comportamento imposta socialmente, o que é correto, o que é aceito coletivamente ou não, marca o ponto determinante em que Freud menciona que essa repetição para o sujeito vai além do princípio do prazer, é uma negação radical de toda tendência possível à felicidade.

A descoberta freudiana então profere:

Se a ética tem também a função de balizar uma prática, a ética da psicanálise não pode pautar-se por ideais de conduta forjadas nos universais de uma felicidade na Razão. Ao descentrar a ética do plano do ideal, da felicidade encontrada na Razão – o discurso correto –, e recentrá-la no desejo inconsciente, Lacan introduz certa concepção ética, um pensamento singular sobre o papel das virtudes: se para Aristóteles as virtudes são valores que devem ser cultivados para uma vida ética, cujo fim seria a beatitude alicerçada na Razão, a psicanálise, por sua vez, deixa cair por terra qualquer promessa de felicidade encontrada na ordenação dos bens. (Andrade Júnior, 2007, pg. 188)

Dessa forma, a ética para a psicanálise está presente quando permite que o sujeito reconheça o seu desejo, ou seja, reconhecer-se desejante, como pontua Lacan. Essa pulsão libidinal que permeia intensamente o inconsciente é de onde brota os mais profundos conflitos psíquicos e a ética do trabalho analítico consiste, portanto, numa escuta psicanalítica, em direcionar um olhar específico aos desejos, a pulsão. No entanto, a ética é singular, ou seja, para cada analisante existe um determinado desejo a ser desvelado referente ao enigma de sua sexualidade.

Andrade Júnior (2007) finaliza apontando que ao propor uma ética da psicanálise, Lacan sustenta esta prática na escuta do desejo pelo analista. E, ao analisante, lança-lhe o desafio: “agiste conforme o desejo que te habita?” (p. 376). A postura de acolher o sofrimento do analisando, é, portanto uma postura ética, na qual o analista é orientado pela ética do desejo.

No artigo “Ética da psicanálise e modalidade de gozo: considerações sobre o Seminário 7 e o Seminário 20 de Jacques Lacan”, Bispo (2011) aborda a ética da psicanálise porque nela se considera o inconsciente toda sua verdade, é a ética do desejo, propõe ao analista acolher. Portanto, a ética da psicanálise deve ser pautada no desejo, não propondo regras, mas por princípios ela se centra, por resultado, no real, é a sua diferença como ética do desejo.

O desejo é o que no coração mesmo de nossa subjetividade, é o mais essencial ao sujeito. Mas ele é, ao mesmo tempo, alguma coisa que é também o contrário, que ai se opõe como uma resistência, como um paradoxo, como um núcleo rejeitado, com um núcleo refutável. É a partir daí, insisto nisso inúmeras vezes, que uma determinada experiência ética é desenvolvida. (Lacan, 1958-1959/2009a, p. 805, tradução dos autores)

O desejo não conquistado não pode ser transposto, o que, porém, não indica que o sujeito dele desista, na ordem do desejo, nem o analista nem o analisando podem ser excluídos da situação desejante. Em A Interpretação dos Sonhos, 1990, Freud afirma "que só o desejo é capaz de por o aparelho em movimento", contudo, o analista não pode dar ao analisando garantias, a angustia torna-se fonte de criação do sujeito, e por isso a impotência se discernir da impossibilidade de sua verdade.

Os alicerces da ética da psicanálise se encontram no real, o sujeito ético só pode existir se for consciente de si e dos outros e tiver capacidade para controlar os desejos. É muito importante que na sua vida fora da clínica, o analista encontre níveis de compensações para que não venha querer se satisfazer com seus pacientes porque seu desejo não deve alcançar o desejo do analisando.

ÉTICA partindo de seu significado que explora as possibilidades de um conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade.

Isto nos reflete a compreensão do ser humano em interação no grupo/individual/trabalho/profissão, e com isto compreende-se que a partir do momento em que um profissional que exerça a habilidade/compreensão de escuta sobre o/os indivíduos e tem como foco a compreensão de suas questões e promova um alivio mental (por meio de técnicas ou escuta ativa) e isto faça com que o indivíduo se promova nas suas reflexões e questionamentos direcionados a sua individualidade/questões. Levando-se isto em questão o papel do profissional tem que partir de uma ética construtiva, ou seja, uma ética em que o indivíduo que fala possa se sentir assegurado de se permitir a falar e ser ouvido tendo em vista que aquilo que é falado/explorado não será compartilhado de forma com que o mesmo seja exposto.

Segundo Ariés (1991) o surgimento da imprensa/redes sociais proporcionou uma das experiências mais decisivas da modernidade: a difusão da leitura silenciosa. A leitura silenciosa possibilita que se escape ao controle da comunidade e cria um diálogo interno que desenvolve a construção de um ponto de vista próprio.

E isto faz com que o papel do analista (em questão de escuta), seja direcionado a promover o respeito para com seus pacientes na execução do sigilo e na compreensão de seus pacientes no momento da escuta/analise e que este momento não seja exposto (dependendo do caso/assunto) a outras instancias fora do campo analítico.

A questão da ética pode ser entendida como uma questão relacionada ao desejo, que exige satisfação, os conceitos da sexualidade exigem uma posição ética e a falta de ética ocorre quando o analista se afasta da sua posição perante o analisante, interferindo no desejo deste. Por isso, é importante que o analista encontre vários níveis de compensações, suficientes